textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

insólitos.

minhas sentimentalidades são papéis insólitos jogados no meio fio de uma rua suja e escura. são largadas às esquinas da vida, sem marcas de dna, de saliva, de queimaduras de água viva. estão em todos os cantos da minha casa, em todas as paredes do meu quarto, do seu quarto, do quarto de outrem. os meus amores são inspirações e expirações que entram pelas vias nasais e saem pela cavidade bocal, para ânimo de meus pulmões. as tentativas de mobilidade são fugas rápidas, escapatórias imaginárias do meu coração que pulsa desenfreado na queritude de todas as possibilidades. sem ressalvas. sem platéia. sem expectadores.
meus não amores são impulsos para meu ego. meu calendário está apagado. meu relógio atrasado. meus dias não contados. meus planos mudam conforme o humor e meus cinco minutos de surto de instabilidade.
todos as cartas escritas são palavras dadas de graça, sem salvação do indíviduo ou do conjunto denominado intenção. todas as amarras estão com nós frouxos, para não segurar ou tentar aprisionar o sentimento de possessão. todas as loucuras são pretensões de um ser que segue o percurso das águas com a mesma intenção das trovoadas. água que vai, que vem. que molha o rosto, os fios de cabelo, os lábios. que seca com o vento, mas deixa as rachaduras estáveis. mas que somem com a língua que revive o prazer do contato.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O Manifesto dos Pensamentos Espianos

Um espectro ronda a Esp - o espectro do novo prédio da FESP. Todos os pensamentos se unem para saudar o assassinato do Abacateiro Rei: o Casarão que, agora pálido, olha para suas paredes já sem a sombra dos galhos; o Adão que sem sua sala, nosso reduto de encontros e terapias, cria sua praça no saguão do velho prédio; os amigos que se dividem em andares e filas de espera por um micro elevador.

Que aluno de boa ação não fora acusado de baderneiro e anarquista pelo partido de oposição?

Que aluno de más intenções, por sua vez, não lançara abraços e beijos para incitar novos militantes para o partidão?

Conclusões decorrem desses fatos:

Já é reconhecido que não existe espaços para os alunos confraternizarem e, sendo o bar o único espaço para as conversas furtivas, não se pode reclamar do alcoolismo dos sociólogos!

Com os espaços enlameados pela construção, os três porquinhos da Sociologia, Marx, Durkheim e Weber se escondem do sotão do Casarão, com medo das mensalidades da faculdade!

Viveiro de Castro, já sem emprego e sem índios para estudar, arranjara um emprego como vigia noturno do Casarão.

Lévi-Strauss, um dos maiores apaixonados por essa terra, com a notícia do assassinato do Abacateiro Rei e sua frágil saúde, embarcou dessa para a melhor, no famoso Expresso 2222.

Darcy Ribeiro, que tentou tanto entender o povo brasileiro, foi para as terras do Xingu e lá criou uma cerveja mais morena, como a cor das terras dessa bandeira.

Com todas as celebridades que já passaram pelo corredor da Esp e por aquelas que ilustram nossos ouvidos com sua presente inusitada, recebemos os novos alunos, os chamados "bixos" para o ano letivo de 2010.

Que esse seje um caminho para outros caminhos.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

pessoas entrelaçadas.

odiava ficar à mercê da atenção de seu amado. sabia que ser amante, privava-a de certas coisas que só a mulher poderia ter. mulher? e quem poderia definir melhor esse papel? quem era a mulher de sua vida, de verdade? aquela que lhe lavava as roupas, limpava a casa e parira seus filhos ou aquela que era motivo de suas fugas noturnas e diurnas? aquela por quem se deleitava em lençóis brancos e vermelhos, com odores, suor, saliva, tesão? poderia passar noites à sua espera mas, com o tempo, percebera que, ao esperar por ele, teria somente migalhas para sobreviver àquela relação sexual pouco afetiva. seria eternamente sua amante e só. ele nunca largaria mulher para viver com ela.
poderia sobreviver dessa forma, afinal, ele não lhe era o único amante. os outros lhe enchiam de agrados e qualquer coisa que, ao estalar dos dedos, se ela queria, ela tinha. sua sexualidade sempre fora algo ativo e vivo em sua vida. não só no quesito cama, mas sempre exalou uma sensualidade nos lugares onde esteve, fossem professores, amigos, chefes,... nunca lhe teve o que reclamar. sempre era rodeada de agrados e bajulações. homens falavam de sua beleza como se ela mesmo não soubesse da pessoa que era. tolos, sempre lhe serviam em mãos.
talvez, a falta de tempo que aquele amante lhe oferecia, a deixava em nervos. o queria e o que queria era quando queria. não gostava de esperar que ele aparecesse quando quisesse. era uma troca. deveria ser quando ela quisesse também. mas não o era.

- alô?
- oi. podemos nos encontrar hoje?
- hoje acredito que seja complicado. talvez na quarta-feira.
isso era em dois dias. mas sabia como reverter a situação.
- então tudo bem. nos vemos na quarta. verei o que fazer hoje. beijos. tchau.
- não! não desligue. olha, hoje tem uma festa de família. tentarei sair daqui às 22h30. devo chegar em sua casa em 15 minutos.
- hum, reunião de família? acho melhor você ficar. não tem problema mesmo. podemos nos ver outro dia.
- não. eu irei te ver. me espere.
- esperarei.

sabia que ele odiava imaginar que, em sua ausência, outro homem estaria em sua cama. o que poderia fazer? ceder as chantagens emocionais sexuais de sua amante ou permanecer em uma vida estável, ao lado de uma mulher que mal se lembrava a última vez que fez amor com ela? aguentava a situação porque não poderia sobreviver sem o tesão de sua amante mas, ao mesmo tempo, sem o conforto e a segurança do seu lar. a amante lhe era o ápice do prazer, as fugas de adrenalinas extasiantes, era sua saída daquele vida de burguês classe média. poderia viver com aquela vida dupla.
no final da noite, olhou para sua mulher e disse:

