textos de própria autoria, de própria vida. minha vida, sua vida, nossa vida.



quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

feliz navidad


para o salário mínimo que não teve aumento esse ano.
para a passagem de ônibus que irá aumentar no início do ano.
para o aumento dos salários dos deputados, ministros, presidente e
vice-presidente que irão receber um vencimento de R$26,7 mil...
papai noel não existe para a classe baixa!




quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

ele vai ser pai.

ele vai ser pai. meu grande amigo irá ser pai. e a felicidade que me acomete não tem tamanho. é um sorriso que fica estampado na face, um querer enorme abraço, uma lágrima que escorre trilhando uma emoção que não há definição. ele vai ser pai e o que posso dizer é "parabéns meu grande amigo". e não há preço que pague esse momento. e não haverá nada que retribua a emoção de um pequeno abraço de um filho.
não há preço que pague a emoção que terá em ver a barriga de sua mulher crescendo e todo o carinho que será dado durante a gestação. assim como foi o carinho da fecundação. essa criança foi gerada de um amor puro e doce e terá uma vida tão doce quando o amor de seus pais. o amor de dois que resultará em mais um. deixam de ser uma dupla e serão um trio. não terá preço algum no mundo que retribuirá a sensação de ver aquela criança, com o traço dos dois, e segurar os pequenos dedos do bebê após o parto. e quando a criança chorar, vocês irão acalentá-lo de uma fraternidade que só conhecerá nos braços dos pais.
um filho, cara. uma criança para correr contigo e andar de skate. e quando levar o primeiro tombo, você será o primeiro a erguê-lo e incentivá-lo a tentar novamente. porque a vida é assim. porque você é assim. porque você me ensinou isso também.
um filho meu amigo. estou muito feliz por vocês.
*
para Adriano e Leidi e a feliz notícia da gravidez.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

pensamentos soltos.

pegou sua xícara de café, acendeu um cigarro e caminhou até a varanda do seu apartamento, onde olhou, de forma nostálgica, para a cidade que amanhecia lentamente. o relógio do hotel no centro da cidade marcava 05h43 e os seus olhos eram marcados por uma noite não dormida. o céu era uma mistura de cores entre a escuridão da noite passada e os raios solares que inundavam sua face, de forma que os olhos eram expremidos para focar em ponto único.
entornou um gole de café. de um trago profundo em seu cigarro. sentou-se a beira da cama e começou a ordenar seus pensamentos para um novo dia. ou menos um dia. sempre se perdia em meio a filosofia de ter um novo dia de vida ou perder um dia de vida. já que estar vivo era questão de perdas ou ganhos momentâneos, poderia e esperava que tudo mudasse de repente, e não mais que de repente.
não, não estava pessimista. era somente realista. suas piadas eram de um humor negro notável e um sarcasmo absoluto. preferia rir de uma tragédia. mas não da tragédia em si, mas do desespero alheio. eventualidades fugazes lhe entretiam porém, em breve tempo, já lhe esgotava qualquer resquício de uma risada que tenha sido riscada em seus lábios. era honesta pelo menos. dizia com franqueza o que pensava e não deixava em meias palavras ou nas entrelinhas...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

podres e envenenados.

nem sempre frutos. por vezes, podres e envenenados. as coisas tomam dimensões maiores ou menores do que podemos pressumir. a feridantiga de Caio F. já não dói mais, mas lateja feito brasa quente ao contato da água. a ansiedade crônica e depressão congênita, que emoldurou a estrutura óssea e as partes do corpo que perambula sem ligação entre os membros.
já não se identifica mais como indivíduo. no presente, não passa de uma carcaça que mantem uma veste de pele sem tendência de moda ou ornância com a paisagem. é algo que destaca, mas pela sua feiura e aspecto que causa estranheza logo de primeira impressão. o que faria ali, caminhando com o sol na face sem movimentar os olhos ou emitir um suspiro profundo que tirasse o pó de dentro do nariz? estaria morto? não. estava vivendo de secreções que brotavam de suas dobras do corpo: cotovelos, punhos, nádegas, joelhos. os olhos brotavam da estrutura ócular feito ovos que eram expelidos pelo orifício da galliformes. estaria morto, de uma certa forma.
não esperava pelo dia. não esperava pela noite. não distinguia a passagem das horas, dos dias, das semanas, meses, anos. com o tempo, se tornará uma peça da paisagem e não causava mais nenhuma sensação aos transeuntes. aos que lhe percebiam, as crianças, os gatos e cachorros e a polícia que, vez ou outra aparecia para verificar se ainda vivia, sua presença era de não-presença. não lhe olhavam, não lhe ouviam, não lhe falavam. esse, talvez, fosse o último estágio antes da putrefação de sua existência. quem sabe, as moscas notariam sua presença.

