textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



domingo, 27 de fevereiro de 2011

sonhei com você.

sonhei com você. mentira. eu não sonhei com você. hoje não. mas sempre acho essa frase boa para puxar papo. não sonhei com você essa noite, mas já sonhei outras vezes, em outras noites... ou durante o dia mesmo. e são tantas cenas nos sonhos, que não faltaria roteiro para um filme. um filme sobre meus sonhos com você. ou faríamos uma sessão de terapia sobre nossos sonhos. o que eles seriam? desejos? dejà vú´s?
nos sonhos você vem sorrindo, como quem não quer nada. como quem procura algo. com uma presença que irradia feromônios que envolvem meus sentidos. é esse cheiro que sua pele emana às minhas narinhas que, discretamente, embalam o desejo de meu corpo ao seu gingado. e quando percebe meu corpo envolvido, diz que não sabe o que querer e sai da roda como quem foge do fogo.
eu quero e você quer (ou demonstra isso). o espaço está delimitado para a troca. não depende mais do que quero ou do que você quer. vai acontecer. e você sabe disso. e foge disso. mas não há como fugir. nos tornamos viciados nessa situação que fugir, seria como dilacer algo de nosso cotidiano.
sonhei com você. o quê? bom, já te falei isso e repito: prefiro não contar meus sonhos... vai que sejam dejà vú´s?

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

c.f.a.

"Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-maiseu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias e sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida."
*
"Podia falar de quanto te vi pela primeira vez sem jeito, de repente, te vi assim, como se não fosse ver nunca mais. e seria bom que eu não tivesse visto nunca mais. porque de repente vi outra vez, e outra, outra, e quando eu te via, nascia um jardim de flores em minha face..."
*
Caio Fernando Abreu (12set1948 - 25fev1996).

Domitila.

era Domitila. digna de respeito e desejo. mulher que atraia pelo olhar, pela fala mansa, pelo jeito de saudar e despedir. era Domitila que adentrava os pensamentos de forma involuntária, mas tão presente como a sensação que o vento trazia. as pernas amoleciam quando se aproximava e sabia quando se aproximava. os olhos eram rápidos entre o perceber e o fingir. aguardava que Domitila se aproximasse de forma terna, como quem não quer nada, mas quer algo que apenas não diz. ou está ali para inflamar o ego (seu ou dela) com a certeza de que o dia fora ganho. inspirava-lhe suspiros, que logo era abafado na tentativa de apagar qualquer evidência.
porém, tal como a instabilidade de um dia de sol e chuva, Domitila oscilava entre o desejo e a negação do desejo. como se o querer lhe dilacerasse de forma dolorosa ou lhe fosse imoral e insuportável. sofria de um mal: o medo. medo de agir e se arrepender. medo de não fazer jus ao desejo. medo de não saber guardar segredo. medo de se dar.
de tal forma, entre as oscilações vividas por Domitila, a paixão e o desejo foram sendo deixados de lado até o dia em que se tornaram tão de mal gosto quanto um café frio pela espera de alguém que o sorvesse.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

devaneios viciantes.

estava sentada em uma velha cadeira de madeira ouvindo alguém falar sobre algo que já se dispersara. seu pensamento vagava ao longe, perdido entre cabelos negros que se enrolavam de maneira estonteante. era ele. culpado de seus devaneios e pela boca seca que nem água lhe saciava. e seus braços gelados que sentia na lembrança as passadas de mãos, forma de contato singelo e, ao mesmo tempo, próximo. dono de olhos que lhe diziam mais que a própria fala. fala que sempre era interrompida por terceiros de sua popularidade. era um querer, e bem querer, de estar à sós. mas havia o medo (da parte dela ou dele) que esse momento fosse o auge ou o colapso.
o que havia entre eles, mesmo que não se aproximassem ao ponto de sentirem o ofegar da respiração ao pé do ouvido, era vicioso e entorpecente. melhor que um sorriso sem graça dado aos montes, era o sorriso que estampavam quando se olhavam. e se queriam (?!) ao ponto de terem medo do que viria no dia seguinte.
relutavam no desejo dessa forma. através de um contato diário que, mesmo longe, estava perto. e tão perto, que o medo de estar longe era torturante.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

mapa astral.

"existe aquário em meu mapa astral". ela olhou para os olhos de sua interlocutora.
"onde?". e recebeu um sorriso aberto como resposta. uma resposta que poderia ter sido substituida por palavras. mas que fora suspensa no ar ou em algum papel de mapa astral guardado em alguma gaveta de documentos. "existe você em meu destino". era o que aqueles olhos diziam mas sem emitar nenhuma sonoridade.
por alguma brincadeira da vida, os caminhos estavam já traçados para se cruzarem, mesmo que fossem repentinos, repetidos e dilaceradores. nunca consultara mapa astral, somente consultas on-line que achava na internet em tempos vagos. nunca ouviu falar de peixes em seu mapa astral. talvez, se houvesse, estaria na linha do inferno, da loucura ou da incerteza.
"existe uma linha quase imperceptível que diz que morri no dia em que te conheci".

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

aos meus anos que vingam o destino.

é engraçado pensar como os anos são de uma fragilidade tal como uma simples folha que, com um vento mais forte, se desprende do galho. como os anos passam tal como um grão é levado de volta para o mar quando a onda bate. como as folhas dos calendários são despregados com uma desatenção tão ríspida que somente notamos no último dia do ano.
a vida é feita de ações, fatos, atos e reflexões. não podemos deixar de refletir sobre as instabilidades e estabilidades que a vida proporciona a cada novo dia e a cada novo pensamento. são questões ímpares que acometem nossos pensamentos no calor do momento ou na tristeza da lembrança. as coisas vem. as coisas vão. e não como objetos de desejo ou bibelôs. são proporções dimensionadas por um destino (talvez) já traçado em algum livro de histórias de vida. pode-se mudar isso tal como mudamos o gosto por um novo filme?
temos nossas atenções voltadas para o universo que se centraliza em nosso umbigo. e dele, surgem outros universos que possuem outros universos... os universos de pessoas que nos rodeiam e nos mostram como a vida vale a pena. por mais que tenhamos dias onde o vento sopra mais forte e apaga nossos vestígios. todos esses universos são detentores de valores únicos e somente sabe-se desse valor aqueles que lhe pertencem ou quando se perde. não há moeda financeira, social e mental que pague. somente a moeda afetiva sabe a dimensão e preciosidade que cada universo tem.
não se pode comprar em lojas de conveniências, de atacado ou bazares. são dadas de graça pelas ruas, calçadas, caminhadas, pelas graças de se ter graça. nota-se quando há um universo precioso quando este lhe sorri. e desse sorriso, o trocou ou o sinal de interesse, é remetido por outro sorriso, que se alimenta de sorrisos e só assim.
os meus anos me trazem melancolia de uma vida vivida, apesar dos poucos anos que se concretiza. são sentimentos melancólicos que extirpam minha fragilidade e me deixa em retalhos, tal como um copo descartável.
que meus anos vinguem desfecho brutal que o destino traz.
aos meus anos de vida. e somente à eles.