textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



domingo, 22 de novembro de 2020

se não posso voar...

se não posso voar, coleciono passarinhos. invejo suas asas, olho para o céu, sinto a brisa do fim de tarde e me imagino em um mergulho no ar. andorinha, arara azul, tucano. da poesia, de Oxum, da fala. os meus pássaros. na minha pele. não na vaidade, mas na vontade de ser pássaro. pássaro que não vive em gaiola, que canta triste. pássaro livre que vive ao vento, na copa das árvores, no raio de sol. pássaro que é como Fernão Capelo Gaivota, que vai além, que rompe limites, que desafia a crença alheia e que faz seu próprio voar. 

se não posso voar, clamo por minha fé, meus órixas. visto branco, rezo meus cantos, bato cabeça. Oxóssi, Oxum, Iansã. da força de quem me rege, matenho-me de pé. bambu que balança, mas não verga. da força do caçador, da beleza da deusa do amor e da força dos ventos de Oyá. 

se não posso voar, firmo raiz e não arredo o pé. dos caminhos por onde passei, dos amores que amei, das sementes que plantei. tempo de colheita. de frutos bons, flores bonitas. mas tempo de plantio eterno. afinal, para nascer girassol, temos que plantar grama bonita.

se não posso voar, me imagino no ar. se não posso voar, fico feliz por aqui estar. se não posso voar, não deixo de sonhar. 

terça-feira, 28 de julho de 2020

das lembranças de você

eu estaria mentindo se dissesse que já não sinto saudades de você. ainda te mantenho em minhas rezas diárias. as noturnas e as matinais. ainda fecho meus olhos e me vejo caminhando pela servidão de nossa casa. ainda vejo os gatos pelo caminho. ainda choro quando penso em tudo isso. às vezes choro antes de dormir. às vezes choro quando acordo. às vezes choro quando lembro de seus cabelos bagunçados pela manhã, de sua voz rouca ou de sua preguiça. e quando choro, te peço perdão. e tento me perdoar também. afinal,... a decisão de partir foi minha. 
lembra daquelas dois quadros, o roxo e o vermelho, que você nunca deixou que eu os pendurasse na parede porque são traços de nu feminino? eu os pendurei na parede do meu quarto e acabo os admirando não somente pelo traço, mas pela liberdade que eles acabaram agregando. a liberdade de ter dois bonitos quadros, traços de corpos femininos, nus, na parede. 
voltei a ouvir Bethânia. na verdade, consegui ouvir só duas músicas dela. é impossível ver ou ouvir Bê e não pensar em você. mas ainda não é tempo de Marisa. isso eu sei. ela ainda não. ela ainda me dilacera o coração. acabei transmutando alguns rituais do cotidiano para me reinventar, para lembrar do que era eu antes de você. nada é capaz de ser o mesmo. e acabo sentindo muita falta do nossos dias, das nossas parcerias, do nós.
eu sei que você me amou, mas eu sei que eu te amei mais. eu fiz tudo para te fazer feliz. tudo o que eu pude. tudo o que você se permitiu. já fui acometida de tanta vontade de te ligar, de ouvir sua voz, de dizer o tamanho da minha saudade, de querer voltar para os braços teus... mas acabo me lembrando que tomei a decisão de atravessar a ponte e acabei chacoalhando toda a estrutura e só nós sabemos o que foram nossos últimos dias juntas. e eu sei que você me matou dentro de si, talvez como forma de seguir em frente, talvez para deixar que o ódio sufoque o amor... 
eu desejo tanto que você seja feliz! e sinto muito por não estar mais ao seu lado te dando todo o melhor do meu amor. 
amo tu. e sou muito grata por todos os anos compartilhados, vividos, amados com você.

domingo, 15 de março de 2020

Eu terminei com quem eu era com você

Eu não terminei o relacionamento com você. Eu terminei com quem eu era com você. Eu não deixei de te amar, de ter todas as boas sensações estando ao seu lado. Mas eu já não queria mais ser aquela mulher, aquela companheira. Eu não terminei meus sentimentos por você. Mas eu descobri que havia uma infinidade de outros sentimentos por minha própria pessoa que eu ainda não havia explorado. Ou me deu saudade de quem eu era (e sou) quando não estou com você.

Você me ensinou muito. Incontáveis experiências. Mas, um dia, o sofá ficou confortável demais e eu demorei muito tempo para perceber que eu havia me acomodado em nossa relação. Um dia, entendendo todas as suas outras prioridades, eu esperei que você me percebesse, eu esperei que você me visse. Mas tudo estava tão confortável que até entrar em atrito estava fora de questão. Eu me confortei em meu silêncio, em minha solidão.

Eu não sei se há um culpado nessa estória e, realmente, não me importo com isso. Tudo o que vivi com você, que compartilhei, que cedi, que fiz, como de coração entregue, de alma dada, de amor compartilhado. Então, o que aconteceu conosco? Talvez o tempo tenha chegado ao fim. E não acredito que as pessoas se separem somente quando o amor acaba. Porque amor não acaba. O amor se ressignifica. Eu ressignifiquei o amor que sentia por você. E decidi que queria me amar mais do que eu amava você. Eu percebi que te amei tanto ao ponto de te amar mais do que a minha própria pessoa. 

E você é uma pessoa incrível. Mas nosso tempo chegou ao fim. Não haverá mais escovas juntas, pés entrelaçados, cafés da manhã compartilhados. Mas haverá tudo de bom que eu dei para você. 

E eu dei tudo o que eu pude dar e até onde pude dar. Agora vou me (re)encontrar.

*Ao som de Cartola.