sábado, 6 de novembro de 2010

então é assim? ...

então é assim? é assim que um relacionamento acaba? quando não há mais boa noite e nem um beijo que sele o final do dia? não há divagações sobre ideias que surgem ou fantasias que brotaram na rua? é assim que um casal percebe quando o amor morre e quando o carnaval deixa de passar por aquela rua? quando os abraços são secos e vazios. quando o dia se torna frio e a noite mais fria que uma temporada no Alasca?
eu imaginei que fosse diferente. que as pessoas dialogassem antes que entrassem no vazio do mundo das sentimentalidades complexas. eu imaginei que iriamos fazer as malas e manteriamos contato por tudo o que passamos. poderiamos manter uma amizade, um bem querer. mas parece que será diferente. parece que faremos as malas quando não houver ninguém em casa. o táxi chegará e haverá aquele último olhar sobre a casa, a mobilia, sobre as lembranças que ali se instalaram durante os anos. a porta fechará e não poderemos mais ouvir ruído algum que entoe nossa antiga paixão. você, eu, nós. será somente eu e ninguém mais.
então é assim que as coisas acabam? quando não há mais beijos de boa noite ou divagações sobre a vida?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Elvis'e'Madona

Com o coração disparado e as pernas bambas, assisti ontem o filme no CineSesc.

Fila grande, pessoas ansiosas, risadas, gargalhadas e silêncio. Isso é o que posso lhe dizer sobre a platéia que esteve presente naquela sessão. Foi um pouco do que vivi também sentada ali, embaixo daquela tela enorme, esperando pelo filme que mais esperei durante esse ano (e juro que não saber se houve outro filme que tenha esperado tanto assim). A montagem das cenas, dos personagens, o enredo da história. A cena onde tudo parece lógico mas, de repente e não mais que de repente, aparece José Wilker como o policial Pachecão e salva o protagonista da bala fatal! E tantas outras cenas onde os personagens poderiam morrer e não morrem. Tanta coisa lógica de quem já assistiu tantos filmes e ficou viciada em desfechos onde tudo poderia ser esperado. Os atores estavam sensacionais, lindos e vividos como personagens reais mesmo. As cenas iniciais onde o Igor Cotrim rebola e anda de salto alto sem dar uma vaciladinha se quer. A forma como a Simone Spoladore senta na cena em que Elis e Madona estão no bar, após o show, foi uma lésbica sentada mesmo. Mas não só isso. Não foi só o modo como sentou, mas o jeito em que jogava o corpo tentando mostrar interesse.

Ganhei surpresas. Ganhei possibilidades de ver que o cinema ainda pode nos surpreender e mostrar cenas inimagináveis.

Adorei. Amei. Glorifiquei.

Parabéns Marcelo Laffitte. Virei tua fã.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

campanha eleitoral.

eu sempre votei em um partido só. mas, como esse mesmo não está presente no segundo turno, o que me resta... por mais que X seja melhor que Y, nenhum dos dois merece o meu voto.

está rolando uma campanha que os alunos da UNB realizaram em relação a um dos nossos candidatos à presidência. vale a pena ser vista.

universitários da UNB, parabéns pela criatividade.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

vá para o inferno!

