textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



sexta-feira, 16 de abril de 2010

agora não Zé.

Zé, eu queria te dizer para não fazer isso agora. eu sei que as coisas estão complicadas e não é só para ti não. está tudo muito conturbado e não há nada que possamos fazer agora, a não ser esperar. você quer largar tudo e deixar as coisas para trás. mas não dá cara. não dá para desaparecer de um dia para o outro e esquecer o que somos e os que estão conosco. não tem como fugir. e seria demais covarde em fazer isso. você não é assim.

não Zé, eu não vou segurar a corda para ti e nem apertar o gatilho. sou seu amigo, mas quero que você persista e continue. e por mais que a maré esteja difícil e o barco esteja velho e furado, não pare de remar, logo mais você vai chegar na praia ou vão te achar. ou você se acha.

porra, lembra de todos os dias em que brincamos quando criança? lembra daquele dia em que a bola quebrou a vidraça do seu Elias e sabia que iria levar uma surra por conta disso? você assumiu a culpa e aguentou firme. e a vez, na escola, em que a diretora perguntou quem havia jogado o apagador da professora fora e eu assumi a bronca? cara, somos isso. um segura a mão do outro. não dá para você querer desistir. o que farei? quem estava ao meu lado quando a Malu entrou na igreja com aquele vestido lindo de noiva e eu quase chorei? você se aproximou e disse: "cara, aguenta. sua vida agora é outra. é ela". não esqueço disso. e quem estará comigo quando meu filho nascer em alguns meses? não dá para ficar sem você.

Zé, me diz o que posso fazer por você. segura minha mão e não olha para baixo. sai desse beiral porque tenho vertigem. e você também tem. se olhar para baixo, nem vai dar tempo de te segurar. desce dai cara. vem para cá e vamos tomar uma cerveja na casa do João. nossa, grande brother nosso, né?! já passou poucas e boas conosco. lembra do dia em que ele transou com a Marina e veio até minha casa para contar para nós? e rimos tanto dele porque minha mãe estava atrás da porta ouvindo. lembra do dia em que fumamos um baseado e ficamos tão chapados, que mal conseguimos voltar para casa. se não fosse a ajuda do João... é isso cara, olha quantas pessoas você tem ao lado e que te amam. não dá para virar e falar que não quer mais saber. não é assim.

Zé, o que aconteceu? ontem você estava tão bem e hoje pensando em morrer? ela te ligou? e o que aconteceu? ah, não me diga que você está pensando em fazer isso só porque ela disse que não quer mais levar esse lance de vocês adiante? poxa cara, quantas mulheres eu já te vi ficar e por quantas você declarou amor e depois dava um pé? não me venha com essa de que ela era a mulher da tua vida. e o que foi a Bene, a Drica, a Nanda, ... , o que todas foram? Não foram o amor da tua vida? ela não é a primeira e muito menos será a última. vamos embora porque de amor ninguém morre. mas não dá mais para ficar aqui te bajulando.

você quer pular? então pula. pula agora porque eu quero ver. eu quero ser aquele que viu o melhor amigo pular do prédio porque a namorada o deixou. vai, pula. estamos no 30º andar e é certeza que do chão você não passa e será fatal. ué, não era você que queria pular? vai, pula.

não, eu não estou duvidando de que você não tem coragem para pular. mas eu nunca tive um amigo que tenha se jogado e quero lembrar disso depois. e contar para os meus filhos que meu melhor amigo se jogou e eu estava lá para ver. será que eles gostarão disso? tenho certeza de que perguntarão: "pai, mas você não foi ajudar ele? não tentou fazê-lo descer?". e o que direi? direi que fui fraco por não fazer meu amigo ver como a vida é maravilhosa ou por não saber como conversar com ele naquela hora? é isso que você quer? então, vá duma vez. pula logo.

agora que você parou com essa frescura, podemos ir tomar uma cerveja?

domingo, 11 de abril de 2010

amor non improbatur*

apego. palavra que evoca a sentimentalidade da posse, do MEU, do que me pertence, do que se manifesta em minhas mãos. o inverso desse sentido de possessão é o desapego, que traduz a liberdade de deixar que as coisas se vão, sem que haja grande problemática ou confronto de interesses diversos.
o término de um relacionamento pode ser de maior tranquilidade para um. mas, quando o outro ainda insiste em algo que já não há mais clamor e permanece em um vínculo visto somente por ele, cria-se um desasossego. pensar no outro, mesmo estando longe, é normal. e diria que até saudável. mas, quando você vive ou depende dessa memória, se torna um entrave para os dias futuros, onde nada será decidido por conta da lembrança enraizada. é complicado chegar a tomar a decisão de que um afeto chegou aos seus dias finais mas, o tempo é o melhor remédio para as dores do coração. precisamos de um tempo para nós. tirar o pó dos móveis, dar um jeito na casa (corpo) e pensar sobre as plantas que irão brotar amanhã. ficar pensando nas folhas que cairam do vaso ontem, não ajudará em nada. ficará somente o amargo gosto na boca. é melhor preparar o vaso para as novas flores que irão nascer.
chorar não irá ajudar em muita coisa. alivia os olhos, mas deixa uma secura na face que causa ardor. mas cada lágrima compõe a maturidade desses sentimentos. os amores passados são amores passados, deixados em uma caixinha no quarto.
afeto. essas são as coisas. as pessoas possuem afetos e se pegam pensando se doam ou não. porque você ama porque ama. e não precisa ser amado de volta. ter esse sentimento completa tudo.
não devemos arriscar dias felizes porque estamos presas ao passado.
*não se desaprova o amor. - Sto Agostinho.

domingo, 4 de abril de 2010

novos ares.

ela se pega fazendo coisas que nunca havia pensado em fazer ou praguejava atitudes muito demodés. agora, vivia envolta em fotos no celular, pasta na caixa de e-mails, papo com os amigos, modos de pensar que achava ser de uma moral que abominava. agora, está imersa em um ciclo de ações que a deixa extasiada com um tipo de felicidade uno.
parecia diferente, aliás, 'essa moça tá diferente'. não queria arriscar tudo o que estava construindo. não deixaria desmoronar como um castelo de peças de Lego da infância já longíqua. estava madura, mais séria, mais comprometida, mas não perdia seu jeito de moleca. se perguntava porque não havia acontecido algo parecido antes. talvez, tudo tivesse seu tempo mesmo. queria gritar ao mundo que isso é possível e que é só se deixar levar pelo enredo do carnaval.
queria dizer aos amores livres que uma hora o amor é livre mesmo. livre de uma demagogia barata, onde o EU é mais forte que o NÓS. não que isso fosse ruim, mas descobriu que existe uma forma de não estar só em meio a multidão. poderia ser mais forte. mais completa.
gritar? descobria que não era preciso. mas deixar em silêncio é inútil. para que serve a sentimentalidade se é guardada do mundo? preferia agora, da forma discreta, onde o ESTAR FELIZ se encontra explícito nos olhos, a janela da alma. deixaria que os pássaros voassem em uma imensidão de sentidos e teria a certeza que tudo estaria bem no final. porque tudo acaba bem, quando tudo está bem.
claro que sabia que o caminho nem sempre é de gramas verdes, mas prepara os pés para caminhar, em que chão for. sempre com os pés no chão, mas com os sentidos livres para sorrir.