textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



quinta-feira, 29 de outubro de 2009

manhã preguiçosa.

acordou atrasada, como todos os dias desse último mês. aliás sua elegância com pontualidade estava deixando a desejar e, ela mesma, não sabia por quê. talvez, porque estivesse cansada de tudo, todos, do mesmo de sempre. quando o relógio despertava de manhã, ela olhava para a tecla de desativar e pedia mais uma hora de sono.

levantou-se da cama e caminhou para o banheiro, onde a água quente certamente a faria acordar aos poucos. abriu os olhos lentamente, sentindo a sensação de cada gota de água que acarinhava seu corpo.

desligou o chuveiro. apanhou a toalha de algodão. secou o corpo. caminhou nua pelo apartamento. ligou o rádio. foi até a cozinha e colocou água para o café no fogo. o celular tocou. caminhou até o meu da sala e viu, pelo visor do aparelho, que era seu chefe. resolveu não atender. voltou para a cozinha. tomou o café e comeu seus biscoitos de chocolate.

voltou para o quarto. abriu uma gaveta. vestiu uma calcinha e um sutiã. no armário, pegou um jeans, uma camisa e um tênis. penteou o cabelo em coque. Sempre achou que era mais charmoso do que qualquer outra coisa.

Pegou sua bolsa. conferiu o que tinha dentro. agenda, canetas, carteira, nécessaire, livro, papel, jaqueta, remédios, caixa de cigarro. tudo certo.
apanhou a chave que estava sobre a mesa.olhou ao redor para conferir se nada estava fora de sua ordem. abriu a porta. abaixou a cabeça. pensou: “odeio ter de trabalhar”. fechou a porta com chaves. saiu para mais um dia que demoraria para passar.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

palavras entaladas.

as palavras ficaram presas, de forma sufocante, na garganta que antes era caminho de uma ânsia por seus beijos. você se foi e só pude dizer “vai com luz nessa caminhada. espero que seja feliz independente de quem esteja ao seu lado”. o café esfriou. o tempo passou. tudo ficou sem cor.
você estava dizendo adeus pela segunda vez. e, pela segunda vez, fiquei com palavras não ditas em minha cabeça. tanta coisa poderia dizer, mas preferi ficar em silêncio, antes que as palavras torturassem minha alma quando fossem ditas para ti, em vão.
queria te dizer para tentarmos, talvez, algo novo, que pudesse dar certo entre nós. algo que fizesse você querer ficar comigo. algo que eu pudesse fazer estando contigo. mas, perto de ti, prendia todo o meu desejo de fazer e ser. acabei me tornando um objeto quase inanimado ao seu lado. você era o que iluminava meu cantinho escuro. com você, eu não precisava de mais nada. eu não queria mais nada. você era o que eu achava que me completava, mas mal me conhecia e mal pude me apresentar para ti.
eu te quis. eu tentei. eu te amei. eu sufoquei sua lembrança dentro do que chamei de amor puro que era para ti, mas fizestes jogo de cartas com os sentimentos que lhe enviava. para tanto, muito esforço não foi preciso. você olhou em meus olhos e, com um sorriso, disse que me queria e tentava me envolver em seus braços, para mais uma vez, insinuar seus desejos sob meu amor.
meu amor, meu amor, meu amor, minha dor.
nesse tempo em que passou, as palavras foram empregadas para outros fins. mudei caminhos, mudei amigos, mudei sentido. mudei o que achava que me lembrava você.
os moveis mudaram de lugar. os cd´s tocaram em outro lugar. as roupas foram dadas. o cabelo foi cortado. o hidratante de corpo foi trocado. tudo foi modificado, para não me lembrar tanto de sua pessoa ou a pessoa que fui ao seu lado.
queria ter lhe dito sobre o bem que me fez a mudança que provocou em minha pessoa, onde eu cresci e alcei novos vôos. queria te contar de tanta coisa que vi e vivi! por deus, como eu quis isso!