tenho vontade de te mandar para o inferno. quando chegas com sua voz doce, suas palavras delicadas. quando interage numa conversa boba para prolongar um momento próximo. quando me olhas e desvio o olhar para não cair em tentação. você sabe e eu sei o que poderia acontecer. mas não acontece. e, talvez, não aconteçará. fora o tempo em que as coisas estavam demasiadamente escancaradas. agora, ficamos nessa boa pose como quem não pode ou não quer nada. quem sabe, não quer nada mesmo.
tudo tem um tempo certo para acontecer. pode repetir sua ação no tempo. mas tem um tempo exato para existir. não sei exatamente se já foi o tempo exato, mas queria saber, no pretérito perfeito e mais que perfeito, qual o ato que você faria se pudesse. ou pudesse, mas não quisesse. sabe, existe uma diferença imensa entre querer e poder. às vezes, queremos e não podemos. outras vezes, podemos mas não queremos. uma vez me disseram: "tome cuidado com o que se deseja. talvez, ele se realize". hoje me pergunte se desejamos certo, porque não funcionou. ficou no mundo do abstrato, junto com todas as fantasias e querências que poderiam ser resultado desse ato, dessa cena, dessa trama. esse medo parece ser uma disnomia de nossas pessoas, onde o passo adiante foi interrompido pelas lascividades da vida. tudo ainda ficou no abstrato. tudo ficará no mundo vago das ideias possivéis que ficarão para trás.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ela jurou.

ela jurou que nunca mais sairia pela rua, de forma a procurar algo que lhe causasse alegria momentânea. jurava ficar em casa, cultivando suas plantas na varanda ou estendendo as roupas no varal. seus lábios tremiam quando continha uma palavra ou qualquer pensamento que lhe fosse fugáz.
ela jurou que não iria mais atrás do bloco de carnaval ou puxaria o enredo da vida. jurou tecer sua história, sem que houvesse contos ou narrativas pequenas que fizesse encurtar ou tornar descartável os personagens que se fizessem corriqueiros. jurou esperar dar tempo para que todos se apresentassem de forma digna, sem que a cortina lhe caisse sobre as costas antes do último ato.
ela jurou ser um pouco mais doce, mesmo quando sua vontade fosse amarga. mesmo quando suas lágrimas mostrassem a dor ferida da alma. ela pensou que não mais ficaria instável se deixasse de ser amarga. amarga como uma fruta doce. amarga como viciante.
ela jurou que respeitaria as horas, mesmo que longas, mesmo que duras. entenderia, se possível, o encanto do outro. sem importar se esse outro fosse alguém que não o seu outro encantador.
ela jurou que tentaria estar mais lúcida da próxima vez que atravessasse a rua. ou quando esperasse o ônibus. jurou que teria momentos mais memoráveis. cansou de ter suas lembranças sendo contadas por outras pessos. outras que não eram o seu grilho falante-consciência. ela jurou que beberia menos e fumaria menos.
ela jurou que juraria menos. já que suas juras eram sempre apagadas da memória no dia seguinte.

sábado, 2 de outubro de 2010

o homem que não é da casa.

a casa das quatro mulheres. e sempre foram as quatro e somente. está certo. no início, teve um homem por lá, para se sentir o dono do mundo, o mandante do pedaço, o cara. mas ele logo perdeu o trono, quando já não era mais o homem da casa. o homem da casa era a mãe. aliás, era a mulher da casa. zelou por tudo, providenciou tudo, cuidou de tudo. mas, o homem da casa que nunca foi homem, sempre esteve ausente, em suas noitadas e buscas infinitas por um rabo de saia. perdeu seu status de homem da casa e toda sua dignidade que restava.
nunca esteve presente. não sabe como as filhas se sentiram nos dias em que ele bravejou palavras cruas e cheias de dor. nunca teve ideia do que era um trabalho escolar de uma filha ou a busca terrível pela identidade da adolescência. era somente "alô?" e nada mais. sua presença paterna era de idas ao zoológico e, vez ou outra, ao parque da cidade. não passava disso. não fez nada além. talvez, não quisesse fazer algo além.
sua ideia era de procriar. e assim o fez. fez muitas vezes. perdesse a conta de filhos que teve ou com quantas mulheres se deitou para fazer jus ao seu mandato de "homem". já não tinha nada mais que isso. um instrumento no meio das pernas que ordenava sobre sua vida. um mero instrumento que, com os anos, deixava de ser tão útil assim.


