ela se aproximou como quem não quer nada. como quem está somente de passagem. com o corpo molejo, entregue as vibrações da música que tocava. como quem arrisca sem medo de levar tapa na cara. se aproximou com um sorriso nos lábios vermelho pecado. disse "olá" com o maior tom sensual e me puxou para dançar. não hesitei. estava ali. estávamos ali como quem já esteve milhares de vezes. aqueles traços finos, pele tenra e jeito sem vergonha de quem sabe o que está procurando e sabe o que fazer para conseguir. ajeitou o cabelo para trás da orelha. passou a mão pela minha cintura e disse "eu te conheço de algum lugar. só não me lembro de onde". e eu pensei: "talvez, estivesse em seus sonhos", mas disse: "sou um rosto comum", "não, você não é". passou a mão em meu rosto "você tem os olhos de quem já amou". "como?", "olhos de quem já amou alguma vez e chorou por esse amor. é como se os olhos pudessem mostrar o que fica marcado na constelação de nossa alma". "vamos sair daqui", eu disse. fomos caminhar para fora da festa. havia um vento levemente frio que fez com os poros de minha pele ficasse arrepiados. "frio? deixa que eu te esquento". me puxou para perto dela e pude sentir seu hálito de quem masca chiclete para fazer despercebido o gosto de cerveja. "você não é daqui, né?" perguntei. "eu sou de todos os lugares". a beijei. e pensei se já não estivera com ela nesses outros lugares. seu rosto me era conhecido. não sei se da vida ou de sonhos. mas já havia visto aqueles olhos que dançavam conforme a batida do coração. "me beija de novo". e beijei. e pude sentir o calor de seus lábios, o calor de sua pele e a maciez de cada fio de seu cabelo. sentamos. ela, sem querer, mostrava uma brecha das costas. e tive vontade de beijar aquela pele. ela olhava ao longe e se virou "sabia que as estrelas três marias fazem parte da constelação de orion, o caçador. e seus nomes são mintaka, alnilan e alnitaka?". "para falar a verdade, não sabia" e olhei para o céu para observar as estrelas. ela puxou meu rosto e disse "eu não sei seu nome mas, possivelmente, encontrei, por essa noite, minha alma gêmea em você". eu sorri. não sei se acreditava tanto nessa história de alma gêmea, mas senti uma felicidade tola em ouvir isso dela. e me permiti ser, naquela noite, a alma gêmea encontrada. quem sabe, não seria mesmo? quem sabe, por aquela noite, encontrei o que a maioria das pessoas irão procurar durante toda a vida?
textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.
sábado, 15 de outubro de 2011
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
escassez.
acordou como todos os dias de sua vida. quebrou um copo logo cedo. o ônibus parou no ponto errado. chegaria atrasada no trabalho e sem a chance de tomar café. estômago vazio até às 12h30... mas, incrivelmente, sentia uma felicidade boba, daquelas que se sente e não sabemos porque a sentimos. daquelas que nos faz reparar no sol e como o dia está bonito. o céu azul com suas nuvens brancas passando por trás de prédio cinzas e janelas que expõem suas cortinas esvoaçantes ao vento. o que teria aquele dia que a fazia se sentir diferente? estava tudo relativamente calmo... será que o tempo estava à seu favor? será que era seu dia de sorte, onde os pássaros cantavam sem mais nem menos... pensava sobre a escassez de palavras que lhe aflingira no último mês... ou escassez de tempo mesmo. sentia vontade de escrever, terceirizar seus sentimentos, suas querências, suas experiências... lhe faltava tempo. tempo para viver. a vida de adulto lhe cansava...
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