textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



sexta-feira, 28 de setembro de 2012

cecília regina joana maria sá costa mendes - parte 1

cecília regina joana maria sá costa mendes. por favor, não abrevie nenhum nome. quer que eu repita para você conferir!? cecília regina joana maria sá costa mendes. cecília regina joana maria são nomes. minha mãe sempre achou elegante pessoas que tem mais de dois nomes, sabe!? e, além do mais, ela queria prestar uma homenagem para minhas duas avós, materna e paterna. duas santas. cecília joana era o nome de minha avó materna e regina maria o de minha avó paterna. por que não é cecília joana regina maria? mamãe dizia que misturando os nomes, dava mais som de samba. tente você. cecília joana regina maria... não, não dá samba. agora, cecília regina joana maria dá mais samba... como enredo da mangueira. as pessoas acham bonito ter nome de artista de televisão. bonito mesmo é ter nome da família.

viemos para o rio de janeiro há muito tempo, quando o carnaval ainda era de marchinha. assim que descemos do ônibus, mamãe disse: "agora, aqui no rio de janeiro, ganharemos a vida!". ela tinha o sonho de melhorar de vida e, lá no fundo, encontrar uma paixão... sim, ela amava papai. mas, amava-o porque havia casado e tiveram filhos. papai sempre fora um bom homem e amava mamãe. mas, amor de paixão, não era. eram duas pessoas de bem que viviam bem por um bem comum. não, não é exagero o uso de três "bem" em uma frase. nunca os vi brigar. nunca discutiram por nada. final de tarde, sentavam para conversar sobre tudo. eram como dois bons amigos. agora, se eles tinham intimidade... aí, já é outra coisa... então, mamãe veio para o rio de janeiro com a esperança de encontrar uma grande paixão. imaginação de quem ouvia novela pelo rádio e usava a imaginação para compor as cenas.

nos instalamos no bairro de santa tereza, em uma casa simples e muito bonita.  papai trabalhava como professor de literatura e mamãe era costureira... tinha mãos tão sutis capaz de fazer os melhores vestidos da região... com o passar do tempo, ganhou a credibilidade no bairro e os melhores fregueses! até o dia em que costurou um terno branco de linho para um rapaz de porte atlético e cabelo alinhado... mamãe se enamorou no instante em que tirava as medidas do rapaz. nunca a vi se dedicar tanto à costura de uma roupa... no dia em que o rapaz voltou para buscar o terno, ficou para um café. na semana seguinte, voltou com outra encomenda, ficou para o almoço. quando retornou para buscar a nova roupa feita, fez a cama com minha mãe. e nunca mais apareceu. mamãe havia conseguido o que almejava: encontrará uma paixão e descobriu o quanto seu coração poderia doer. não podia ver um terno branco de linho pela rua que estremecia. e dizia que era agouro. papai nunca descobriu. e, a partir desse dia, o amou como nunca. e, engraçado pensar agora, acho que a relação melhorou... talvez, porque mamãe se sentisse culpada e quisesse compensar o que havia feito. e sempre me dizia: "paixão é bom porque esquenta o coração. mas, quando passa, deixa o coração frio. amor é outra coisa, deixa o coração sempre quente".

se eu segui os conselhos de mamãe? quiçá... quem pode avaliar o que é amor e o que é paixão?




sexta-feira, 21 de setembro de 2012

baixos pudores

me engano. eu não estava nua. vestia um jeans surrado e uma camiseta modesta, que escolhi a dedo entre tantas outras. era um sábado à noite, você teria que voltar para sua casa e, de certa forma, odiei o tempo naqueles instantes. odiei o tempo enquanto te amava.

eu estava sentada na beirada da cama, de pernas cruzadas. lembro de esticar o braço até a estante de livros e retirar um com um texto erótico... não, ele não era erótico. ele era sensual. (será que, se o ler novamente para você, encontraremos nossos baixos pudores entre as páginas!?) eu estava sentada na beirada da cama e, você, havia escolhido o chão como o melhor lugar para apreciar aquela cena. lembro de você cruzar os braços sobre meus joelhos e descansar a cabeça sobre eles... 

folheei o livro. encontrei o texto. e, no decorrer das palavras impressas, você abriu o botão e tirou o jeans que eu vestia. e, enquanto eu dizia "eu quero te comer Sofia", você me dedicava cunilingus da forma mais provocativa. "eu quero te comer Sofia. me diga onde e quando". e os sentidos se misturaram entre os gemidos de excitação, o tesão da cena memorável e as palavras do livro.

"eu quero te comer Sofia. me diga onde e quando".

ao som de La Boheme, Charles Aznavour.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

dias e dias sem uma gota de água do céu

não. não era lamento sem intencionalidade alguma. havia um ar seco pairando sobre a cidade acompanhado de monóxido de carbono que tornava o ato de respirar algo quase insuportável. "tô seca", pensou. olhou pela janela e viu algumas nuvens sobre a cidade. "nuvens que não trazem nem sombra e, muito menos, água". dias e dias sem uma gota de água do céu.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

susto matinal

estrondo. susto. miado. cadeira caída. sangue no chão. desespero. cadê a zélia? patinha com sangue. miado. espera o pet abrir. miado. espera a veterinária chegar. miado. não me contenho. choro. veterinária chega. "que surpresa, as duas mães aqui!". desespero que se alivia. não é patinha quebrada. não é hemorragia. apenas a unha quebrada. consulta e curativo. R$60,00. volta para casa. nem dá mais para tirar uma foto... ela já tirou o curativo.