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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

podres e envenenados.

nem sempre frutos. por vezes, podres e envenenados. as coisas tomam dimensões maiores ou menores do que podemos pressumir. a feridantiga de Caio F. já não dói mais, mas lateja feito brasa quente ao contato da água. a ansiedade crônica e depressão congênita, que emoldurou a estrutura óssea e as partes do corpo que perambula sem ligação entre os membros.
já não se identifica mais como indivíduo. no presente, não passa de uma carcaça que mantem uma veste de pele sem tendência de moda ou ornância com a paisagem. é algo que destaca, mas pela sua feiura e aspecto que causa estranheza logo de primeira impressão. o que faria ali, caminhando com o sol na face sem movimentar os olhos ou emitir um suspiro profundo que tirasse o pó de dentro do nariz? estaria morto? não. estava vivendo de secreções que brotavam de suas dobras do corpo: cotovelos, punhos, nádegas, joelhos. os olhos brotavam da estrutura ócular feito ovos que eram expelidos pelo orifício da galliformes. estaria morto, de uma certa forma.
não esperava pelo dia. não esperava pela noite. não distinguia a passagem das horas, dos dias, das semanas, meses, anos. com o tempo, se tornará uma peça da paisagem e não causava mais nenhuma sensação aos transeuntes. aos que lhe percebiam, as crianças, os gatos e cachorros e a polícia que, vez ou outra aparecia para verificar se ainda vivia, sua presença era de não-presença. não lhe olhavam, não lhe ouviam, não lhe falavam. esse, talvez, fosse o último estágio antes da putrefação de sua existência. quem sabe, as moscas notariam sua presença.

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