textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



domingo, 28 de fevereiro de 2010

formigas.

leve formigamento no corpo. os olhos pesam conforme se defrontam a luz dessa tela. a sensação extasiante e excitante percorrem meu corpo como se tudo dançasse conforme as placas do ventilador dessa sala. meu corpo, jogado na cadeira verde, me deixam com uma forte respiração e emissão de mais sangue para meu coração. um dos dedos de minha mão esquerda está adormecida e sinto como se houvesse pequenas formigas percorrendo os dedos que, por osmose, se unem na dormência.
os pensamentos caminham em sentido panótipo em conjunção com a vontade de fazer amor.

evoé, evoé.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

respostas que não tenho.

queria ter as respostas para as dúvidas que brotam em meus pensamentos. as respostas que facilitariam não somente minha vida, mas a sua também. não quero fazer com que minhas caraminholas, por osmose, tomem conta de outra cabeça, que não a minha. as dúvidas são minhas, e somente minhas. não irei prolongas dolores ou questões que possam infelicitar ambas as partes. mas quero manter um laço fraterno antes que tudo se torne ruína. minha ruína, e somente.
o tempo passou e me agregou muitas coisas sim, isso aconteceu. mas sei que chegamos em um estágio de tudo onde decidir sobre o futuro era o que guiaria o restante de nossas caminhada paralela. mas, senti por tantas vezes que, de outras pessoas, os comentários surgiam e que havia algo que pairava sobre nossas querências que isso me desgastou muito. isso, achei a palavra para definir os meus pensamentos: desgaste. não desgaste do amor, mas desgaste do todo que era envolto em nós. não foi erro seu ou meu, mas de ambas as partes, onde deixamos que a vida de outrem se tornassem parte da nossa também.
o sexo era pensado e feito de forma silenciosa, para que o quarto ao lado não fosse incomodado. o espaço da casa foi reduzido ao quarto para que o outro não se sentisse mal nisso. era um caminho já memorizado: porta de entrada, passada rápida pela sala e permanência no quarto. e lá ficavamos com a porta fechada, tentando não ser interefido abruptamente por outras pessoas. nossa vida paralela se tornou paralela com o bem estar de outros, e esquecemos de nós.
o nós que deixou de encontros esporádicos no final da tarde para um café. parece que sempre havia algo que interrompia nossos planos. era um emaranhado de conspirações secretas e despercebidas que afastaram e nos deixaram distante.
você sente frio com o distanciamento e eu, por diversas vezes, me senti só no meio de todos. mas nunca pude falar sobre isso. porque eram os seus e não os meus.
agora estamos no ponto de decisão entre a exaustão ou mais uma tentativa de melhoria.
são respostas que não tenho.
teremos de descobrir em par. ou ímpar.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

vai chover? II

e a dúvida era certa.

choveu.

vai chover?

mal abriu os olhos e fora obrigada a colocar seu óculos escuro. o sol brilhava com tamanha intensidade que o desejo de voltar para a cama deixava de ser verdade pelo calor que seu corpo sentia. precisava de água fresca. tomou um banho frio e deixou cada gota dágua tomar posse de sua pele. a toalha secou o frescor e deixou uma brecha para o calor se instalar, novamente, em seu corpo.
quando embarcou o ônibus que a levaria para o trabalho, se sentou no canto de banco único e, com o óculos em prontidão, fechou os olhos, já que seu poros estavam abertos. o suor era visível em sua testa e algumas gotas escorriam, deixando uma trilha para as demais. a boca salivava, mas não sabia se era de fome ou de sede. o que mais poderia acontecer? um calor desses numa cidade caótica como essa?

será que vai chover?

antes.

"Por enquanto vou inventando a tua presença".

Clarice Lispector.


você se foi e não pude fazer menção para te deter. talvez, eu não tivesse gosto por isso. talvez, te ver indo embora, sem saber quando poderia te rever, me fez sentir um gosto adocicado na boca da vida. sendo acometida, em seguida, por um soco no estômago, provocando um enjôo que me fez pensar se era dor da partida ou vingança do destino.
sua sombra se foi quando a porta do apartamento bateu e permaneci na cama com uma incerteza absurda sobre o que deveria fazer. deveria ter tentado mais ou me apaixonado mais por ti? o que você realmente queria, o que esperava de minha pessoa? lágrimas, desesperos, ameaças de suicídio? você não irei gostar. no final das contas, nunca sei se realmente te agradei ou se fora somente uma passagem branda em sua vida. você nunca demonstrou mais que sentimentalidades superficiais e desejos pelo sexo. talvez, isso não fosse amor. fosse só uma paixão que, pelo sentido, é passageira e deliciosa.
onde você estava no dia em que te quis amor? onde eu estava? me perdi tantas vezes por outros olhos nesses caminhos que já não sei quando tudo acabou. teria sido antes de dizer "eu te amo" ou foi exatamente quando lhe disse isso da boca para fora?
me apagar da memória ou esquecer o que vivemos seria idiotice. tente se lembrar das vezes em que te fiz rir. ou dos dias em que te fiz orgasmar. tente pensar nos poemas que fiz quando me encontrava em dias tão apaixonados que poderia ser a reencarnação perfeita de Shakespeare. mas foram tão poucos esses dias. fomos felizes, eu sei disso e não me esqueço. mas não consigo lembrar porque nos encontramos mais uma vez.
do que você sentiu falta na última noite em que nos deitamos em nossa cama e fizemos amor brevemente? nunca me disses do que gostava. descobri cada milímetro do seu corpo só. aprendi os lugares onde te fazia chorar de tanto rir e fazer o som dessa risada ecoar por todos os cantos do apartamento.
me lembro do dia em que você cantava no banheiro e pudemos ouvir o apartamento vizinho aplaudir pela janela. depois daquele dia, você se tornou a Rosa Ponselle do prédio! e toda vez em que entravamos no edifício, o porteiro era o primeiro a rir conosco.

