cecília
regina joana maria sá costa mendes. por favor, não abrevie nenhum
nome. quer que eu repita para você conferir!? cecília regina joana
maria sá costa mendes. cecília regina joana maria são nomes. minha
mãe sempre achou elegante pessoas que tem mais de dois nomes, sabe!?
e, além do mais, ela queria prestar uma homenagem para minhas duas
avós, materna e paterna. duas santas. cecília joana era o nome de
minha avó materna e regina maria o de minha avó paterna. por que
não é cecília joana regina maria? mamãe dizia que misturando os
nomes, dava mais som de samba. tente você. cecília joana regina
maria... não, não dá samba. agora, cecília regina joana maria dá
mais samba... como enredo da mangueira. as pessoas acham bonito ter
nome de artista de televisão. bonito mesmo é ter nome da família.
viemos
para o rio de janeiro há muito tempo, quando o carnaval ainda era de
marchinha. assim que descemos do ônibus, mamãe disse: "agora,
aqui no rio de janeiro, ganharemos a vida!". ela tinha o sonho
de melhorar de vida e, lá no fundo, encontrar uma paixão... sim,
ela amava papai. mas, amava-o porque havia casado e tiveram filhos.
papai sempre fora um bom homem e amava mamãe. mas, amor de paixão,
não era. eram duas pessoas de bem que viviam bem por um bem comum.
não, não é exagero o uso de três "bem" em uma frase.
nunca os vi brigar. nunca discutiram por nada. final de tarde,
sentavam para conversar sobre tudo. eram como dois bons amigos.
agora, se eles tinham intimidade... aí, já é outra coisa... então,
mamãe veio para o rio de janeiro com a esperança de encontrar uma
grande paixão. imaginação de quem ouvia novela pelo rádio e usava
a imaginação para compor as cenas.
nos
instalamos no bairro de santa tereza, em uma casa simples e muito
bonita. papai trabalhava como professor de literatura e mamãe
era costureira... tinha mãos tão sutis capaz de fazer os melhores
vestidos da região... com o passar do tempo, ganhou a credibilidade
no bairro e os melhores fregueses! até o dia em que costurou um
terno branco de linho para um rapaz de porte atlético e cabelo
alinhado... mamãe se enamorou no instante em que tirava as medidas
do rapaz. nunca a vi se dedicar tanto à costura de uma roupa... no
dia em que o rapaz voltou para buscar o terno, ficou para um café.
na semana seguinte, voltou com outra encomenda, ficou para o almoço.
quando retornou para buscar a nova roupa feita, fez a cama com minha
mãe. e nunca mais apareceu. mamãe havia conseguido o que almejava:
encontrará uma paixão e descobriu o quanto seu coração poderia
doer. não podia ver um terno branco de linho pela rua que
estremecia. e dizia que era agouro. papai nunca descobriu. e, a
partir desse dia, o amou como nunca. e, engraçado pensar agora, acho
que a relação melhorou... talvez, porque mamãe se sentisse culpada
e quisesse compensar o que havia feito. e sempre me dizia: "paixão
é bom porque esquenta o coração. mas, quando passa, deixa o
coração frio. amor é outra coisa, deixa o coração sempre
quente".
se eu
segui os conselhos de mamãe? quiçá... quem pode avaliar o que é
amor e o que é paixão?