- querida, terei de sair. um dos meus clientes se metera novamente em apuros. passarei a noite na delegacia.
- mas estamos em uma reunião de família! como pode largar todos aqui? terei de fazer o papel da anfitriã sozinha?
- amor, se casou com um advogado, esqueceu? eles estão acostumados com isso e você também. e sei que não há melhor pessoa no mundo para manter a ordem do que você.

ele saiu. ela sabia que ele iria encontrar-se com a amante. sabia quem ela era. já investigara sobre aquela mulher. era mais jovem que ela e tinha o corpo que tivera antes de ter os filhos. ficava angustiada quando ele saia para encontrar-se com ela, sempre sabia quando era. e, ao tempo em que ele não a procurava mais, tornava quebradiço àquele amor que lhe dedicara tanto tempo. pensou no divórcio centenas de vezes mas, não queria ser uma mulher separada com três filhos. isso não. tinha largado a faculdade de história para casar e construir aquele lar. não poderia deixar tudo para as mãos da outra. preferia aguentar aquela situação de mulher traída do que mulher separada.

domingo, 17 de janeiro de 2010

uma e outras.

"Tomas dizia consigo mesmo: deitar-se com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não apenas diferentes mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma multidão inumerável de mulheres, mas pelo desejo do sono compartilhado) esse desejo diz respeito a uma só mulher". KUNDERA, Milan. "A insustentável leveza do ser".

***

um livro que, certamente, devemos ler nessa vida.

domingo, 10 de janeiro de 2010

mentiras sinceras.

por que de tantas perguntas?
você me pergunta se há estrelas no céu e te digo que há, mas algumas estão sem força ou já desapareceram nessa imensidão. o que vemos delas, é somente uma pequena margem do que já fora. assim como algumas pessoas que brilham, mas já sem força, mostram somente a superfície.
por qual motivo deveria expor todas as minhas sentimentalidades? expor fatos, atos, atores? isso deixaria passar o conteúdo dos indíviduos. o que tornam as pessoas interessantes? o segredo. tudo no mundo é secreto. nem tudo deve ser dito, demonstrado. por que não deixar nossos infinitos particulares na imensidão de nosso ser, e somente deste?
você pede que eu te explique sobre o mundo em que vivemos, sobre as fórmulas que pensamos, sobre as palavras que dizemos. só posso te incentivar à olhar por teus olhos e conseguir tuas impressões. cada ser observa o mundo de tua perspectiva, de teus hábitos. não posso dizer que os caminhos serão sempre de tijolos amarelos e nem que haverá um pote de ouro depois do arco-íris. tente descobrir por teus pés. tente caminhar segundo teus instintos e tuas vontades. não tente salvar o mundo ou ser a base de recuperação daqueles que te rodeiam. não viva acreditando que o tempo está se esgotando. aproveite mais, ria mais, acredite mais, minta mais, diga mais sinceridades. tenha mais amigos, fique mais tempo só, tenha mais de si, seja tua alegria.

viva e deixe viver.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

folhas secas.

embalo minhas lembranças em folhas de seda para deixá-las no fundo do baú. as palavras ditas, escritas, lidas, comidas, engasgadas, berradas, extravasadas, zeladas, queridas, amadas, mastigadas, doadas, recebidas, roubadas, vendidas, compradas, apanhadas,... todas já foram para seu canto. o canto do passado, onde não poderão ser mexidas à toa. guardo todas as memórias, todas as meninas, todas as gentilezas e tristezas.
guardo o passado com folhas de seda para que, com carinho, elas estejam seladas em um lugar onde tudo o que tem valor está. retalho algumas cartas de amor-morto-passado, algumas flores secas dentro dos livros, algumas roupas que carregam cheiros, modos, costumes.
revelei as fotos do último rolo de filmes que estavam guardadas. joguei o negativo fora. troquei as chaves, as fechaduras. troquei os segredos da casa, os movéis da sala, do quarto, os utensílios simples do banheiro, do meu cotidiano.
dei os livros que haviam outras digitais além das minhas. comprei novos cd´s para substituir aqueles que emprestei ou copiei, para dar-te prazer aos ouvidos.

os espelhos que haviam imagens, além da minha face, foram quebrados para acabar com a superstição dos anos passados juntos.

existe uma tomada desse filme que não consigo editar.

sábado, 2 de janeiro de 2010

longe de ti.

restrinja-me de ver os olhos teus que despertam em meus olhos grande estima e aguardo. priva-me de ouvir-te a voz que doce diz "olá" e saudosa diz "até mais" e mal posso saber quando irei sentir essa sonoridade. martira-me por não estar agora com os lábios colados aos teus, que seduzem meus sentidos para um desejo que nem posso saber qual é (ou quais são). deixa-me inebriada ao ter os pensamentos em ti ou sobre os minutos que virão. dá-me saudades imaginar os dias que ainda faltam para estar contigo ou pensar nessa angústia que é esperar uma oportunidade desses caminhos turvuosos se encontrarem.
caminhas por meu corpo através de minhas mãos que desvendam caminhos como bandeirantes em terra nova, atravessando montes e adentrando lugares desconhecidos, a fim de não haver mais dúvidas. esconda-me em teus fios de cabelos que roubam meu olhar quando passas ou quando beija-me a face. guarda-me sob teu guarda-chuva, contendo a chuva que obriga, muito amiga, quase prazerosamente, a união de nossos corpos.
traga-me uma carta do mar ou do céu.
tornei-me saudosista por conta dessa paixão fugaz.