textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



sexta-feira, 12 de novembro de 2010

podres e envenenados.

nem sempre frutos. por vezes, podres e envenenados. as coisas tomam dimensões maiores ou menores do que podemos pressumir. a feridantiga de Caio F. já não dói mais, mas lateja feito brasa quente ao contato da água. a ansiedade crônica e depressão congênita, que emoldurou a estrutura óssea e as partes do corpo que perambula sem ligação entre os membros.
já não se identifica mais como indivíduo. no presente, não passa de uma carcaça que mantem uma veste de pele sem tendência de moda ou ornância com a paisagem. é algo que destaca, mas pela sua feiura e aspecto que causa estranheza logo de primeira impressão. o que faria ali, caminhando com o sol na face sem movimentar os olhos ou emitir um suspiro profundo que tirasse o pó de dentro do nariz? estaria morto? não. estava vivendo de secreções que brotavam de suas dobras do corpo: cotovelos, punhos, nádegas, joelhos. os olhos brotavam da estrutura ócular feito ovos que eram expelidos pelo orifício da galliformes. estaria morto, de uma certa forma.
não esperava pelo dia. não esperava pela noite. não distinguia a passagem das horas, dos dias, das semanas, meses, anos. com o tempo, se tornará uma peça da paisagem e não causava mais nenhuma sensação aos transeuntes. aos que lhe percebiam, as crianças, os gatos e cachorros e a polícia que, vez ou outra aparecia para verificar se ainda vivia, sua presença era de não-presença. não lhe olhavam, não lhe ouviam, não lhe falavam. esse, talvez, fosse o último estágio antes da putrefação de sua existência. quem sabe, as moscas notariam sua presença.

sábado, 6 de novembro de 2010

então é assim? ...

então é assim? é assim que um relacionamento acaba? quando não há mais boa noite e nem um beijo que sele o final do dia? não há divagações sobre ideias que surgem ou fantasias que brotaram na rua? é assim que um casal percebe quando o amor morre e quando o carnaval deixa de passar por aquela rua? quando os abraços são secos e vazios. quando o dia se torna frio e a noite mais fria que uma temporada no Alasca?
eu imaginei que fosse diferente. que as pessoas dialogassem antes que entrassem no vazio do mundo das sentimentalidades complexas. eu imaginei que iriamos fazer as malas e manteriamos contato por tudo o que passamos. poderiamos manter uma amizade, um bem querer. mas parece que será diferente. parece que faremos as malas quando não houver ninguém em casa. o táxi chegará e haverá aquele último olhar sobre a casa, a mobilia, sobre as lembranças que ali se instalaram durante os anos. a porta fechará e não poderemos mais ouvir ruído algum que entoe nossa antiga paixão. você, eu, nós. será somente eu e ninguém mais.
então é assim que as coisas acabam? quando não há mais beijos de boa noite ou divagações sobre a vida?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Elvis'e'Madona

Com o coração disparado e as pernas bambas, assisti ontem o filme no CineSesc.

Fila grande, pessoas ansiosas, risadas, gargalhadas e silêncio. Isso é o que posso lhe dizer sobre a platéia que esteve presente naquela sessão. Foi um pouco do que vivi também sentada ali, embaixo daquela tela enorme, esperando pelo filme que mais esperei durante esse ano (e juro que não saber se houve outro filme que tenha esperado tanto assim). A montagem das cenas, dos personagens, o enredo da história. A cena onde tudo parece lógico mas, de repente e não mais que de repente, aparece José Wilker como o policial Pachecão e salva o protagonista da bala fatal! E tantas outras cenas onde os personagens poderiam morrer e não morrem. Tanta coisa lógica de quem já assistiu tantos filmes e ficou viciada em desfechos onde tudo poderia ser esperado. Os atores estavam sensacionais, lindos e vividos como personagens reais mesmo. As cenas iniciais onde o Igor Cotrim rebola e anda de salto alto sem dar uma vaciladinha se quer. A forma como a Simone Spoladore senta na cena em que Elis e Madona estão no bar, após o show, foi uma lésbica sentada mesmo. Mas não só isso. Não foi só o modo como sentou, mas o jeito em que jogava o corpo tentando mostrar interesse.

Ganhei surpresas. Ganhei possibilidades de ver que o cinema ainda pode nos surpreender e mostrar cenas inimagináveis.

Adorei. Amei. Glorifiquei.

Parabéns Marcelo Laffitte. Virei tua fã.