textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



quarta-feira, 25 de agosto de 2010

au revoir.

palavra simples. de entendimento direito. sem meias palavras. com desejo de lamber.
Ela estava no auge de seus 25 anos e com toda a alegria estampada na cara. terminara a faculdade e estava de malas prontas para fazer um curso fora do país. ficaria um ano fora. tudo estava pronto: as passagem, as malas, a casa que ficaria, os novos contatos. já tinha em mente um mapa da cidade e dos locais que teria de frequentar. os amigos se despediam aos poucos, com o coração em frangalhos, confessos. ela estava deixando 25 anos de história em um local onde tudo era seu. a casa, a família, os amigos, os amores. ela resolveu deixar as coisas em stand up para viver algo novo. o calendário já mostrava a aproximação dos dias e seu coração estava em completa euforia. tudo estava correndo bem. tudo estava dentro dos planos, dos prazos, dos acasos.
dona de um corpo de 1,70m e uma de pele clara, os cabelos curtos, que mostravam a tatuagem entre a nuca e as costas. não era magra e nem gorda. o corpo era perfeito. suas pernas eram longas e as coxas eram roliças. não ficava horas se arrumando ou maquiando. era dona de uma beleza singular, onde o desejo, a vaidade e a sensualidade se encontravam em uma sintonia perfeita, fazendo fugir qualquer tendência ou similaridades das mulheres. andava com um ritmo calmo, com os braços leves e com um ar encantador.
as últimas semanas em sua cidade fora dedicado aos seus amigos e a família. entre almoços e reuniões com parentes, as noites se rendiam aos encontros com os amigos em danceterias, bares e restaurante. refez toda sua agenda de contatos na expectativa de dizer tchau para todos. ou enviar um e-mail de despedida. abriu seu correio eletrônico e viu um e-mail. era de um caso passado. talvez, o caso que mais a levou ao acaso da vida. Ella era o nome. uma mulher com pouco mais de trinta anos, com a qual Ela ficou envolvida por alguns anos, envolta de uma paixão alucinante. e dizia:
"Ela, minha querida. sei que estás partindo para uma nova vida. um novo ciclo começará em sua vida e sei que ficarei em um passado distante, onde as lembranças não passam de papéis velhos na gaveta. gostaria de me encontrar com você para um abraço de adeus, um último papo desse ano. sei que nosso último encontro já se fora anos atrás, mas peço que tenhamos um último nesse ano. você está indo e quero me desculpar pelas vaidades minhas, onde sei que feri teus sentimentos e a nossa paixão. por favor, me responda."
leu novamente o e-mail sem saber o que fazer. acendeu um cigarro para deixar fluir os pensamentos. afinal. o que Ella queria agora, ao final de tudo o que já se passou? Ela procurara tanto por Ella, por seu amor. tentara de tudo para que o caso não fosse meramente um acaso. mas todas as suas tentativas foram em vão. fora apaixonado por essa mulher e chegou a beirar a loucura pelo seu descaso. Ella era dona de uma vaidade irritante. não era uma vaidade estética, mesmo sendo uma mulher muito bonita. mas era dona de um tesão único. um jeito de fazer o outro se envolver de forma excitante. Ela leu novamente o e-mail e resolveu responder:
"olá Ella. espero que esteja bem. meus dias estão com horários apertados, com os dias próximos da viagem. infelizmente, não poderei lhe encontrar, por ocasião de horários ou mesmo de vontade. se passaram anos desde a última vez que conversamos. acho que não há mais nada para dialogarmos. tudo ficou no passado, junto com as boas lembranças de nosso acaso. espero que fique bem. abraços, Ela".
Ela acendeu outro cigarro e sentiu que, agora, tudo estava perfeito para sua partida.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

se não fosse ela, eu não seria nada.

