textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

.feminismo em minha vida.

conheci a idéia de feminismo com uns 16 ou 17 anos. lembro que foi na escola, com alguns amigos que estavam ligados à essa idéia. de princípio, achava bacana. mas não me via dentro dessa forma de se pensar socialmente...
cá estou hoje. com 22 anos e estudando sociologia e política para expandir mais a idéia de feminismo, a forma de educação da sociedade patriarcal que vivemos hoje.

alguns dos que me apresentaram à idéia, já não as seguem como antes. talvez, por outros afazeres. mas eu fui e me mantenho empenhada nisso.

já passei pela fase mais radical de achar que feminismo era uma luta de queima de sutiã e outras coisas absurdas. mas amadureci isso (graças ao tempo, aos livros e à vivência). hoje, sei que o problema maior dessa sociedade machista e patriarcal que vivemos está problematizada na educação que o Estado oferece para sua população. Visto isso, decidi seguir pelos caminhos burocráticos e 'socialmente aceitos'. não vou mais para manifestações por ter ciência de que se tornou algo tão levante de bandeiras partidárias, que prefiro fazer da minha forma.

o projeto "Todas as Marias e Clarisses" é isso. é a forma que encontrei de fazer algo e me tornar uma interlocutora entre sociedade e idéias. mas sei que ele irá além do que planejamos. sei que ele alçará vôos para bens comuns do coletivo e sociedade.

o projeto, assim como declarado, é um filho gestado por três mães: Carol Moreno, Thaís Fincatti e eu, Samira Nagib.

Intuo vêr esse projeto criar vida e seguir caminhos sociais.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

.um poeminha.

por onde andastes todo essse tempo?
enquanto estive aqui, passando por dias tristes, por onde andastes?

quando me vejo, no meio do dia, pensando em você,
pensando em seus cabelos, seu beijo, seu cheiro de cigarro que já virou agrado.

quando sinto falta de ti e ouço sua voz, é como aquele momento quando o sol se põe perto do mar e faz um barulhinho... completo.

quando penso em dias de querência antes de seu beijo...
dos momentos que quis te beijar, que pensei "é agora" e não foi...
e esse querer foi crescendo, crescendo.

valeu a pena esperar. valeu a pena querer tanto e ele ter sido um beijo roubado.
e retribuido. e devolvido. e trocado. e vendido. e doado. e misturado. e querido.

e saber que agora, ele faz parte do meu. e juntos, fazem parte de um único.
um único momento que vivemos agora. e que seja amanhã, e depois, e depois,
e depois, e depois, e depois,...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

.marias e clarisses.

quando entrei na esp, me deparei com um mundo de pessoas com diversas teorias e pensamentos. e poucos como o meu. desde o primeiro ano, queria montar um projeto que desse certo e que fizesse algo diferente dentro daquele espaço acadêmico. agora, no terceiro ano, ele e eu, estamos prontos.
apresento-lhes "Todas as Marias e Clarisses". projeto que visa o debate sobre a questão de gênero dentro da ambiente acadêmico da FESP. com interesses de integrar os cursos de sociologia e política, administração e biblioteconomia, pensamos em algo que venha à ser um veículo de informação entre FESP, nós e comunidade.

feliz? diga-se de passagem que casei com o projeto. dia e noite, idéias brotam da cabeça feito caraminholas. estamos indo bem! caminhando e cantando!
estamos crescendo! agora temos base para melhorar e tentar agregar coisas boas!

http://www.mariaseclarisses.blogspot.com/

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

.vamos fazer um filme?.

