textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



sábado, 25 de julho de 2009

.jantar.


-um dia, você terá de me recompensar essas contas do bar.

ao ouvir isso, Ela se espanta. como poderia retribuir as contas pagas de tantas idas aos bares? olhou para Ele e disse:

-pensarei como fazer.

Ela passou dias pensando em diversas formas. em coisas originais e únicas. esperou tanto por aquele momento, pensou tantas vezes nele e, agora, estava estarrecida com aquela indagação. resolveu o que fazer para recompensar, algo que fosse de tal altura, que poderia ser um novo passo para o relacionamento deles. mandou uma mensagem no celular: - "já sei como recompensar". e recebeu resposta: -"conseguiu me deixar curioso".

no dia seguinte, se encontraram em um cinema e Ela disse:

-"pensei em algo muito legal. mas preciso do seu apartamento. prometo não mexer em nada. preciso da sala e da cozinha. que tal?"

Ele parou, olhou e disse:

- "tudo bem. mas no que você pensou?"

- "como você bem sabe, nunca cozinhei para alguém. na verdade, não sou muito fã de cozinhar e pouca coisa sei. mas queria cozinhar pra você".

depois disso, foram dias para que Ela não pensasse em outra coisa que não o jantar. causou uma comoção no trabalho, onde conseguiu pratos e jogo americano de bambu emprestado. pegou os talheres de prata de sua mãe. comprou duas taças para o vinho que comprara. comprou velas. imprimiu filipetas de "que não seja imortal, posto que é chama. mas que seja infitino enquanto dure", para decorar a casa. comprou margaridas para usar as pétalas. comprou o capeletti à bolonhesa. conseguiu emprestado um cd da Billie Holiday para ser trilha do jantar e o filme "Pequena Miss Sunshine" para finalizar a noite.

na semana do jantar, Ele foi viajar. voltaria na manhã do dia combinado para o jantar. Ela ligou às 13h:

-"oi. liguei pra confirmar sua chegada. está tudo combinado então para o jantar?"

- "sim, está. vou deixar a chave com o porteiro do prédio. vou sair daqui às 16h."

- "perfeito. devo chegar aí lá pelas 17h. não se esqueça que você deve chegar às 20h. às 20h abrirei a porta do apartamento. nem um minuto a mais nem um minuto a menos."

- "certo. nos vemos mais tarde. beijos".

Ela estremecia. aquele poderia ser o grande dia, o mais esperado por ela desde que o conheceu. saiu do trabalho mais cedo, com mil desejos de boa sorte. quando chegou em casa, tomou banho e pegou tudo o que poderia lembrar, torcendo para não esquecer nada. no caminho até o apartamento de Ele, Ela se lembrou de comprar guardanapos e um saca-rolhas. olhava para todos os lados, para garantir que Ele não estivesse olhando de algum lugar.

entrou no prédio, olhou para o porteiro e disse:

-" Ele me deixou a chave do apartamento 58."

-"sim senhora."

pegou a chave e entrou no elevador. com as sacolas na mão, se sentia em casa. parecia que aquilo poderia ser um préfacio de sua história de amor com Ele. sentia como se aquilo fosse de seu cotidiano, a ponto de querer viver aquilo por mais minutos.

olhou para a porta do apartamento e colocou a chave na fechadura. abriu a porta e viu o apartamento em silêncio. entrou, fechou a porta e acendeu a luz. o gato surge do quarto e Ela acaricia o felino por quem tanto se apaixonara. sentou no sofá e olhou para todos os detalhes daquele apartamento. sentiu todos os cheiros que dele emanavam. sorriu por estar ali só, no espaço de Ele.

foi para a cozinha e colocou as coisas em seus lugares. saiu do apartamento e caminhou até uma confeitaria próxima, para comprar uma sobremesa. conversando com a atendente sobre o que combinaria melhor com capeletti e vinho, escolheu tortinhas de morango, algo que não fosse tão doce.

voltou para o apartamento e arregaçou as mangas. colocou para lhe fazer companhia um cd de Janis. tinha menos de 2 horas para deixar tudo pronto. colocou a mesa de vidro no centro da sala, onde colocou os descansos de pratos, os talheres e as taças. no centro da mesa, Ela arrumou um vaso com uma rosa e dois potinhos onde colocou as velas cortadas ao meio. o restante das velas, Ela cortou da mesma forma e espetou em palitos, que fixaram nos tacos do chão do apartamento. deixou três tocos de velas no quarto. espalhou em locais discretos as filipetas, a fim de que Ele visse dias depois, em momento de distração. colocou um punhado de pétalas em cada arranjo de velas espalhada no apartamento.

terminou a decoração, tomou banho e se arrumou com todo detalhe. seu celular toca e um amigo deseja sorte. ela fica feliz. de fato, seu momento havia irradiado alegrias aos seus amigos.

