textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



terça-feira, 29 de setembro de 2009

martinis e aspirinas.

acordou com a maior enxaqueca que poderia ter após uma noite em festa. não tinha ideia de quanto havia bebido, só lembrava que sempre estava com um copo na mão e dos risos que era estampado na face.

não era mais uma menina. era uma mulher que morava sozinha e, por si mesma, tinha de se lembrar constantemente de sua solidão e saudade de sua família.

os amores sempre lhes foram furtivos e passageiros. sua beleza inflava o ego dos homens e sua companhia era bem quista, mas ninguém conseguia mexer com seus sentimentos. eram apenas casos e ela fazia questão de não esquecer disto.
ganhava flores, jóias, jantares, viagens. tinha deitado-se com mais homens que poderia se lembrar. noites em companhia de homens jovens e homens velhos, solteiros e casados, estudantes e gente de poder. e não só com homens, mas com mulheres também. era a mulher que todos queriam. mas somente como amante.

levantou da cama. colocou seu penoar sobre o corpo nu. descalça, foi até o banheiro e abriu a torneira de água quente da banheira. olhou no espelho e viu seu reflexo: uma cara amassa, maquiagem borrada e cabelo despenteado, ainda com a prisilia de cabelo.

voltou ao quarto, ligou o toca-discos e colocou um vinil de jazz que comprou na última viagem para NY. entrou no banheiro e mergulhou o corpo na água quente, enquanto acendia um cigarro e cantarolava a música. "In my solitude, you haunt me. With dreadful ease, of days gone by." a espuma começava a cobrir toda a banheira, deixando seu corpo submerso. levantou as pernas para olhar a parte de seu corpo que mais gostava, seus pés, que despertavam desejo quando usava seus saltos altos. - "coisa de fetiche masculino. vai entender".

despertou com o som do telefone, mas preferiu não atender. levantou-se minutos depois, enxugando o corpo com a toalha de algodão que estava pendurada na maçaneta da porta. abriu a porta do armário do banheiro e pegou seu frasco de aspirinas e engoliu três comprimidos amarelos amargos.

andou pela casa só com a toalha no corpo. abriu a janela da sala e, pela varanda, viu que o sol já anunciava que o dia estava pela metade. foi para a cozinha, abriu a geladeira e pegou um pedaço da torta que a empregada havia deixado duas semanas atrás. no bar da sala, preparou um martini. sentou no sofá da sala. o telefone tocou e ela atendeu:

- alô?
- senhorita Norma?
- sim. quem é?
- sou eu, o Bob. você estava tão linda na festa ontem que não resisti e resolvi te ligar. tem planos para o jantar?
- obrigada Bob. não tenho planos mas, e sua mulher?
- minha mulher? ficará em casa com meus filhos enquanto estarei numa reunião, se é que você me entende.
- entendo. fico lisonjeada com o convite, mas terei de dizer não, por um motivo maior. desculpe.

desligou o telefone. tomou seu martini. acendeu um cigarro. deitou no sofá.
"ter perdido esse jantar, certamente, me fez perder um presente. mas, que seja. hoje quero um dia só". cochilou.

sobressaltou do sofá quando ouviu o tocar insistente da campanhia. sentiu uma pontada na cabeça e percebeu que sua enxaqueca não havia passado. caminhou até a porta. olhou pelo olho mágico e viu Bob à sua porta. "o que ele faz aqui? será que não entendeu?". abriu a porta.

- olá Bob. o que devo essa surpresa em minha casa?
- espero que seja boa. vim ver-te. desde ontem, não paro de pensar em seu sorriso, seu jeito, seu cheiro. certamente, não poderia deixar esse dia passar sem dizer um 'oi' para ti.
- agradeço por isso Bob, mas não estou muito disposta à papear hoje. estou com um enxaqueca terrível e preciso tomar uma aspirina para dormir.
- mas você está com um copo de martini nas mãos. está bebendo mesmo com dor de cabeça?
- confesso. martini com aspirini são os melhores remédios para enxaqueca. você me pegou nessa.

com o corpo já na sala, Bob tira uma caixinha de dentro do paletó.

- trouxe para ti. espero que goste.