se não fosse ela, eu não seria nada. porque a conheço há anos. porque ela me conhece como mais ninguém. de todas as casualidades, todas as sentimentalidades, todos os casos e acasos. ela sabe de tudo e mais um pouco, porque não preciso de palavras para expressar o que tenho para falar. ela sabe o que sinto só de olhar para meus olhos. e eu sei o que ela sente também. porque são nossos olhos expressivos quando se encontram e são cúmplices de uma vida que cabe somente à nós.
se não fosse ela, eu não seria nada. porque todos os momentos da alma, todos os motivos dessa vida, todos os enredos desse samba carnavalesco, ela sabe cada ritmo. ela sabe quando sofro, quando amo, quando estou feliz e triste, quando meu dia foi incrível ou ruim. porque ela sabe de todas as confidências, todas as notas miúdas do meu rodapé. ela não julga, não faz cara feia. ela me empresta seus ouvidos e conselhos. ela se faz mais presente do que pode imaginar. ela está aqui, quando não está aqui.
se não fosse ela, eu não seria nada. porque ela dividi comigo a família e os filhos, a comida e o fogão, a risada e a lágrima, os segredos e as fofocas, as roupas e a beleza, a casa e o conforto. a casa dela é minha casa. posso entrar quando quiser, sem bater, sem anunciar. é só dizer "cheguei" e a porta é aberta. e lá está ela, na cozinha, e sempre sorri. nunca me deu um não sem necessidade. sempre me fora olhos, ouvidos, nariz, mãos, ombro, corpo. sempre esteve comigo quando precisei e não precisei.
se não fosse ela, eu não seria nada. ela é mediadora da minha vida. ela fora mediadora de meus conflitos familiares. ela esteve ao meu lado quando todos não me compreenderam, porque ela sabia, sem os outros saberem.
se não fosse ela, eu não seria nada. ela já me viu chorar mil vezes. já me ouviu repetir histórias com a paciência de um leitor de primeiro ouvido. ela sabe o que eu sonho. ela sabe quando ligo. ela sabe como me sinto. e eu sei como ela se sente. eu não preciso pedir permissão para ligar, para visitar, para dormir. ela sempre me acolhe com o calor mais puro do mundo e não liga se eu não ligar, mas eu ligo sempre. mesmo que seja para dizer olá.
se não fosse ela, eu não seria nada. porque é ela minha amiga, minha irmã, minha mãe, minha confidente, minha conselheira e guru. ela é minha vaidade. porque ela sempre será primeira a saber de tudo, porque dividi comigo de uma alegria que não se compra, não se vende, não se doa: se cultiva com amizade, carinho, amor e respeito.
Andréa, mesmo as minhas palavras sempre serão poucas para descrever tudo o que você é para minha pessoa e a construção do que sou. meus dias serão sempre mais felizes por ter-te como amiga e sempre, sempre ao meu lado. me alegro com o seu aniversário e tudo de bom que vem sendo feito até aqui. tua vida não é completa de alegria, mas as pedras no caminho te fizeram forte e fortaleceram nossa amizade. não importa a hora, o dia, o clima, o signo regente, eu sempre estarei aqui para atender qualquer chamado teu. por tudo o que já fizestes para minha pessoa, por tudo o que já aconteceu no decorrer desses anos e por todas as coisas que virão nos findos anos que iremos viver e compartilhar juntas. te amo muito e tenho por ti o mais puro e sincero amor fraterno. quero, para ti, alegrias nas horas certas e incertas. quero estimas de tudo que possa enriquecer essa vida, seja de coragem, de força, de garra. que nada te faça fraquejar e, se os joelhos não suportarem, que minha mão esteja perto para te levantar. que os dias sejam ricos de saúde, amor e carinho. que você nunca desconfie que essa vida foi em vão, porque não foi. porque você faz da minha vida mais completa, mais cheia de vida. porque meus dias com você é sempre dividido com alegria. porque, se não fosse você, eu não seria nada.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

balelas.

