assisti uma peça em um teatro na bela vista na noite de ontem onde um ator estreava no palco, com a montagem áudio visual que ilustrava as três crônicas contadas durante a peça. bom, eu odiei. mas odiei mesmo. denominada como peça de comédia, achei tudo rodeado de absurdos do texto: 1º porque o ator não faz muita coisa, senão utilizar de palavras de baixo calão o tempo todo. não que seja ruim palavras baixas em uma peça, mas ele só utilizou disso. usou a expressão corporal como artifício para ilustrar as barbaridades que disse. ah, e uma frase que fora repetida dezenas de vezes: "entre a comédia e a tragédia". e não satisfeito, fora dar exemplos: "o ser humano ri de tudo. ri da desgraça alheia. vamos citar o Haiti. aconteceu o terremoto e destruiu tudo. mas tudo já estava destruido. o que há lá? nada". eu entendo humor negro e adoro quando é bem feito. mas, existem algumas coisas que não há graça. eu não vejo graça na questão de que ainda existam milhares de pessoas mortas sobre os escombros daquele país. e, além disso, como a religião vodu é a predominante, a tradição é que não se abandone os mortos. então, existem pessoas que estão ao lado de escombros onde os seus estão. isso é graça?
o começo da peça, o ator A. R. gesticula, expõe um texto completo de ego e apelos desnecessários para que as pessoas aplaudam e dêem gargalhadas. eu não sou macaco de circo e muito menos marionete. não darei risada porque há outros fazendo o que o ator pede. e não sei bem se pede. mas ele acaba usando um tipo de assédio que inibe as pessoas a não expressar sua insatisfação. "vamos lá galera, todo mundo rindo". e lá vão os macacos de circo rirem.
acredito que, as pessoas ali sentadas, esperavam um ser que estivesse a frente de uma grande extrapolação da realidade. da realidade no sentido de você não sai na rua e, no auge do estresse, manda alguém aos findos do corpo. e isso era o que o ator fazia. despejava na platéia conotações verbais desse teor. mas era isso que os mesmos queriam e foi isso o que tiveram. "dêem ao povo os porcos". durante a uma hora e meia de peça, enquanto muitos viam a comédia, eu vi a tragédia entitulada de arte. não sei bem se, depois de tantos anos assistindo peças, comecei a ser mais seletiva em relação à tal. eu não quero engoliar aquilo, mas sim digerir cada fragmento e degustar de cada sabor ou desabor.
como a sétima arte, o teatro me emerge de um mundo cheio de fantasias e possibilidades ímpares. a peça de ontem não me apresentou em nada. somente uma irritabilidade profunda e imensa vontade de sair dali para fumar um cigarro.