prazer em ter te conhecido.

foi bom enquanto durou, eu sei.

agora, vou recomeçar sem você.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

pretérito imperfeito

meu bem, já estou atrasada. como todos os dias, os dias passados e, possivelmente os futuros, meu relógio se tornou o maior inimigo do meu tempo. perco os dias, já que as folhas do calendário estão soltas no chão largadas pela ventania que abriu a janela e tirou as coisas de seu lugar. as folhas do vaso de flores estão amareladas sobre a mesa. os porta-retratos estão virados, sem imagem alguma. tudo o que era, de certo meu, ficou sem lugar, sem tempo, sem espaço.
os ponteiros permanecem estáticos mesmo ao som do velho tic tac que não cessa, apesar da pressa. tudo parece ter saido da ordem. tudo parece estar em um ritmo atrasado ou anterior ao que deveria estar. as xícaras estão com um borrão de café do dia de ontem. os pratos ainda exibem o resto da comida não provada, deixada para os cães.
eu estou atrasada com as cartas que deveria enviar para minha mãe. estou com as contas pendentes por não lembrar que dia exato é ou quando devo quitá-las. as roupas estão no armário com cheiro de mofo pelo tempo que estão guardadas sem uso. os livros adquiriram uma camada espessa e pegajosa que confina meus dedos a não tocá-las. fiquei sem o prazer da leitura, da oportunidade de imaginação.
a boca permanece seca, mas existe uma obstrução nasal que me abstém da vontade de beber dágua que sai dos encanamentos da casa. a geladeira está com um odor fétido que inibe minha fome de se manifestar ou resguardar as forças que ainda insistem em ser vitais. meu corpo apresenta uma pele amarelada e pequenas manchas roxas que fogem da luz solar e da captação de energia natural. os olhos estão fundos, os lábios amargos, e existe uma secreção nasal que é constante e opaca. as unhas estão fracas e quebradiças.
o tempo do pretérito imperfeito me fez perder a ordem natural da vida.

*foto "Relógios Moles" (1931), Salvador Dalí.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

na marquise da folia.

o bloco passa. passa gente de toda gente. passa homem e mulher. passa mulher e homem. criança e idoso também pode passar. na marquise da folia passa todos que tem vida. passa até aqueles que querem o fim depois da marquise.

a colombina anda por meio do samba em busca do seu arlequim. atrás de si, vem sempre o pierrot, que procura em seu amor a mais breve esperança de viver essa doce ilusão carnavalesca. colombina caminha pela euforia dos transeuntes com o olhar triste. o olhar que ninguém percebe. seus olhos brilham com as firulas, mas são as águas salinas de seus olhos que refletem o brilho das luzes. as pessoas dançam, cantam e sorriem. e ela responde com seu sorriso vermelho dos lábios, mas anda perdida naquela maré de gente que se perde pelas ruas da cidade. pierrot, com todo seu amor dentro de sua fantasia, procura pelo amor naquelas ruas, naquelas pessoas perdidas e que logo esqueceram dos dias de folia. arlequim, que gosta da diversão e da alegria, deixa para outros dias a atenção que cederia para sua querida colombina.
colombina que ama arlequim e que é amada por pierrot, dono de um amor que não é respondido. seria esse o enredo de todo carnaval? seria esse o enredo de muitos foliões que deixam nas ruas do carnaval qualquer lembrança passada para ser levada com o som dos atabaques?

domingo, 14 de fevereiro de 2010

minha metade masculina.