mas, hoje, sou inerte a qualquer coisa que venha de ti.

porque as coisas passam, por mais tempo que demore.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

.conversa fiada.

ela entrou no metrô, sentou-se no banco e largou a mochila sobre o colo.
ele entrou no mesmo vagão, sentou-se no mesmo banco que ela e deixou a mochila pesada no chão. virou-se para ela e disse:
- oi.
espantada, ela responde:
- oi.
- dias estranhos esses, né?! que faz sol e chuva quase ao mesmo tempo. a gente nunca sabe o que irá acontecer no final do dia.
- é verdade.
- eu sai de casa esperando que hoje fizesse sol ou um calorzinho pelo menos. aquele tipo de calor que dá vontade de tirar a blusa de manga longa e deixar o vento bater no pescoço. mas parece que o tempo está brincando com a gente...
- eu sei. sai de casa e deixei toda a roupa lavada no varal. mas acho que a chuva vai molhar tudo de novo e terei de lavar...
- roupas brancas ou coloridas?
- roupas brancas.
- ah, então não tem tanto problema. o pior é roupa colorida molhada pingando toda hora. imagina isso?! seria um pinga pinga colorido... rs
- verdade. não havia pensado nisso.
- ...
- ...
- já pensou na possibilidade de se apaixonar por uma pessoa que você nunca viu na vida?
- hã?
- sim. nunca te passou pela cabeça que a sua alma gêmea, o grande amor da sua vida, o pai dos seus filhos pode pegar o mesmo caminho que você todo dia e, por questões bobas, você nunca saberá, porque não puxa papo com ele?
- nunca pensei. mas, o que você quer dizer com isso?
- as pessoas não conversam. e, pelo simples fato de conversar, não que haja algum interesse. esses dias reparei que, quando ando com meu cachorro na rua, as pessoas são mais simpáticas, sorriem mais e até puxam papo. mas só quando estou com meu cachorro. quando estou só, elas mal sabem que estou ali passando.
- triste isso. sentia algo assim no início da faculdade. ou eu me isolava dos outros ou era excluida por ser novata. mas, com o passar do tempo, fui me adaptando àquele ambiente e aquela pessoas. hoje estou bem.
- mas isso aconteceu na faculdade. e no dia-a-dia?
- eu me relaciono com meu fone de ouvido.
- está vendo onde quero chegar? as pessoas deixam de conversar com outras para ficar no seu mundo de fones de ouvidos... uma conversa pode mudar muita coisa!

plim plam, estação sé. desembarque pelo lado esquerdo do trem.

- tchau. um dia a gente se vê.
- vou esperar que sim.
ele desembarca do trem. uma senhora senta ao lado dela.
- tempinho estranho esse, né?!



segunda-feira, 5 de outubro de 2009

medo do mar.

já não sei se observo esse mar com mesmo ânimo de antes.
talvez, as ondas sinuosas de suas águas tenham deixado-me enjoada ou cansada de sentir o gosto salgado de seu líquido.
deveras vezes, tentei jogar meu corpo para banhar nessa imensidão. mas logo, via-me com medo e retornava para meu porto seguro de areias firmes. firmes enquanto as ondas não invadem esse espaço.
ando por meu chão certo com medo de arriscar.
o que o mar tem que envolve tanta gente?
duvido de sua limpidez e de sua graça quando brilha ao sol. parece que tenta seduzir olhos ingênuos enquanto molha os pés de outros com entusiasmo.
tenho medo do mar. tenho medo de me afogar. tenho medo de deixar-me seduzir e esquecer, para o infinito, de minha certeza seca.
existe um trauma enraizado sobre o mar.
em outrora, tendo-me seduzido, larguei meu corpo e bebi do seu líquido salgado que racha o lábio.
quase afoguei-me, quando fiquei cega e só era do mar. quase me perdi...
sem perceber, hoje, molho só as pontas dos pés, para não perder à vida no mar.

fico incerta sobre o momento certo de arriscar.

ps: para os que entendem as entrelinhas.