vai à cozinha e coloca o capeletti no fogo. verifica se o vinho está em boa temperatura. olha as horas no celular, 19h50. esses seriam os 10 minutos mais ansiosos. conferiu toda a casa, todos os aperitivos, conferiu a si mesma.

quando abriu a porta do apartamento às 20h, Ele não estava lá. Ela ficou com cara de boba, tentando entender aquilo. como ele poderia atrasar? faria de propósito? fechou a porta do apartamento e foi à cozinha verificar o capeletti. quando voltou para a sala, abaixou e verificou uma sombra no vão da porta, se lembrara de que seu celular estava 5 minutos adiantado! Ele entra e lhe dá um beijo. Ela vai para a cozinha e Ele acompanha, abre a geladeira para apanhar a garrafa de água mineral do gato. Ele anda pela casa e entre conversas sobre a viagem e beijos, eles vão para a mesa. Ela entra com os pratos de capeletti à bolonhesa, traz o vinho e coloca o cd de Billie. Ele olha e sorri. elogia tudo, em cada detalhe. diz sobre o cd, sobre o filme, sobre as velas, sobre algumas filipetas que já havia achado. Ela explica sobre o "bem me quer e mal me quer" das margaridas. Ele diz que valeu a pena pagar as contas dos bares.

depois do jantar, depois da sobremesa, depois do filme, foram dormir juntos. Ela não saberia que essa seria a última vez que faria amor com Ele.

uma semana após o jantar, Ele passa por conflitos de um relacionamento passado.

duas semanas depois, Ele termina com Ela, no café onde haviam se reencontrado.


depois disso, Ela nunca mais conseguiu vêr o filme que assistiu com Ele e chora toda vez que ouve o cd de Billie Holiday.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

.notivoga.

As horas passavam em seu relógio, sem que o sono desse sinal. Desligou o computador, tomou banho e deitou-se na cama. Ligou a televisão na tentativa de achar algo tão chato, que a fizesse logo ficar sonolenta. Tentativa em vão. Acabou achando um filme sobre um traficante que assistiu inteiro. Tinha esse vício pelas coisas, gostava de assistir até o fim. O mesmo vício que tinha com os livros, mas abrir o livro que estava lendo agora seria unir noite com dia.
Andou pela casa, enquanto os outros dormiam. Tentou ficar bem, sozinha, na noite fria, sem importunar ninguém. Quando sua mãe abriu os olhos por segundos e perguntou que horas eram, mentiu dizendo que seria 00h30am. Sempre mentia sobre o horário. Certamente, se disse que já passava das 03h30am, sua mãe logo iria questionar sobre aquela ausência de sono e começar o discurso de que “desse mal não sofro”.
Foi até a cozinha, abriu a geladeira tentando imaginar que, se comesse algo, talvez a fizesse aquietar. Mas foi besteira, não conseguiria comer àquela hora da madrugada.
Já havia pensado em providenciar um emprego que fosse durante a madrugada. Poderia, assim, unir o útil ao agradável. Seu tempo não passaria em vão e poderia aperfeiçoar com um adicional noturno. Mas isso acabaria com as atividades da faculdade ou sua vida social, que já não era mais aquelas coisas, poderia ficar pior.
Queria ligar para algum amigo, papear sobre coisas tolas, para passar o tempo. Mas àquela hora, quem atenderia ao telefone? Nem o melhor dos amantes o faria.
O gato dormia no canto da sala. Pensou em acordá-lo e brincar com o bichano, mas seria egoísta demais e já conhecia seu gato tão bem, a ponto de saber que, se acordado, ele ficaria intocável e inquieto. Decidiu deixar o bichano pra lá.
Olhou pela janela do apartamento, a cidade estava calma. Havia o escurecer noturno do céu que dava margem a um brilho maior das estrelas. Porque as estrelas só aparecem à noite? Achava aquilo um desperdício, sendo poucos os que aproveitam essa imagem.
Já não sabia o que fazer para o sono tomar conta de seus pensamentos. Tentou de tudo: meditou, fez ioga, cantou mantras, tomou outro banho, preparou um chá de ‘boa noite’,..., fez o que podia lembrar para combater a insônia.
E nada... Suas tentativas não tiveram sucesso.

Lembrou do remédio que ganhou de um amigo, dizendo que ‘aquele era confiável. Dormiria “como um anjo”’. Tomou o comprimido de Diazepan e deitou na cama.

Viu cores em seu quarto, sentiu as pálpebras pesarem e apagou.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

o Brasil, que samba é...

