textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

pessoas entrelaçadas.

odiava ficar à mercê da atenção de seu amado. sabia que ser amante, privava-a de certas coisas que só a mulher poderia ter. mulher? e quem poderia definir melhor esse papel? quem era a mulher de sua vida, de verdade? aquela que lhe lavava as roupas, limpava a casa e parira seus filhos ou aquela que era motivo de suas fugas noturnas e diurnas? aquela por quem se deleitava em lençóis brancos e vermelhos, com odores, suor, saliva, tesão? poderia passar noites à sua espera mas, com o tempo, percebera que, ao esperar por ele, teria somente migalhas para sobreviver àquela relação sexual pouco afetiva. seria eternamente sua amante e só. ele nunca largaria mulher para viver com ela.
poderia sobreviver dessa forma, afinal, ele não lhe era o único amante. os outros lhe enchiam de agrados e qualquer coisa que, ao estalar dos dedos, se ela queria, ela tinha. sua sexualidade sempre fora algo ativo e vivo em sua vida. não só no quesito cama, mas sempre exalou uma sensualidade nos lugares onde esteve, fossem professores, amigos, chefes,... nunca lhe teve o que reclamar. sempre era rodeada de agrados e bajulações. homens falavam de sua beleza como se ela mesmo não soubesse da pessoa que era. tolos, sempre lhe serviam em mãos.
talvez, a falta de tempo que aquele amante lhe oferecia, a deixava em nervos. o queria e o que queria era quando queria. não gostava de esperar que ele aparecesse quando quisesse. era uma troca. deveria ser quando ela quisesse também. mas não o era.

- alô?
- oi. podemos nos encontrar hoje?
- hoje acredito que seja complicado. talvez na quarta-feira.
isso era em dois dias. mas sabia como reverter a situação.
- então tudo bem. nos vemos na quarta. verei o que fazer hoje. beijos. tchau.
- não! não desligue. olha, hoje tem uma festa de família. tentarei sair daqui às 22h30. devo chegar em sua casa em 15 minutos.
- hum, reunião de família? acho melhor você ficar. não tem problema mesmo. podemos nos ver outro dia.
- não. eu irei te ver. me espere.
- esperarei.

sabia que ele odiava imaginar que, em sua ausência, outro homem estaria em sua cama. o que poderia fazer? ceder as chantagens emocionais sexuais de sua amante ou permanecer em uma vida estável, ao lado de uma mulher que mal se lembrava a última vez que fez amor com ela? aguentava a situação porque não poderia sobreviver sem o tesão de sua amante mas, ao mesmo tempo, sem o conforto e a segurança do seu lar. a amante lhe era o ápice do prazer, as fugas de adrenalinas extasiantes, era sua saída daquele vida de burguês classe média. poderia viver com aquela vida dupla.
no final da noite, olhou para sua mulher e disse:

- querida, terei de sair. um dos meus clientes se metera novamente em apuros. passarei a noite na delegacia.
- mas estamos em uma reunião de família! como pode largar todos aqui? terei de fazer o papel da anfitriã sozinha?
- amor, se casou com um advogado, esqueceu? eles estão acostumados com isso e você também. e sei que não há melhor pessoa no mundo para manter a ordem do que você.

ele saiu. ela sabia que ele iria encontrar-se com a amante. sabia quem ela era. já investigara sobre aquela mulher. era mais jovem que ela e tinha o corpo que tivera antes de ter os filhos. ficava angustiada quando ele saia para encontrar-se com ela, sempre sabia quando era. e, ao tempo em que ele não a procurava mais, tornava quebradiço àquele amor que lhe dedicara tanto tempo. pensou no divórcio centenas de vezes mas, não queria ser uma mulher separada com três filhos. isso não. tinha largado a faculdade de história para casar e construir aquele lar. não poderia deixar tudo para as mãos da outra. preferia aguentar aquela situação de mulher traída do que mulher separada.

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