Norma abre a caixa. há um colar com diamantes e um par de brincos para combinar. não ficou muito surpresa, já que havia ganho outros desses tipo. os homens não tinham muita imaginação quando se trata de presentear uma mulher. acham que diamantes serão o jeito que farão uma mulher ir para a cama com ele. mas, com toda a cara de atriz que tinha, tentou disfarçar.

- ah, que graça. muito obrigada mesmo.
- quando o vi hoje cedo, na vitrine de uma joalheria, sabia que deveria ser seu.
- oh, que amor. o que posso fazer para lhe recompensar?
- ...

Norma sabia o que ele queria. e era o que todos queriam dela.

nesse instante, seu penoar baixou pelo seu corpo e sentiu o arrepio de vento que entrava pela janela aberta da sala.

inconscientemente, agradeceu por estar levemente entorpecida pela mistura de martinis e aspirinas.

sábado, 19 de setembro de 2009

carta de um náufrago à sua amada.

Estou cá, boiando sem querer, em um mar que não tem fim.

Passei por dias de calmaria que nem o vento refrescava o calor intenso que ardia com dias de sol, sem nuvens para dar-me sombra ou sossego.
Ontem, um temporal veio e quase perdi meu barco. Já sem rumo, me segurei em suas bordas, para não perder a única coisa segura que me salva.

Estive pensando na ilha que eu deveria chegar. Mas, perdi minha bússola que me ajudava a localizar o eixo central e já não sei como adivinhar as horas através do sol. Estou assim, boiando em meu barco para lugar e para coisa alguma.
Em uma noite, tive a impressão de ouvir um navio e, quando olhei, era somente o mar que zombava de minha solidão.

Estou me alimentando de peixes crus que consigo pescar com a fita de cetim do seu cabelo, aquela que você me deu no dia em que parti. E tenho bebido de águas tão salgadas que me deixa com enjôos durante todo o dia. Acabo bebendo só no meio da tarde, para não morrer de sede.
Trago comigo, além do barco que me salva e a fita de cetim para pescar, um livro com algumas folhas em branco, na qual escrevo essa; duas fotos, uma de ti, minha amada e outra de minha terra. Ah, que saudade do chão firme, do barulho que faziam os automóveis e da sonoridade das pessoas; e também, uma caneta que já hesita sua tinta.

Não sei se lerás isso. Aliás, não sei porque escrevo isso. Não tenho uma garrafa para colocar a carta dentro, como nos filmes de cinema. Acho que escrevo para me deixar vivo ou manter minhas esperanças sãs.

Estive lembrando das noites em que passamos acordados, vendo o dia raiar ou fazendo amor.
Aqui, só, meu sexo se tornou um órfão abandonado. Não tenho vontade de nada. E,como teria, se nada tenho aqui! Somente sobre-vivo com a lembrança de sua pele, seus seios, seus pêlos e cheiros. Lembro de seus beijos, primeiro tímidos, depois eufóricos.
Penso em ti e dá-me tanta angústia imaginar que estás em terra firme, com um alguém que não sou eu. Quando penso nisso, dá-me vontade de render-me à morte e lançar meu corpo ao sol ou ao mar.

Já cantei para Iemanjá e ela não entoou seu canto para mim. Talvez, a pouca fé que tenho, me dê isso de troco.

Estou aqui, entregue as lembranças, ao mar, ao nada.

De um náufrago à sua amada.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

carta de uma amiga.

ontem, recebi essa carta de uma amiga e gostaria de publicar aqui, já com prévia autorização dela. aliás, pessoa pela qual tenho grande estima e intuo muito luz! abs.

*
A Samira é uma menina que espalha livros e pensamentos.

Eu lembro da Samira num dia que procurava gentes na ESP para espalhar leitura...

Carregava livros nas mãos e a ideia no pensamento era esvaziar um carrinho de mercado cheio até a Praça da República.

A Samira é uma menina que espalha bons pensamentos e bons sentimentos,

Arruma-se e se colore e ainda por cima diz que enxerga cores nas gentes.

Que cor será que ela vê em mim?

Multicor...?

A Samira é uma menina que espalha livros e pensamentos...

Com carinho, da amiga que te admira muito...


