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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

.menina que ia.

são paulo sempre teve seu clima de verão chuvoso.
dias quentes com temporais no final da tarde. dias em que as pessoas se tornam mais frias e mais cinzas. são apenas guarda-chuvas pretos andando pela cidade.
em uma rua onde as pessoas corriam da água do céu ou aguardavam seu ônibus para voltar para casa, eu vi uma menina.
essa menina corria, desprotegida da chuva e das criaturas, ela corria tentando embarcar num ônibus branco e amarelo.
aparentando seus 12 anos, ela usava uma calça justa e uma blusa pequena. dentro da blusa pequena da menina de 12 anos que andava desprotegida da chuva e das criaturas, havia uma pequena garrafa. a boca da garrafa estava perto da boca da menina, que tinha pele negra e ninguém a percebia (ou fingia não vêr). perto dela, havia outras pessoas como ela, mas somente ela corria. não conseguiu embarcar no ônibus branco e amarelo, e não a vi mais.
eu vi o que as pessoas dos bares na calçada dessa rua cinza em dia chuvoso, não viram (ou fingiram não vêr), e continuaram a tomar suas bebidas caras para não se deparar com o mundo feio que vivem. eu vi o que muitos, olhando para o lado, tentaram fugir de vêr a imagem da menina negra de 12 anos que corria com uma garrafa pequenina.
eu imaginei como seria o dia dessa menina que corria. e ela corria para onde? para casa? para a escola? para a família? para onde ela corria?
para onde eu correria?

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