labirintos cinza e amarelos, forrado por um piso frio e avermelhado. os sons existentes são os insetos que cantam a noite, ou dos gatos que surgem com o vento e somem como poeira. mas com pouco sinal de vida humana para atrapalhar.
um homem gira sua cadeira de rodas sentido lugar algum e some na escuridão. outro homem senta à varanda do prédio contemplando o ínfimo jardim existente à seu horizonte, como se esperasse alguém vir buscá-lo.
o silencio toma forma, sendo quebrado vez ou outra, conforme os pés descobrem aquele terreno, por um molho de chaves ou risadas de vestimentas brancas. o prédio de janelas semi-serradas dá visão para uma árvore de natal previamente montada.
ouvem-se cochichos. ouve-se alguém sugar o catarro do pulmão e escarrar na comadre. ouve-se o rádio ligado em sintonia com músicas de décadas atrás, em janelas escuras. ouve-se uma mulher que não pára de gritar.
vê-se a luz de poucos aparelhos televisores ainda ligados que espanta a solidão daqueles que estão confinados em pequenos cubículos simples, dando cada um seu toque pessoal.
há uma rachadura na parede. há uma torneira seca com sinais de infiltração na base. há redes no segundo andar, barrando qualquer tentativa de atravessar para o lado que não há chão firme, somente ar. há árvores, flores e jardins simples, simbolizando um local sereno. há um muro de quatro cantos que isola os moribundos do mundo social. há o perigo de ser visto. há o perigo de estar sozinho. há a sensação de morte que ronda aquelas vidas, acalentando o desejo de finalizar seus dias.
há a solidão de um indivíduo por trás da janela de cortinas brancas, iluminado apenas pela luz de sua caixa de imagens, que vê sua amada sem poder beijá-la, apenar tocar-lhe as mãos entre as grades.
há uma janela que separa dois seres.
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