textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



sexta-feira, 10 de setembro de 2010

pouco inteligível

já não sei a última vez em que vi teu rosto sorrir. perdi as datas exatas dos dias que tomavamos café e conversavamos por horas até decidirmos ir para sua casa. e lá, antes de fazer amor, deixavamos os pensamentos percorrerem os centímetros quadrados de cada pedaço de sua casa. era o espaço onde você guardava seus segredos, seu corpo, seu sono. era o lugar em que eu mais amava. o lugar de tua vida. não queria viver sua vida de forma alguma, mas gostava de ser a platéia única de alguns espetáculos que você fazia. não, não era egoísmo, era voyerismo misturado com um pouco de excitação por cada movimento que seus braços ou suas pernas faziam em torno do ar. quando esse, era um mero coadjuvante de sua cena. assim como o sol, que somente tinha por finalidade iluminar o seu rosto para demonstrar o sorriso.
foram tantos dias assim que, quando as cortinas fecharam, tudo se perdeu como se não houvesse estado naquele lugar. era como se eu tivesse sonhado e nada mais. como se todas as lembranças fossem um joguete de ilusões. eu perdi as lembranças doces e amargas que vieram com as lacunas que a memória produziu. os bons momentos, os beijos, os olhares, ficaram em alguma fresta escura e fria, bem próxima do fim do abismo. no fundo, para não retornar a superfície. as cartas foram desfeitas pelo tempo, onde a tinta se tornou um borrão feio e pouco inteligível. você me disse que as coisas passam, que a vida é feita de pessoas que vem e vão, mas que deixam marcas para a vida toda. pois bem. as marcas que deixastes já fizeram sangrar dores tão profundas que nem as lágrimas puderam rolar. dores tão enlouquecedoras que beirei a insanidade e a morte para tentar fugir das lembranças.
hoje elas fazem parte de um conjunto de lacunas do tempo. sem espaço para novas lembranças daqueles tempos.

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