Giovana
11/09/09

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Somos todos veados.

Por Fernando Bonassi.

Somos todos esses veados acuados por partidos, pela Igreja e pelo Estado, escondidos em escritórios esquecidos, documentos ensebados e vestiários aquecidos e suados, proliferando a dupla identidade contida nos quereres mais profundos desta vida. Somos esse bando de veados escrachados, inescrupulosamente afetados ou luxuosamente paramentados para dar e para receber.. Somos pobres viciados nas virtudes do prazer! Pois há muito que trocar por todos os lados dos buracos e regaços, que é preciso penetrar para conhecer e desfrutar. Somos os pentelhos desses veados que insistem ousar gozar enquanto uns e outros mais fracos, tolos ou enfeitiçados pela ignorância da sobrevivência, preferem a incoerência de empatar, a violência de reprimir ou a desgraça de estuprar.
Não é sempre gozado de afirmar, mas quer queiram, quer não, somos aqueles meninos, veados do passado, criados como presentes e educados para o futuro por pais e família em casas de muros iguais aos teus, aos meus e aos de todos os outros mortais. São todos muito normais esses pecados, são percalços banais e safados, portanto, humanos demais para que os deuses sensuais recriminem o que de quem quer que seja. Seja de quem e como for, parecemos tão distintamente parecidos em nossas diferenças que somos homossexuais!
Ademais, não foi Cristo que nos ensinou a beijar a face uns dos outros e vermos a beleza do que é próprio de nós mesmos?
Acontece que também somos veados esfolados, como esses típicos veados operários, oprimidos pela mazela e pela miséria do salário, pela mesmice mediocrizante e tantalizante do trabalho, apressadamente aposentados como aidéticos raquíticos em patéticos hospitais sifilíticos, como se a saúde de morféticos e tísicos delicados fosse um grande desperdício para os tímidos dos cofres públicos, que, na verdade, estado blindados, como seus públicos cintos de castidade.
Na privacidade das privadas somos todos úteis, utilizáveis e usuais... Assim, de quatro, virados para os patrões, imobilizados em troncos preparados para as representações dos sádicos ou em sacrifício temperado para as refeições dos ladrões civilizados pelo mercado, somos todos um pouco coitados, escravos aflitos ou profissionais brutalizados por horários e hábitos morais...
Sabemos que somos veados fragilizados e explorados pelos que querem nos foder sem pagar, ou querem pagar o dobro para quem não é como somos e tem menos fantasias do que temos... Mas há de vir o troco, porque somos loucos e revolucionários, sonhadores visionários e incendiários, que queremos ver o circo pegar fogo para que todos os homens livres em direitos tornem-se fraternais com efeito, promovendo orgias e bacanais.
Somos sim esses veados cheios de sacanagem, libertinagem por todos os lados e veadagens por todos os portos, dispostos e ciosos como excitados animais no cio, gatinhos pelados, franguinhos depenados e ursos peludos encoxados, empalados e esprimidos uns nos outros.
Somos esses moleques de recados escusos, veados flagrados em atitudes suspeitas, ocasiões duvidosas, posições esquisitas e situações embaraçosas. Somos todos aqueles que têm cu e não têm medo de levar e de trazer, doa a quem doer...
Mas é preciso não perder de vista que também somos esses veados pervertidos, arrivistas procurados como bandidos e caçados como marginais de ocasião. Nunca é demais lembrar aos seus irmãos, bibas ou outras bichas festivas que, se nessas paradas legais alguns veados sazonais saem de trás do armário, é também nesta terra que o veado se ferra, é protelado e esnobado, quando não, assassinado por fanáticos católicos, stalinistas apavorados, nazistas furtivos e todos os demais cachorros raivosos e acovardados que rondam à esmo com perversões, esquadrões, linchamentos e ameaças.
É duro... Mas aí é que é bom!

*
Fernando Bonassi é roteirista de cinema e TV, dramaturgo e cineasta e escritor de diversas obras.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

um corpo vazio.

havia uma lacuna naquele espaço. talvez, fosse culpa da chuva que deixava nossos dias frios. talvez, fosse o espaço vazio que beirava nossos corpos já tão distantes.

