textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

antes.

"Por enquanto vou inventando a tua presença".

Clarice Lispector.


você se foi e não pude fazer menção para te deter. talvez, eu não tivesse gosto por isso. talvez, te ver indo embora, sem saber quando poderia te rever, me fez sentir um gosto adocicado na boca da vida. sendo acometida, em seguida, por um soco no estômago, provocando um enjôo que me fez pensar se era dor da partida ou vingança do destino.
sua sombra se foi quando a porta do apartamento bateu e permaneci na cama com uma incerteza absurda sobre o que deveria fazer. deveria ter tentado mais ou me apaixonado mais por ti? o que você realmente queria, o que esperava de minha pessoa? lágrimas, desesperos, ameaças de suicídio? você não irei gostar. no final das contas, nunca sei se realmente te agradei ou se fora somente uma passagem branda em sua vida. você nunca demonstrou mais que sentimentalidades superficiais e desejos pelo sexo. talvez, isso não fosse amor. fosse só uma paixão que, pelo sentido, é passageira e deliciosa.
onde você estava no dia em que te quis amor? onde eu estava? me perdi tantas vezes por outros olhos nesses caminhos que já não sei quando tudo acabou. teria sido antes de dizer "eu te amo" ou foi exatamente quando lhe disse isso da boca para fora?
me apagar da memória ou esquecer o que vivemos seria idiotice. tente se lembrar das vezes em que te fiz rir. ou dos dias em que te fiz orgasmar. tente pensar nos poemas que fiz quando me encontrava em dias tão apaixonados que poderia ser a reencarnação perfeita de Shakespeare. mas foram tão poucos esses dias. fomos felizes, eu sei disso e não me esqueço. mas não consigo lembrar porque nos encontramos mais uma vez.
do que você sentiu falta na última noite em que nos deitamos em nossa cama e fizemos amor brevemente? nunca me disses do que gostava. descobri cada milímetro do seu corpo só. aprendi os lugares onde te fazia chorar de tanto rir e fazer o som dessa risada ecoar por todos os cantos do apartamento.
me lembro do dia em que você cantava no banheiro e pudemos ouvir o apartamento vizinho aplaudir pela janela. depois daquele dia, você se tornou a Rosa Ponselle do prédio! e toda vez em que entravamos no edifício, o porteiro era o primeiro a rir conosco.

prazer em ter te conhecido.

foi bom enquanto durou, eu sei.

agora, vou recomeçar sem você.

3 comentários:

  1. Simplesmente lindo...
    Doído como deve ser uma perda
    Principalemtne dessas que a gente nunca sabem onde se perdeu...
    Estava ali... cadê...
    Só saudade...
    Só "inventando" mesmo...

    Beijo Grande Sam
    e se cuida...

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  2. Eu não sei existe uma perda real quando falamos sobre sentimentalidade. Ganhamos tanto com as pessoas mas, quando elas deixam de viver paralelamente conosco, fica somente a ideia da ausência e não nos lembramos mais do que fora ganho. E existe uma infinidade de momentos únicos que muitos preferem apagar. Triste isso.
    Como perder algo que nunca foi nosso? Digo isso no sentido de propriedade. As pessoas não são "nossas", então, não existe uma perda, saca?

    A vida é como o mar. Vai, vem, retorna e vai novamente.
    O bom, é saber quando aquela água já refrescou nosso corpo outra vez.

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  3. Eu, outro digo...

    perto do fim tudo fica incerto, preocupações estranhas, sua consciencia alcoviteira que fica a lhe implantar duvidas tais como se eu te agradei o tempo que estavamos juntos, se agradei por que não agrado mais? sentimentos que parecem tangiveis, falta que parece poder ser tocada, mas se voce tenta segurar, escapa pelos dedos

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