parece que ando pela cidade contra o tempo alheio. sinto que estou dez segundos mais lenta que as pessoas que correm, sempre atrasadas. ou será elas que estão aceleradas? elas passam ao meu lado, olham em minha direção, mas não me vêem. é como se eu fosse algo totalmente comum, imperceptível. ou elas são cegas demais para observar um outro ser ao seu lado? isso seria idéias complexas para uma cidade moderna, que sempre adianta o relógio de seus cidadãos que perdem a hora.
se eu fizesse um filme, ele seria preto e branco, com alguns flashs de luzes coloridas. as pessoas passariam aceleradas enquanto eu caminharia com toda calma do mundo em minha cabeça. será que elas estariam felizes dessa forma? será que elas são felizes?
tenho perguntas que não podem ser respondidas pelo tempo. talvez, se deus me ouvisse enquanto o café fosse servido, eu teria as respostas que quero. mas o que eu faria com elas? será que as minhas perguntas são sentidas por mais alguém?
se eu fizesse uma música, ela teria uma melodia de jazz. com algum toque de joplin, holliday e nina simone. alguma música que me levasse à bailar em pensamento... que me fizesse entrar em extâse.
se eu fizesse um dia, ele teria cor de azul anil, com cheiro de talco infantil e gosto de algodão doce. teria bicicletas pelas ruas e pessoas conversando nas praças dos bairros.

se eu fizesse um filme, você o veria?

Por Samira Nagib.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

.teorias abstratas.

"como é possível sermos sólidos, quando feitos de átomos, somos 90% vazios?".
as coisas são o que são. infinitas e absolutas em sua verdade e totalidade. existiria uma verdade única? seria possível acreditar em algo uno e eterno? as coisas são mutáveis para seu tempo? elas passam a ser ilusórias em que ponto? me pergunto até onde as nossas crenças se mantêm.
seria complexo dizer que somos aprisionados pela gramática? que não somos livres quando necessário expressar idéias pelas palavras? dependência de algo metafísico para expressar emoção/sentido.
a arte é um dos únicos saberes que se apresenta como ilusão.
o ato de nomear surge do nada, para que haja um vínculo com o objeto, cria-se um nome... a língua é ilusão.
a percepção da depreciação humana deve ser levada até o fim. niilismo é o fim da estima humana tendo um impulso para ressurgir do novo. seria a consciência do que é humano. tirar o homem do centro das atenções para mostrar que ele é igual uma mosca.
"o que é arte senão a criação?".é ter uma forma de existência criativa. fugir da metafísica, da ilusão para o real.
a vontade da potência é biológica. cada pertícula quer expandir. a força está no corpo e não nas idéias.
a matéria faz parte do objeto. o objeto é o que é, mas existe algo exterior à ele.

cada verdade é interpretada segundo sua experiência de vida.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

.menina que ia.

são paulo sempre teve seu clima de verão chuvoso.
dias quentes com temporais no final da tarde. dias em que as pessoas se tornam mais frias e mais cinzas. são apenas guarda-chuvas pretos andando pela cidade.
em uma rua onde as pessoas corriam da água do céu ou aguardavam seu ônibus para voltar para casa, eu vi uma menina.
essa menina corria, desprotegida da chuva e das criaturas, ela corria tentando embarcar num ônibus branco e amarelo.
aparentando seus 12 anos, ela usava uma calça justa e uma blusa pequena. dentro da blusa pequena da menina de 12 anos que andava desprotegida da chuva e das criaturas, havia uma pequena garrafa. a boca da garrafa estava perto da boca da menina, que tinha pele negra e ninguém a percebia (ou fingia não vêr). perto dela, havia outras pessoas como ela, mas somente ela corria. não conseguiu embarcar no ônibus branco e amarelo, e não a vi mais.
eu vi o que as pessoas dos bares na calçada dessa rua cinza em dia chuvoso, não viram (ou fingiram não vêr), e continuaram a tomar suas bebidas caras para não se deparar com o mundo feio que vivem. eu vi o que muitos, olhando para o lado, tentaram fugir de vêr a imagem da menina negra de 12 anos que corria com uma garrafa pequenina.
eu imaginei como seria o dia dessa menina que corria. e ela corria para onde? para casa? para a escola? para a família? para onde ela corria?
para onde eu correria?

domingo, 8 de fevereiro de 2009

.lorota 2009 - Esp.