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

chuva da primavera

é a primeira chuva da primavera que assola a cidade. é uma chuva fina, que oscila entre as finas gotas e uma leve tempestade. é a primeira chuva da primavera de 2010, onde a água escorre das nuvens com um fim já esperado: o chão sujo, passando por nuvens cinzas e pela camada poluída. são os dias quentes que transformam a tarde em fria. são os dias em que a incerteza sobre o clima se mistura com as incertezas da vida.
é a primavera, dona das contradições existentes. são árvores que brotam seus primeiros sinais verdes de vida, depois de um inverno escasso e pouco colorido. o pouco estava ligado as flores insistentes de algumas árvores que querem exclusiva atenção para seus galhos. assim como nossas vidas, que pedem atenção para pequenas demonstrações de beleza e, durante o resto do ano, passa batido, como uma flor de cactos. sem cor ou gosto aos olhos, somente lembradas quando se tornam necessárias para a vida.
a vida natural está ligada, indiretamente, a nossa vida natural. somos brotos de árvores que teimam em brotar, em meio à uma sabatina de negações. somos acalorados pelo orgulho e necessidade de ego, em florir.
os amores, tais como as flores que brotam nas árvores da primavera, e quem sabe do verão, são expectativas meras do acaso, no toar da morte premeditada pelo tempo. como as flores, os amores são cultivados em pequenos brotos singelos e, se não cuidados, não florescem. e se não cuidados, morrem com o prelúdio do outono. mas, os amores bem ponderados, assim como as flores, deixam as pétalas cairem. mas com as raízes imperiosas, que não passaram, com a próxima estação.

domingo, 19 de setembro de 2010

cartas marcadas.

as cartas já foram dadas e você não percebeu quando estava com o jogo nas mãos. você não percebeu que a carta que daria o lance final estava no meio do monte de outras cartas, bem embaixo do seu nariz. você olhou as cartas, chegou a cogitar a estratégia perfeita, mas desistiu nos minutos que poderiam ter antecedido nossa vitória, gloriosa vitória. você entregou a jogada, eu resolvi sair da competição.
isso não foi algo que eu estipulei mas, que você, fez com que acontecesse e que as coisas se perdessem sem que houvesse chance de blefe. as cartas estavam com você e eu esperei o momento certo de fazer o all-in. mas você hesitou e nós perdemos. feito dois amadores de baralho barato jogado em boteco de esquina.
nós perdemos e a culpa não foi minha. fou sua.
*all-in: em jogadas de pocker, é identificada como "apostando tudo".

terça-feira, 14 de setembro de 2010

ron ronar matinal.

ela chegou pequena, com três meses de vida. se escondia entre as cobertas e fugia para dentro do sofá sempre que podia. miava pouco. tem uma voz rouca e fina. mia quando quer comida, quando quer afago na barriga. passa o dia dentro do armário, dormindo sobre o quentinho dos lençóis. quando ouve a porta de entrada abrir, sai calmamente, sem pressa alguma, de sua toca diária. espreguiça seu corpo mole e eleva o rabo às alturas. não pode ver um fio de cetim ou um colar pendurado. estende as patinhas para apanhar o que lhe parecer engraçado. dorme em cima de quem estiver na cama ou debaixo do edredom, com a cabeça apoiada no braço de quem acolher. abre os olhos bem cedo e acorda quem tiver sono leve. caminha até o banheiro e senta o bumbum em sua caixinha de areia. parece meditar. e quando se olha, em seu momento de intimidade, faz cara de deboche.
não há roupa que não tenha um pêlo dessa felina. não há centímetros da casa que não se perceba a presença dessa gatinha. não se pode mais comer na mesa que ela quer degustar também. não se pode tomar banho, que ela adentra o box e deita como se quisesse brincar. quando não traz sua bolinha com guizo para jogar.
se deleita pelo chão, pela cama, por todo o lugar.
=^.^=

