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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

.estilo Jece Valadão.

no dia em que ele adentrou o expediente, e ela o vira pela primeira vez, sentiu seu corpo tremer por aquele outro corpo de um tom de pele moreno claro, olhos verdes, sorriso gracioso e jeito "Jece Valadão" de ser. usava sapatos pretos, calça azul marinho e uma camisa branca, de manda curta, com os três primeiros botões abertos, deixando a penugem do peito florar para fora daquela camisa. no instante que vira aquele corpo, sabia que teria de ter um pedaço, instante ou prazer dele.

os dias eram longos. eles tinham o mesmo horário de trabalho. vez por outra, se encontravam na escada e sorriam com um sorriso gosto de hortelã. ele vinha de casa, deixando a esposa no trabalho e a filha na escola. ela vinha de sua casa, onde morava com um amigo gay desde que veio para são paulo.

a convivência abalava seus pensamentos e tirava sua completa concentração. ele passava, sorria e deixava um perfume no ar, um odor másculo, que mexia com seus hormônios e sentidos. sabia que aquele homem seria seu pecado.

uma tarde, ela tomou coragem e o convidou para ir à um bar. a situação entre os dois, ali sozinhos, num final de sexta-feira, era quase insustentável. as mãos, quando se tocavam, mesmo que sem querer, causa um tremor e um baixar de olhos que denunciava a intenção presente. o bar não se estendeu muito e a decisão de procurarem um lugar mais discreto foi quase instantânea e sussurrada.

o primeiro letreiro vermelho foi o decidido. na verdade, não havia algo para ser decidido, somente feito. no instante em que a porta foi fechada, as roupas saltaram dos corpos no segundo em que deitaram na cama, quase sem perceber. a pele de tom moreno claro dele se fundiam com a cor morena jambo de sua pele. foram descobertas, olhares, beijos, línguas que iam e vinham, as bocas que eram preenchidas por pêlos e músculos, as mãos que adentravam espaços escondidos e o contato mais íntimo, mais profundo daquela noite. depois de algumas horas, cada qual foi para seu lugar.

o dia seguinte foi o mais complexo. a dúvida se inquietava nela por querer mais daquele prazer concedido. os olhares eram desviados por trazer a lembrança e as sensações ganhas na noite anterior. ela achou que não agüentaria e, como mais uma de tantas que ele deve ter, teria sido somente isso e pronto. no fundo, ela só queria mais uma noite de sexo, e isso lhe contentaria. achava até bom. seria uma troca justa. sexo por sexo. e por quê não?

por uma mensagem no celular, ela percebeu que teria o que queria. e não somente mais uma vez, aquela cena se estendera por dias, semanas, meses... mas deixava de ser somente sexo, havia algo emanando deles que não conferia somente sexo, eram gestos de carinho, preocupação, companheirismo...

numa manhã, quando sua mulher estava saindo do carro, ela o olhou e disse:

- eu tenho nojo de você.
- o que aconteceu?
- você agora chega em casa com cheiro de outro sabonete. com um cheiro de perfume na camisa que não é meu. você chega tarde, não diz mais nada. você anda recebendo mensagens no celular de outra mulher. eu sei, eu vi, não tenta mentir.

ele abaixa a cabeça. não diz nada.

quando chega ao trabalho, ele não a encontra durante o dia. volta para casa, pega suas coisas e sai sem dizer nada. vai até a casa dela, toca a campainha e é recebido com olhar de surpresa. adentra a sala, senta numa cadeira e segura o rosto com as mãos. conta o que aconteceu e diz a ela que não sabe o que fazer, não tem onde dormir aquela noite e tudo está muito confuso. ela diz que, por hoje, ele pode dormir lá, mas depois, terão de ver o que fazer. ele olha para ela e diz que ela o fez mudar, que quer crescer com ela, que ela é tão diferente das outras mulheres com quem ele ficou. diz coisas para ela que vislumbra para o futuro dos dois.

ela olha para ele, sorri um sorriso amargo e balbucia coisas que ele não ouve.

- os planos não eram esses. eu gosto de você e sei que acabamos nos envolvendo um pouco mais... mas não me vejo morando com você, sabendo que você não é homem de uma mulher só e que sou possessiva. ambos queríamos sexo e tivemos e foi bom, muito bom. mas é só isso. eu não posso dispor algo que não tenho agora. e não quero. meus planos não eram esses.
- mas o que faço agora? depois que conheci você, quis mudar, melhorar, progredir. eu gosto de você e quero morar contigo.
- você não pode fazer de minha vida sua base. você precisa se fortalecer sozinho. eu posso te ajudar agora, mas será só isso. podemos procurar um lugar para você dormir enquanto não aluga sua casa. mas você irá sozinho.

ele não acredita no que ouve. acabara de perder tudo o que tinha: casa, esposa, filho e amante. o que mais poderia perder.

sem poder raciocinar direito, ele levanta e vai para rua, sem rumo nem mundo.

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