uma das lendas que relata sobre a criação das civilizações remota aos deuses gregos. diz-se que Vênus e Eros criaram uma civilização repleta de amor e harmonia. os seres possuiam quatro braços, quatro pernas, duas cabeças e dois troncos distintos, sendo um masculino e outro feminino. essa civilização causara inveja nos demais deuses que insistiram que Zeus enviasse uma forte tempestade, repleta de relâmpagos e trovões. Vênus e Eros até tentaram lutar, mas fora uma batalha de dois dias e duas noite e o resultado disso fora que os raios e relâmpagos, ao acertarem os seres, os separam em dois, fazendo cada um possuir duas pernas, dois braços, uma cabeça e um tronco. assim, desde essa batalha, cada ser vaga pela imensidão a procura de sua outra metade, aquela que o equilibra.
***
nunca escrevi sobre alguém que me completa e, sendo uma relação sem sexo, meu amor é mais puro, repleto de sentimentalidades mil e de quereres mais belos para a vida.
conheço o Ricardo F., Rick ou Ricardinho há 8 anos. ambos estavam com 15 anos e começariamos o 1° colegial juntos. lembro até hoje como nos conhecemos. ele sentava na primeira cadeira da fila próxima à porta e estava com uma cifra na mão de uma letra do legião urbana. lembro de olhar para ele e dizer: "você toca violão?", "toco mais baixo", "legal, eu toco violão". e assim começamos. e como diria vinicius de moraes, "amigos não se faz, se reconhece", nos reconhecemos naquele dia.
e não é que nunca tivemos uma briga. já passamos por uma fase de não nos falarmos. era passar do lado e nem falar oi. durou alguns meses. e passou. e retomamos e crescemos e amadurecemos e nos fortalecemos.
o Rick sabe tanto sobre minha pessoa quanto eu mesma. sabe quais são meus sonhos, meus desejos, minhas paixões. ele sabe porque escrevo, por quem sinto falta, por quem já chorei e tantas vezes ele já secou minhas lágrimas. ele sabe sobre minhas músicas, minhas poesias, minhas musas. sabe tanto sobre minha vida como sei sobre a dele.
eu sabia que poderia encontrá-lo em casa no domingo a tarde, dormindo à mais de 12 horas. eu sabia que, em vez de jantar, ele tomaria o café da tarde às 21h. e ficaria fazendo palhaçadas para a mãe querendo enlouquecê-la. e conseguia. eu o vi em meus braços, como uma mãe acolhendo a um filho, durante uma sessão espiritual e lá percebi qual o nosso lado. ele não consegue matar uma barata. ele tem um buraco no meio do tórax que daria para colocara água. ele tem uma calça de pijama listrada marrom e branco que dorme sem camisa. e como ele precisa tomar sol!
quando ele comprou o carro, sua mãe e eu ficamos com o coração apertado, imaginando que agora as namoradinhas iriam brotar feito gafanhoto em plantação. ele criou responsabilidades... é o menino que trabalha e pensa nas contas de casa, no cuidado com a irmã, em buscar o pai no trabalho, em estar com os amigos. e, diferente dos demais, e não menos amigos, eu sabia quando e onde encontrá-lo. eu sabia que poderia chegar em sua casa, a hora que fosse, e deitar com ele na cama para conversar, chorar ou falar bobagens.
hoje descobri que não sei nada mais. não sei quando posso encontrá-lo nem como. nem quando o verei novamente.
meu abraço de aniversário ainda não veio. mas a saudades ainda é latente.
te amo e te amarei sempre, porque você é minha metade masculina.
Sam.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

beijo sela.

beijo selador.
sela carta, sela tapa.
cela de prisão?
não, sela de bitoca, de carinho.
cela de cavalo?
não, sela de muita afeição.
quem dá o beijo sela?
aquele que te espera.
e quem não espera?
fica na rua, com a cara na tranca.
sem grades de cela, sem toque da sela.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

constipação.

o dia nem começara e já perguntava que horas voltaria para a cama. lentamente e, ainda com os olhos fechados, ergueu o corpo da cama e caminhou até o banheiro, enganando-se de quem um banho iria melhorar aquele mal estar. abriu a válvula do chuveiro e ficou parada durante alguns minutos sentindo a água morna caindo sobre a pele de suas costas. por mais que fizesse força, os olhos só abriram dez minutos depois de estar ali, apoiando a cabeça na parede.

tudo estava em dolor: cabeça, olhos, braços, pernas,... resmungou se deveria voltar para o aconchego de sua cama, mas pensou no trabalho e que, realmente, deveria ir trabalhar. olhou no espelho e viu que os olhos estavam tão fundos quanto um urso panda ou estavam no mesmo lugar que sua saúde agora estava, no fundo de algum lugar. talvez, no epicentro de alguma chuva. ah, a chuva de ontem. lembrou que o mal estar que sentia agora era somente resultado da sua corajosa caminhada de encontro a chuva. aliás, enquanto caminhava, se sentia com tanta alegria, que esqueceu completamente o resultado daquela ação. e, haja energia para superar essa reação corpórea.


aiaiai... atchim!