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

pouco inteligível

já não sei a última vez em que vi teu rosto sorrir. perdi as datas exatas dos dias que tomavamos café e conversavamos por horas até decidirmos ir para sua casa. e lá, antes de fazer amor, deixavamos os pensamentos percorrerem os centímetros quadrados de cada pedaço de sua casa. era o espaço onde você guardava seus segredos, seu corpo, seu sono. era o lugar em que eu mais amava. o lugar de tua vida. não queria viver sua vida de forma alguma, mas gostava de ser a platéia única de alguns espetáculos que você fazia. não, não era egoísmo, era voyerismo misturado com um pouco de excitação por cada movimento que seus braços ou suas pernas faziam em torno do ar. quando esse, era um mero coadjuvante de sua cena. assim como o sol, que somente tinha por finalidade iluminar o seu rosto para demonstrar o sorriso.
foram tantos dias assim que, quando as cortinas fecharam, tudo se perdeu como se não houvesse estado naquele lugar. era como se eu tivesse sonhado e nada mais. como se todas as lembranças fossem um joguete de ilusões. eu perdi as lembranças doces e amargas que vieram com as lacunas que a memória produziu. os bons momentos, os beijos, os olhares, ficaram em alguma fresta escura e fria, bem próxima do fim do abismo. no fundo, para não retornar a superfície. as cartas foram desfeitas pelo tempo, onde a tinta se tornou um borrão feio e pouco inteligível. você me disse que as coisas passam, que a vida é feita de pessoas que vem e vão, mas que deixam marcas para a vida toda. pois bem. as marcas que deixastes já fizeram sangrar dores tão profundas que nem as lágrimas puderam rolar. dores tão enlouquecedoras que beirei a insanidade e a morte para tentar fugir das lembranças.
hoje elas fazem parte de um conjunto de lacunas do tempo. sem espaço para novas lembranças daqueles tempos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

au revoir.

palavra simples. de entendimento direito. sem meias palavras. com desejo de lamber.
Ela estava no auge de seus 25 anos e com toda a alegria estampada na cara. terminara a faculdade e estava de malas prontas para fazer um curso fora do país. ficaria um ano fora. tudo estava pronto: as passagem, as malas, a casa que ficaria, os novos contatos. já tinha em mente um mapa da cidade e dos locais que teria de frequentar. os amigos se despediam aos poucos, com o coração em frangalhos, confessos. ela estava deixando 25 anos de história em um local onde tudo era seu. a casa, a família, os amigos, os amores. ela resolveu deixar as coisas em stand up para viver algo novo. o calendário já mostrava a aproximação dos dias e seu coração estava em completa euforia. tudo estava correndo bem. tudo estava dentro dos planos, dos prazos, dos acasos.
dona de um corpo de 1,70m e uma de pele clara, os cabelos curtos, que mostravam a tatuagem entre a nuca e as costas. não era magra e nem gorda. o corpo era perfeito. suas pernas eram longas e as coxas eram roliças. não ficava horas se arrumando ou maquiando. era dona de uma beleza singular, onde o desejo, a vaidade e a sensualidade se encontravam em uma sintonia perfeita, fazendo fugir qualquer tendência ou similaridades das mulheres. andava com um ritmo calmo, com os braços leves e com um ar encantador.
as últimas semanas em sua cidade fora dedicado aos seus amigos e a família. entre almoços e reuniões com parentes, as noites se rendiam aos encontros com os amigos em danceterias, bares e restaurante. refez toda sua agenda de contatos na expectativa de dizer tchau para todos. ou enviar um e-mail de despedida. abriu seu correio eletrônico e viu um e-mail. era de um caso passado. talvez, o caso que mais a levou ao acaso da vida. Ella era o nome. uma mulher com pouco mais de trinta anos, com a qual Ela ficou envolvida por alguns anos, envolta de uma paixão alucinante. e dizia:
"Ela, minha querida. sei que estás partindo para uma nova vida. um novo ciclo começará em sua vida e sei que ficarei em um passado distante, onde as lembranças não passam de papéis velhos na gaveta. gostaria de me encontrar com você para um abraço de adeus, um último papo desse ano. sei que nosso último encontro já se fora anos atrás, mas peço que tenhamos um último nesse ano. você está indo e quero me desculpar pelas vaidades minhas, onde sei que feri teus sentimentos e a nossa paixão. por favor, me responda."
leu novamente o e-mail sem saber o que fazer. acendeu um cigarro para deixar fluir os pensamentos. afinal. o que Ella queria agora, ao final de tudo o que já se passou? Ela procurara tanto por Ella, por seu amor. tentara de tudo para que o caso não fosse meramente um acaso. mas todas as suas tentativas foram em vão. fora apaixonado por essa mulher e chegou a beirar a loucura pelo seu descaso. Ella era dona de uma vaidade irritante. não era uma vaidade estética, mesmo sendo uma mulher muito bonita. mas era dona de um tesão único. um jeito de fazer o outro se envolver de forma excitante. Ela leu novamente o e-mail e resolveu responder:
"olá Ella. espero que esteja bem. meus dias estão com horários apertados, com os dias próximos da viagem. infelizmente, não poderei lhe encontrar, por ocasião de horários ou mesmo de vontade. se passaram anos desde a última vez que conversamos. acho que não há mais nada para dialogarmos. tudo ficou no passado, junto com as boas lembranças de nosso acaso. espero que fique bem. abraços, Ela".
Ela acendeu outro cigarro e sentiu que, agora, tudo estava perfeito para sua partida.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

