sábado, 25 de julho de 2009
.jantar.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
.notivoga.
Andou pela casa, enquanto os outros dormiam. Tentou ficar bem, sozinha, na noite fria, sem importunar ninguém. Quando sua mãe abriu os olhos por segundos e perguntou que horas eram, mentiu dizendo que seria 00h30am. Sempre mentia sobre o horário. Certamente, se disse que já passava das 03h30am, sua mãe logo iria questionar sobre aquela ausência de sono e começar o discurso de que “desse mal não sofro”.
Foi até a cozinha, abriu a geladeira tentando imaginar que, se comesse algo, talvez a fizesse aquietar. Mas foi besteira, não conseguiria comer àquela hora da madrugada.
Já havia pensado em providenciar um emprego que fosse durante a madrugada. Poderia, assim, unir o útil ao agradável. Seu tempo não passaria em vão e poderia aperfeiçoar com um adicional noturno. Mas isso acabaria com as atividades da faculdade ou sua vida social, que já não era mais aquelas coisas, poderia ficar pior.
Queria ligar para algum amigo, papear sobre coisas tolas, para passar o tempo. Mas àquela hora, quem atenderia ao telefone? Nem o melhor dos amantes o faria.
O gato dormia no canto da sala. Pensou em acordá-lo e brincar com o bichano, mas seria egoísta demais e já conhecia seu gato tão bem, a ponto de saber que, se acordado, ele ficaria intocável e inquieto. Decidiu deixar o bichano pra lá.
Olhou pela janela do apartamento, a cidade estava calma. Havia o escurecer noturno do céu que dava margem a um brilho maior das estrelas. Porque as estrelas só aparecem à noite? Achava aquilo um desperdício, sendo poucos os que aproveitam essa imagem.
Já não sabia o que fazer para o sono tomar conta de seus pensamentos. Tentou de tudo: meditou, fez ioga, cantou mantras, tomou outro banho, preparou um chá de ‘boa noite’,..., fez o que podia lembrar para combater a insônia.
E nada... Suas tentativas não tiveram sucesso.
Lembrou do remédio que ganhou de um amigo, dizendo que ‘aquele era confiável. Dormiria “como um anjo”’. Tomou o comprimido de Diazepan e deitou na cama.
Viu cores em seu quarto, sentiu as pálpebras pesarem e apagou.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
o Brasil, que samba é...
Outra questão é a própria idéia de desenvolvimento. A humanindade não pode mais crescer. Sou a favor do crescimento zero, de caminhar para uma redistribuição em escala planetária da riqueza. Frases como "continuem consumindo" e "comprem mais carros" são criminosas do ponto de vista da espécie. Nesse sentido, a palavra desenvolvimento é péssima, e a palavra crescimento pior ainda. Nem todo desenvolvimento envolve crescimento econômico; o PIB não mede porcaria nenhuma. O Butão criou um índice de felicidade interna bruta (FIB). Parece piada, mas talvez não seja completamente idiota. Os EUA, que tem um PIB bem maior que o do Brasil, não creio que teriam um índice de felicidade interna bruta maior que o nosso. Não parecem um povo particularmente pacífico, alegre, saudável. Ao contrário: toda semana alguém mata quarenta escolares em algum lugar do país e a obesidade é galopante. Nada que nos faça mirar nos EUA como exemplo da civilização. O Brasil precisa se desenvolver: aumentar o senso de equidade, de justiça, aprender o que é prioritário.
palavras do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.
domingo, 12 de julho de 2009
.telefone.
já perdera a noção de quantas vezes havia tirado aquele gancho do telefone e discado os primeiros números... eram números conhecidos de anos, que nunca conseguiu esquecer. por vezes, sem querer mesmo, discava aqueles números e só depois do primeiro toque, se dava conta de que estava equivocada.
pousou o telefone na mesa novamente. acendeu um cigarro e começou a andar pelo apartamento. de um lado para o outro, deixando o tapete fora de lugar, enquanto deixava seus pensamentos correrem sobre aquela ligação. "alô, oi, sou eu. liguei pra saber como você está. é que sonhei contigo ontem a noite e dizem que quando você sonha com alguém, é sinal de que a pessoa está querendo falar contigo...". putz, se eu disser isso, vou ouvir uma risada amarga. melhor não. melhor não dizer nada. e se eu ligar e só ouvir a voz? ou se colocar uma música de fundo, aquela música que logo irá sacar que sou eu, mas sem dizer que sou eu? mas e se tiver bina no telefone? logo vai saber que sou eu...
o medo poderia ser maior do que a saudade de escutar aquela voz. tinha receio de receber chacóta ou apenas educação, sem alegria alguma. pensou em mandar um e-mail, mas sabia que demoraria para ser respondido e que seria tão ríspido, que nem arriscava. pensou em comprar um cd´s no aniversário e deixar na portaria do prédio, mas imaginou que não receberia nem um telefonema de agradecimento pela lembrança. acabou resolvendo não mandar nada. apenas lembrou da data.
sentou no sofá, com o telefone na mão. acendeu outro cigarro, tentando manter a tranquilidade e torcendo para a voz não lhe falhar naquele momento. pensou sobre a ligação. mas e se eu ligar e não tiver nada mais do que "estou bem obrigada e espero que você também. tchau." certamente morreria de vergonha. mas vergonha consigo mesma, por ter ligado e recebido isso. ficou imaginando o mal estar que seria caso encontrasse na rua. seria aquele sorriso sem graça, que tem gosto de coisa morna, e cabeça baixa, com os pés acelerados, a fim de não ter uma conversa. essa imagem fez pensar nas vezes que se encontraram sem querer. quando os rostos foram virados para não se entreolharem. até quando seria assim? e por quê seria assim? haveria um contrato social pré-concebido dizendo que ex-amantes não devem se falar mais? que devem evitar qualquer contato visual? ficou pensando nisso enquanto o gato brincava com as pontas do tapete levantado. olhou para o gato e viu a mandala desenhada em suas costas. o felino lhe era a melhor companhia para aquela dúvida.
depois de três lambidas do gato, pensou em por quê ligar. quis lembrar quando foi a última conversa e sobre o que prosearam. nesse instante, onde quase perdeu a sanidade, pensou em qual o motivo maior desse seu passo. ou por quê esse passo deveria ser seu. hesitou. respirou. acendeu outro cigarro. pegou o telefone e discou... "alô, Malu? sou eu! tô meio de bode aqui em casa e queria sair um pouco. bora?". se levantou e foi se arrumar para sair.
resolveu que ligar seria rebaixar o orgulho que, por mais desumano que seja esse sentimento, ele acabara de lhe tornar mais humana...
resolveu mandar para o inferno aquele número, juntamente com quem diria alô.