A classe dominante brasileira tem uma posição muito confortável. Ela pode reclamar que é explorada quando olha para os EUA, e se comportar como exploradora quando olha para os índios, negros e camponeses. É o melhor de dois mundos. Você consegue explorar o explorado e fingir que é explorado diante do explorador, e no intervalo vai passar as férias em Paris.
Outra questão é a própria idéia de desenvolvimento. A humanindade não pode mais crescer. Sou a favor do crescimento zero, de caminhar para uma redistribuição em escala planetária da riqueza. Frases como "continuem consumindo" e "comprem mais carros" são criminosas do ponto de vista da espécie. Nesse sentido, a palavra desenvolvimento é péssima, e a palavra crescimento pior ainda. Nem todo desenvolvimento envolve crescimento econômico; o PIB não mede porcaria nenhuma. O Butão criou um índice de felicidade interna bruta (FIB). Parece piada, mas talvez não seja completamente idiota. Os EUA, que tem um PIB bem maior que o do Brasil, não creio que teriam um índice de felicidade interna bruta maior que o nosso. Não parecem um povo particularmente pacífico, alegre, saudável. Ao contrário: toda semana alguém mata quarenta escolares em algum lugar do país e a obesidade é galopante. Nada que nos faça mirar nos EUA como exemplo da civilização. O Brasil precisa se desenvolver: aumentar o senso de equidade, de justiça, aprender o que é prioritário.

palavras do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.

domingo, 12 de julho de 2009

.telefone.

já perdera a noção de quantas vezes havia tirado aquele gancho do telefone e discado os primeiros números... eram números conhecidos de anos, que nunca conseguiu esquecer. por vezes, sem querer mesmo, discava aqueles números e só depois do primeiro toque, se dava conta de que estava equivocada.
pousou o telefone na mesa novamente. acendeu um cigarro e começou a andar pelo apartamento. de um lado para o outro, deixando o tapete fora de lugar, enquanto deixava seus pensamentos correrem sobre aquela ligação. "alô, oi, sou eu. liguei pra saber como você está. é que sonhei contigo ontem a noite e dizem que quando você sonha com alguém, é sinal de que a pessoa está querendo falar contigo...". putz, se eu disser isso, vou ouvir uma risada amarga. melhor não. melhor não dizer nada. e se eu ligar e só ouvir a voz? ou se colocar uma música de fundo, aquela música que logo irá sacar que sou eu, mas sem dizer que sou eu? mas e se tiver bina no telefone? logo vai saber que sou eu...

o medo poderia ser maior do que a saudade de escutar aquela voz. tinha receio de receber chacóta ou apenas educação, sem alegria alguma. pensou em mandar um e-mail, mas sabia que demoraria para ser respondido e que seria tão ríspido, que nem arriscava. pensou em comprar um cd´s no aniversário e deixar na portaria do prédio, mas imaginou que não receberia nem um telefonema de agradecimento pela lembrança. acabou resolvendo não mandar nada. apenas lembrou da data.

sentou no sofá, com o telefone na mão. acendeu outro cigarro, tentando manter a tranquilidade e torcendo para a voz não lhe falhar naquele momento. pensou sobre a ligação. mas e se eu ligar e não tiver nada mais do que "estou bem obrigada e espero que você também. tchau." certamente morreria de vergonha. mas vergonha consigo mesma, por ter ligado e recebido isso. ficou imaginando o mal estar que seria caso encontrasse na rua. seria aquele sorriso sem graça, que tem gosto de coisa morna, e cabeça baixa, com os pés acelerados, a fim de não ter uma conversa. essa imagem fez pensar nas vezes que se encontraram sem querer. quando os rostos foram virados para não se entreolharem. até quando seria assim? e por quê seria assim? haveria um contrato social pré-concebido dizendo que ex-amantes não devem se falar mais? que devem evitar qualquer contato visual? ficou pensando nisso enquanto o gato brincava com as pontas do tapete levantado. olhou para o gato e viu a mandala desenhada em suas costas. o felino lhe era a melhor companhia para aquela dúvida.

depois de três lambidas do gato, pensou em por quê ligar. quis lembrar quando foi a última conversa e sobre o que prosearam. nesse instante, onde quase perdeu a sanidade, pensou em qual o motivo maior desse seu passo. ou por quê esse passo deveria ser seu. hesitou. respirou. acendeu outro cigarro. pegou o telefone e discou... "alô, Malu? sou eu! tô meio de bode aqui em casa e queria sair um pouco. bora?". se levantou e foi se arrumar para sair.

resolveu que ligar seria rebaixar o orgulho que, por mais desumano que seja esse sentimento, ele acabara de lhe tornar mais humana...

resolveu mandar para o inferno aquele número, juntamente com quem diria alô.

* Mulher ao telefone II - Marcos Leal.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

.mulheres no planeta.

Acontece até 11 de julho, no espaço da OCA, no parque do Ibirapuera, a exposição "Mulheres do Planeta".Realizado pelo do artista francês Titouan Lamazou que, durante sete anos, viajou por 40 países fotografando,entrevistando, pintando e ouvindo sobre a vida de mais de 200 mulheres, que resultou na exposição.Futuramente será lançado um dvd e um livro contando as histórias de vida dessas mulheres.

OCA -Av. Pedro Álvares Cabral, s/ nº, portão 3, parque Ibirapuera, região sul, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/5572 - 0985. Até 11/7. Ter. a dom.: 10h às 20h. Ingr.: R$ 11 (estudantes pagam meia). Classificação etária: livre