se não fosse ela, eu não seria nada.

se não fosse ela, eu não seria nada. porque a conheço há anos. porque ela me conhece como mais ninguém. de todas as casualidades, todas as sentimentalidades, todos os casos e acasos. ela sabe de tudo e mais um pouco, porque não preciso de palavras para expressar o que tenho para falar. ela sabe o que sinto só de olhar para meus olhos. e eu sei o que ela sente também. porque são nossos olhos expressivos quando se encontram e são cúmplices de uma vida que cabe somente à nós.
se não fosse ela, eu não seria nada. porque todos os momentos da alma, todos os motivos dessa vida, todos os enredos desse samba carnavalesco, ela sabe cada ritmo. ela sabe quando sofro, quando amo, quando estou feliz e triste, quando meu dia foi incrível ou ruim. porque ela sabe de todas as confidências, todas as notas miúdas do meu rodapé. ela não julga, não faz cara feia. ela me empresta seus ouvidos e conselhos. ela se faz mais presente do que pode imaginar. ela está aqui, quando não está aqui.
se não fosse ela, eu não seria nada. porque ela dividi comigo a família e os filhos, a comida e o fogão, a risada e a lágrima, os segredos e as fofocas, as roupas e a beleza, a casa e o conforto. a casa dela é minha casa. posso entrar quando quiser, sem bater, sem anunciar. é só dizer "cheguei" e a porta é aberta. e lá está ela, na cozinha, e sempre sorri. nunca me deu um não sem necessidade. sempre me fora olhos, ouvidos, nariz, mãos, ombro, corpo. sempre esteve comigo quando precisei e não precisei.
se não fosse ela, eu não seria nada. ela é mediadora da minha vida. ela fora mediadora de meus conflitos familiares. ela esteve ao meu lado quando todos não me compreenderam, porque ela sabia, sem os outros saberem.
se não fosse ela, eu não seria nada. ela já me viu chorar mil vezes. já me ouviu repetir histórias com a paciência de um leitor de primeiro ouvido. ela sabe o que eu sonho. ela sabe quando ligo. ela sabe como me sinto. e eu sei como ela se sente. eu não preciso pedir permissão para ligar, para visitar, para dormir. ela sempre me acolhe com o calor mais puro do mundo e não liga se eu não ligar, mas eu ligo sempre. mesmo que seja para dizer olá.
se não fosse ela, eu não seria nada. porque é ela minha amiga, minha irmã, minha mãe, minha confidente, minha conselheira e guru. ela é minha vaidade. porque ela sempre será primeira a saber de tudo, porque dividi comigo de uma alegria que não se compra, não se vende, não se doa: se cultiva com amizade, carinho, amor e respeito.
Andréa, mesmo as minhas palavras sempre serão poucas para descrever tudo o que você é para minha pessoa e a construção do que sou. meus dias serão sempre mais felizes por ter-te como amiga e sempre, sempre ao meu lado. me alegro com o seu aniversário e tudo de bom que vem sendo feito até aqui. tua vida não é completa de alegria, mas as pedras no caminho te fizeram forte e fortaleceram nossa amizade. não importa a hora, o dia, o clima, o signo regente, eu sempre estarei aqui para atender qualquer chamado teu. por tudo o que já fizestes para minha pessoa, por tudo o que já aconteceu no decorrer desses anos e por todas as coisas que virão nos findos anos que iremos viver e compartilhar juntas. te amo muito e tenho por ti o mais puro e sincero amor fraterno. quero, para ti, alegrias nas horas certas e incertas. quero estimas de tudo que possa enriquecer essa vida, seja de coragem, de força, de garra. que nada te faça fraquejar e, se os joelhos não suportarem, que minha mão esteja perto para te levantar. que os dias sejam ricos de saúde, amor e carinho. que você nunca desconfie que essa vida foi em vão, porque não foi. porque você faz da minha vida mais completa, mais cheia de vida. porque meus dias com você é sempre dividido com alegria. porque, se não fosse você, eu não seria nada.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