tirou o maço de cigarro do bolso, acendeu e deu um longo trago.
- você fuma?
- fumo.
- eu não sabia. nunca te vi fumar.
- talvez, por isso, você não soubesse.
- é, eu já fumei. mas resolvi parar. não quero que meus dentes fiquem amarelos.
- quem sabe, um dia, eu também pare de fumar. mas, pensar nisso agora, seria como pensar em suicídio. prefiro arriscar ficar com os dentes amarelos.
- já tentou fazer ioga?
- não.
- é, eu faço ioga. quando larguei o cigarro, comecei a fazer ioga para acalmar os nervos. não foi fácil. mas consegui.
- isso não seria como aquelas coisas de auto ajuda, né?!
- não.
- mas, se eu largar o cigarro, terei de ter algo em mãos para não as sentir vazias!
- você já tem algo nas mãos.
- tenho? o quê?
- eu.
- ...
***
- eu estava pensando em largar o cigarro quando escrever um livro.
- você quer escrever um livro?
- sim. por quê?
- ah, você tem cara daqueles escritores que fazem a gente se olhar no espelho depois de ler um capítulo.
- eu sempre achei que escritor tinha palavras e não cara.
- ah, deixe de besteira. é sério. você me lembra um pouco da nostálgia de Nelson Rodrigues.
- hum. o cara era bom mesmo. um pouco mais boêmio que eu, diria.
- sim. mas com uma paixão avassaladora daqueles que sentia Vinicius.
- não sabia que você entendia tanto de livros.
- eu já trabalhei numa livraria.
- massa. mas não sabia que você já havia me olhado assim. aliás, sempre achei que você nunca me via.
- eu sempre te vi. você que não me via.
- ...
***
- putz, acabou meu cigarro. preciso ir comprar.
- posso ir com você?
- para que? se você não fuma.
- grosso. só queria te fazer companhia.
- ok, não seja sentimentalista. vamos então.
***
- noite fria, né?
- é.
- quer dar um pulo em casa?
- acho melhor não.
- por que?
- tenho meus grilos de voltar para casa tarde da noite.
- isso não é problema. se ficar tarde e teus grilos aparecerem, você dorme em casa.
- mas tua casa é pequena. não tem espaço na sala.
- e quem disse que você irá dormir na sala?
- ...
- não se esconda com essa timidez. vamos logo.
***
- o apartamento está bem legal. mudou bastante da última vez que vim aqui.
- mudei bastante coisa sim. comprei umas, ganhei outras. estou dando minha personalidade para as paredes.
***
- quer um suco, uma água...
- tem vodka?
- tem.
***
- vamos para o quarto. lá tem tv, pelo menos. a sala ainda irá demorar para ficar pronta. me dediquei mais ao quarto, onde fico a maior parte do tempo quando estou em casa.
- mas a sala assim, vazia, está bem legal.
- é. eu fiquei com espaço para trazer os amigos. isso foi bom.
***
- pode sentar na cama. não tem problema não.
ele observa que existem algumas peças de roupas espalhadas no chão.
- ah, não esquenta com a bagunça. mas é a única forma que acho minhas coisas.
ele repara que existe uma calcinha embaixo do cobertor.
- senta. vou ligar a tv. quer assistir algo?
- não sou muito de ficar na frente da tv.
- entendi. mas vou ligar assim mesmo. pelo menos, ilumina o quarto. mas vou deixar no mudo, tudo bem.
- tudo.
ela se senta ao lado dele. os goles de vodka, assim como convém a tradição russa, já começam a elevar o calor do corpo. ela fala, ri e olha para ele, mas sua atenção está voltada para os lábios e os olhos que brilham cada vez que se abre e fecha. está como num transe alucinado, imaginando estar somente ali, sem que houvesse mais nada para entender ou ser entendido do mundo. ou do seu mundo.
- hei. você está me ouvindo?
- não.
- estou te entendiando?
- não.
- você quer alguma coisa?
- hum, acho que sim.
- o que?
- você.

domingo, 1 de agosto de 2010

essa gente.

essa gente sem dente que vive doente, com a mão calejada de tanto trabalhar.
esse povo sem graça, sem meio nem raça, que vive o dia inteiro a lamentar.
que chega em casa, depois do trabalho e liga a tv para a novela palpitar.
que deixa fiado a conta do mercado e no final do mês as dívidas pagar.