Ele sentou no sofá assim que entrara no apartamento. a janela da sala encontrava-se aberta, com o soar de gemidos que a brisa gélida daquela tarde fazia ecoar pelo apartamento. as persianas dançavam, sem compasso ou algo que lhe marcasse ritmo . Ele olhou em volta e viu que tudo estava no mesmo lugar da manhã, dando sinal que Ela não havia chegado em casa ainda. Ele sentiu falta d´Ela.

não tardou e levantou, sentido banheiro, onde tomaria um banho para esquentar a pele que agora era fria. abriu o chuveiro e encostou o corpo na parede do box, que permitia sentir o bater pulsante do coração. podia ouvir as gotas cairem lentamente no chão, o mesmo barulho que ouvira da chuva. ouviu o ranger do elevador.

a porta abriu. Ela entrou. jogou o corpo molhado no sofá e suspirou pelo cansaço do dia de chuva. ouviu o barulho vindo do banheiro. imagino que Ele já estava em casa. suspirou novamente. levantou do sofá, caminhou até o quarto e tirou a roupa molhada. Ele adentrou o quarto e olhou para aquele corpo que tanto admirava. Ela se virou, na tentativa de fugir dos olhos dele. foi até o banheiro e ligou o chuveiro. enquanto a água corria por seu rosto, Ele entra no banheiro:

- o que você tem?
- não tenho nada. quero só tomar um banho quente.
- e não me diz mais oi? e foge do meu olhar?
- me deixe em paz por agora, é a única coisa que te peço.
- olha, eu sei que o que aconteceu ontem causou um estresse entre nós. mas acho que podemos superar isso.
- podemos conversar depois que eu sair do banho, por favor?

Ele sai e fecha a porta atrás de si. Ela agachou no box. sentiu a água, agora, um pouco mais gelada do que antes. olhou para seus dedos que enrugavam sem ela perceber. isso sempre acontecia, desde que era criança, quando brincava com a mangueira no quintal da vó. pegou seu sabonete de camomila e esfregou o corpo com tanta delicadeza que já não lembrava a última vez que fizera aquilo. tantas coisas já estavam passando dessa forma, tão desapercebido, que ela não lembrava de quando fora a última vez que fizera um tanto de outras coisas. aliás, até lembrava, desde que Ele se tornou obsessivo por seus passos e, desde então, sua vida se tornara algo que era fora de seu controle. o tempo já não era seu. os amigos já não eram seus. os dias já não eram mais vividos. ouve o barulho do rádio que Ele ligara na sala. ouve o cd que Ele lhe dera no primeiro dia em que sairam. isso já não lhe traz mais sensação alguma. Ela já não sente por Ele o que ele pensa sentir.

Ela desliga o chuveiro, enrola a toalha no corpo e vai para o quarto, tendo a certeza de trancar a porta dessa vez. tira do armário um moleton e sua camiseta de Harvard que seu irmão lhe mandou. coloca meias coloridas e chinelo. vai para a cozinha.

