textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

mead, sexo e temperamento, pg. 267


"Consideramos até agora, em pormenor, as personalidades aprovadas de cada sexo, entre três grupos primitivos. Vimos que os Arapesh - homens e mulheres - exibiam uma personalidade que, fora de nossas preocupações historicamente limitadas, chamaríamos maternal em seus aspectos parentais e feminina em seus aspectos sexuais. Encontramos homens, assim como mulheres, treinados a ser cooperativos, não-ag
ressivos, suscetíveis às necessidades e exigências alheias. Não achamos idéia de que o sexo fosse uma poderosa força motriz quer para os homens quer para as mulheres. Em acentuado contraste com tais atitudes, verificamos, em meio aos Mundugumor, que homens e mulheres se desenvolviam como indivíduos implacáveis, agressivos e positivamente sexuados, com um mínimo de aspectos carinhosos e maternais em sua personalidade. Homens e mulheres aproximavam-se bastante de um tipo de personalidade que, em nossa cultura, só iríamos encontrar num homem indisciplinado e extremamente violento. Nem os Arapesh nem os Mundugumor tiram proveito de um contraste entre os sexos; o ideal Arapesh é o homem dócil e suscetível, casado com uma mulher dócil e suscetível; o ideal Mundugumor é o homem violento e agressivo, casado com uma mulher também violenta e agressiva. Na terceira tribo, os Tchainbuli, deparamos verdadeira inversão das atitudes sexuais de nossa própria cultura, sendo a mulher o parceiro dirigente, dominador e impessoal, e o homem a pessoa menos responsável e emocionalmente dependente. Estas três situações sugerem, portanto, uma conclusão muito definida. Se aquelas atitudes temperamentais que tradicionalmente reputamos femininas - tais como passividade, suscetibilidade e disposição de acalentar crianças - podem tão facilmente ser erigidas como padrão masculino numa tribo, e na outra ser prescritas para a maioria das mulheres, assim como para a maioria dos homens, não nos resta mais a menor base para considerar tais aspectos de comportamento como ligados ao sexo". In Sexo e Temperamento, Margareth Mead.

Mead, i love u.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

para quem tem garganta forte.


arena de cores, pessoas e classes sociais variadas. e o gramado verde no meio, onde todos concentram seu olhar mais atento e mais crítico possível. não são somente torcedores, mas há uma equipe técnica não escalada oficialmente sentada (ou em pé) nas arquibancadas do estádio. todos são um pouco treinadores nessa hora. 
e, em meio à uma multidão fanática, enlouquecida e de garganta forte, eles entram no campo. e todos os hinos e canções dedicadas ao time são cantadas com devoção. quando o apito soa, começa o barulho da percussão da torcida organizada. e as bandeiras gigantes sobem as arquibancadas... e descem... e sobem outras bandeiras... e a torcida vibra... e o apito soa... e a perna chuta a bola... e é gol... GOOOOOOOLLLLLLLLLLLL. e quando o jogador gira seu corpo em cambalhotas, a torcida grita, e se abraça, e liga para a família, para amigos, para o chefe.... GOOOOOOOOOOOLLLLLLLLL! rádios de pilha, fones de ouvido ou mesmo olhos atentos. cada detalhe é essencial para o próximo passe. nada pode passar despercebido. OOOOLLÊÊÊ... vamos São Paulo, vamos ser campeão! 
e são 90 minutos em pé, porque cada centímetro é disputado para o melhor ângulo. e, quando o juiz apita o fim do primeiro tempo, a torcida vibra mais uma vez, e cada vez mais forte, com a intenção de incentivar os jogadores. afinal, nada melhor do que uma torcida para motivar um jogador.
água, água. preciso de água. cadê os homens vendendo água... e, por mais que bata uma brisa refrescante, o calor da torcida chega à ser insuportável. água, água. preciso de água. ali, oh, tem um homem vendendo água. com licença, com licença. preciso passar. moço, quero uma água. R$3,00. tudo bem. hei, menina, pede três copos, por favor. moço, quero mais três copos. R$9,00. tudo bem. moça, obrigada.
e depois de todas as gargantas refrescadas, eles entram no campo novamente... e a frenesi e adrenalina do momento é  uma das sensações mais incríveis que já senti...
sou, sou tricolor. sou, sou tricolor. sou, sou tricolor.




quarta-feira, 7 de novembro de 2012

senhor galo, tome cuidado.


não me agrada. não falo sobre. engulo a seco.
não exponho minha opinião ou sentimentalidade.
tal como espinho que arranha e causa ferida na garganta.  

o tal galo quer cantar em um poleiro que não lhe cabe.
senhor galo, tome muito cuidado ao cantar uma melodia.
logo uma raposa virá e te tirará esse brilho terrível que emerge em sua crista.
tão logo, teu conforto, tua paz, teu reinado (que causa discórdia) chegará ao fim.

galo, não cante vitória. esperarei, com graça, tua derrota.