No princípio, Comte se apaixonou por Clotilde,
da qual nunca casou.
Idolatrando aquela por quem devota seu amor,
início uma nova teoria de pensamento: o Positivismo.
Os psicológos, já sem clientes suficientes, decidiram criar
uma nova onda de idéias, que fizesse seus consultórios sempre
estarem cheio: criou-se a sociologia, que possibilita as crises existênciais.
Durante a crise do café na década de 30, os burgueses queriam dominar a nação,
formou a “Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo”,
com grandes nomes acadêmicos lecionando por essas paredes
(dizem que ainda aqui estão!).
Por esses cantos, Fernando Henrique namorou dona Ruth,
sendo o banheiro do terceiro andar era o local dos encontros noturnos.
Nossa antiga prefeita Erundina fazia greves e causava tumulto entre os alunos,
enquanto Florestan Fernandes protestava à favor do café para os alunos.
Donald Pierson estudava a diferença dos abacates maduros e verdes,
fazendo banho de creme no cabelo com os abacates.
Muitas coisas se passaram por aqui, existe um porão embaixo do Casarão que dizem
ter sido um café décadas atrás, mas outros alegam que era local de tortura
para aqueles alunos pegos com bebidas, drogas e que queriam a licenciatura
(dizem que esse foi o motivo da ditadura).
Nesse tempo, um cavalo branco apareceu na frente da Esp com um senhor sobre ele.
Era o Adão, que bloqueava os corredores da escola com seus livros,
até que ganhou seu aquário e se tornou Peixuxa, o amigo dos peixes.

por Samira Nagib.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

.fim de romance.

- seria masoquismo persistir em algo que não tenho fé nenhuma? disse ela ao vê-lo saindo pela porta com suas malas. ele se vira e, no último momento que os dois se entreolham, no momento em que as cores fogem e que nada mais pode ser feito, ele diz - "que o amor que você sente por mim é puro e admiro isso. mas existem imperativos categóricos que nos separam". ele fecha a porta e se vai pela rua.
ela lança seu corpo no sofá azul que haviam ganho de presente, quando foram morar juntos. ela olha para o gato que havia comprado no dia em que conseguira o novo emprego. olhou para a estante onde estavam as fotos dos anos juntos. ou será que o tempo foi rápido demais, mas sentido como anos?
o telefone toca, mas ela não faz menção alguma em atender. a secretária eletrônica ativa o viva-voz e ela ouve a voz dele: "tudo o que vivemos foi bom demais. por um tempo, fui feliz, assim como você também o foi. mas acho que esse tempo passou rápido demais para nós. eu esperei mais". ela se sentiu um lixo. dedicara tanto de seu amor, seu tempo, sua criatividade para estar com ele e não teve consideração alguma de retribuição.
ela caminha pelo apartamento; já não sabia quanto tempo havia passado. vai até a janela do quarto, no oitavo andar, e olha para baixo. pensa que tudo chegara ao fim de sua vida. que não haveria sentido continuar persistindo em um pensamento da qual ela não fazia mais fé alguma...
o gato se enrola em suas pernas e ela chora. chora como nunca chorou. chora como se houvesse alguém para ouvir suas lamúrias ou pragas. pega seu casaco e vai para a o bar espairecer as idéias. bebe sozinha no balcão mais frio que já sentira.
volta para casa, apenas com seu gato para lhe acariciar. olha para os quadros na parede, para as fotos no mural, para os bilhetes na geladeira. ela pensa em morrer. abre o armário do banheiro, aquele mesmo banheiro em que estivera com ele, abre um frasco de remédio, toma os comprimidos com um copo dágua e vai para a cama. - será que errei em o querer mais essa vez? será que foi só mais dessa vez?
é inundada por uma compulsão de dúvidas sobre o futuro. invadida por um desejo de que aquilo fosse somente outro pesadelo, mas no momento em que abrisse os olhos com o som do despertador comprado no natal, ela o veria com seus cabelos desgrenhados dormindo ao seu lado.
ela pegou no sono. e não mais acordou.

.ao som de billie holiday.