- Ela, podemos conversar?
- Ele, não sei se estou muito a fim agora. tive um dia cansativo e essa chuva, para ajudar, me ensopou quando sai do trabalho. estou com fome e com sono. deixa essa conversa para outra hora.
- mas Ela, eu queria te pedir desculpas. eu sei que errei. poxa, queria te pedir perdão pelo que fiz ontem. juro que não queria fazer cena mas, te ver tomando café com outra pessoa me deixou furioso.
- Ele, eu estava tomando café. sabe o que é isso? tomando um café!
- agora eu sei. mas sei lá o que burros na água eu imaginei. te peço desculpas de verdade. você sabe que amo você e sei o quanto chamas atenção por onde passa. tenho ciúmes desses caras que não tem respeito por uma mulher casada!
- sabe quantas vezes isso tem acontecido nesses meses? e quantas mais irá acontecer?
- olha querida, eu não posso jurar nada. mas quero tentar. você é a mulher da minha vida e sem você não sou nada. não quero te perder. me desculpa?
- eu já não sei Ele. são tantas possibilidades de que isso pode acontecer... deixei de sair com meus amigos, minha família reclama da minha ausência, você me liga toda hora no trabalho... como posso viver assim?
- querida...
- querida não. eu já não sei se essa relação faz bem para nós. fomos tão felizes... até você surtar com esse ciúme louco. parece que não somos nada mais. sinto que há um vazio tão grande entre nós.
- mas podemos reverter isso. que tal uma nova lua de mel? sei que você logo entrará de férias e...
- não. já não quero nada vindo de você. aliás, até quero. quero paz. quero ter minha liberdade de ir e vir. quero poder rir sem você ficar olhando para os lados, tentando ver se eu estou flertando com alguém. Ele, fomos um corpo só, em algum momento de nossas vidas. mas, hoje, percebo que somos dois seres dividindo um espaço, uma vida, um corpo vazio.
- me deixa tentar, pelo menos!
- não. o que senti por ti foi tão gostoso. vivemos dias tão profundos, que me perdia naquela sensação que me deixa fora de mim. mas isso passou... não há mais nada aqui!
- me deixa tentar! pelos dias que fomos felizes. pelo que construimos juntos. por tudo o que fiz por ti.
- já basta. isso foi o fim. chega de discussões, de promessas quebradas, de vizinhos vindo ver se está tudo bem. cansei dessa vida... nosso casamento chegou ao fim.
- não...

Ela sai da cozinha e vai para o quarto. abre sua mala e coloca todas as suas roupas, seus cds, livros. apanha um casaco que estava na beirada da cadeira da escrivaninha. vai para a sala e pega tudo o que era seu que estava naquele lugar.

- Ela, onde você vai?
- estou indo para a casa da minha mãe. pode ficar com as coisas do apartamento. que você seja feliz.
- você está indo embora? você não pode ir embora e me deixar aqui!
- eu vou e ponto. vou fazer algo que deveria ter feito a muito tempo, deixar você sozinho com sua loucura.

Ela apanha o gato que estava no canto da sala. arrasta sua mala até o hall e aperta o botão do elevador. Ele está na porta, de cuecas, com o olhar mais sem brilho que já vira. o elevador chega e Ela entra com sua mala e o gato. vê, pela fresta do elevador, a última imagem envelhecida daquele homem, por quem, um dia, teve amor.

- Ele, agora eu vou viver.

Ela sai do prédio e sente os primeiros pingos frescos que não sentira à tanto tempo. na verdade, e somente depois ela perceberia isso, que o que ela sentira, foi a sensação de liberdade de sua vida.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

perturbação.

"numa noite...o meu sonho aproximou-se do meu ouvido e sussurrou palavras perturbadoras"...

me disse que o céu não é azul. que a vida não é um filme. que as pessoas nem sempre são felizes no final. que o mar não é tão infinito quanto eu imaginava. que o beijo não é sempre doce. que o abraço nem sempre é amigo. que a vida passa e a gente nem percebe que o tempo está correndo. que deus nem sempre é bom e, que às vezes, ele nem sempre está onipresente para me ajudar.

comentou que já viu pessoas chorarem por amor, por dor, por solidão. que já viu os cabelos brancos de muitas pessoas crescerem para morrer. que os dias podem ser secos no verão. que as matas estão sendo queimadas para dar lugar a plantação. que os humanos manifestão suas vontades por meio de queimadas. (e cadê o meio ambiente nisso tudo? como o nome já diz, é meio mesmo. daqui a pouco, é extinto ambiente).

mostrou que nada mais é criado. hoje em dia, tudo se limita ao control+c e control+v. que os padres não dão mais só bênçãos e que os pais tratam seus filhos como se fossem amantes.. que o medo virou calamidade e que as pessoas preferem ficar em casa, com medo de bala perdida. que se alguém te parar na rua, é quase certo que será um assalto.

riu quando viu nosso senado. tantos homens barbados, falando mentiras, desviando dinheiro do povo para dar luxo a família. que as construções públicas demoram mais tempo do que 87 vezes a construção do mundo, que fora em 7 dias (?!). que as areias para levantar os prédios são areias da praia. que os "homens enviados por deus" estão cobrando as entradas do céu.

o meu sonho me perturbou durante uma noite. durante as outras seguintes, eu não consegui dormir.