ela jurou que nunca mais sairia pela rua, de forma a procurar algo que lhe causasse alegria momentânea. jurava ficar em casa, cultivando suas plantas na varanda ou estendendo as roupas no varal. seus lábios tremiam quando continha uma palavra ou qualquer pensamento que lhe fosse fugáz.
ela jurou que não iria mais atrás do bloco de carnaval ou puxaria o enredo da vida. jurou tecer sua história, sem que houvesse contos ou narrativas pequenas que fizesse encurtar ou tornar descartável os personagens que se fizessem corriqueiros. jurou esperar dar tempo para que todos se apresentassem de forma digna, sem que a cortina lhe caisse sobre as costas antes do último ato.
ela jurou ser um pouco mais doce, mesmo quando sua vontade fosse amarga. mesmo quando suas lágrimas mostrassem a dor ferida da alma. ela pensou que não mais ficaria instável se deixasse de ser amarga. amarga como uma fruta doce. amarga como viciante.
ela jurou que respeitaria as horas, mesmo que longas, mesmo que duras. entenderia, se possível, o encanto do outro. sem importar se esse outro fosse alguém que não o seu outro encantador.
ela jurou que tentaria estar mais lúcida da próxima vez que atravessasse a rua. ou quando esperasse o ônibus. jurou que teria momentos mais memoráveis. cansou de ter suas lembranças sendo contadas por outras pessos. outras que não eram o seu grilho falante-consciência. ela jurou que beberia menos e fumaria menos.
ela jurou que juraria menos. já que suas juras eram sempre apagadas da memória no dia seguinte.