balelas.

tirou o maço de cigarro do bolso, acendeu e deu um longo trago.
- você fuma?
- fumo.
- eu não sabia. nunca te vi fumar.
- talvez, por isso, você não soubesse.
- é, eu já fumei. mas resolvi parar. não quero que meus dentes fiquem amarelos.
- quem sabe, um dia, eu também pare de fumar. mas, pensar nisso agora, seria como pensar em suicídio. prefiro arriscar ficar com os dentes amarelos.
- já tentou fazer ioga?
- não.
- é, eu faço ioga. quando larguei o cigarro, comecei a fazer ioga para acalmar os nervos. não foi fácil. mas consegui.
- isso não seria como aquelas coisas de auto ajuda, né?!
- não.
- mas, se eu largar o cigarro, terei de ter algo em mãos para não as sentir vazias!
- você já tem algo nas mãos.
- tenho? o quê?
- eu.
- ...
***
- eu estava pensando em largar o cigarro quando escrever um livro.
- você quer escrever um livro?
- sim. por quê?
- ah, você tem cara daqueles escritores que fazem a gente se olhar no espelho depois de ler um capítulo.
- eu sempre achei que escritor tinha palavras e não cara.
- ah, deixe de besteira. é sério. você me lembra um pouco da nostálgia de Nelson Rodrigues.
- hum. o cara era bom mesmo. um pouco mais boêmio que eu, diria.
- sim. mas com uma paixão avassaladora daqueles que sentia Vinicius.
- não sabia que você entendia tanto de livros.
- eu já trabalhei numa livraria.
- massa. mas não sabia que você já havia me olhado assim. aliás, sempre achei que você nunca me via.
- eu sempre te vi. você que não me via.
- ...
***
- putz, acabou meu cigarro. preciso ir comprar.
- posso ir com você?
- para que? se você não fuma.
- grosso. só queria te fazer companhia.
- ok, não seja sentimentalista. vamos então.
***
- noite fria, né?
- é.
- quer dar um pulo em casa?
- acho melhor não.
- por que?
- tenho meus grilos de voltar para casa tarde da noite.
- isso não é problema. se ficar tarde e teus grilos aparecerem, você dorme em casa.
- mas tua casa é pequena. não tem espaço na sala.
- e quem disse que você irá dormir na sala?
- ...
- não se esconda com essa timidez. vamos logo.
***
- o apartamento está bem legal. mudou bastante da última vez que vim aqui.
- mudei bastante coisa sim. comprei umas, ganhei outras. estou dando minha personalidade para as paredes.
***
- quer um suco, uma água...
- tem vodka?
- tem.
***
- vamos para o quarto. lá tem tv, pelo menos. a sala ainda irá demorar para ficar pronta. me dediquei mais ao quarto, onde fico a maior parte do tempo quando estou em casa.
- mas a sala assim, vazia, está bem legal.
- é. eu fiquei com espaço para trazer os amigos. isso foi bom.
***
- pode sentar na cama. não tem problema não.
ele observa que existem algumas peças de roupas espalhadas no chão.
- ah, não esquenta com a bagunça. mas é a única forma que acho minhas coisas.
ele repara que existe uma calcinha embaixo do cobertor.
- senta. vou ligar a tv. quer assistir algo?
- não sou muito de ficar na frente da tv.
- entendi. mas vou ligar assim mesmo. pelo menos, ilumina o quarto. mas vou deixar no mudo, tudo bem.
- tudo.
ela se senta ao lado dele. os goles de vodka, assim como convém a tradição russa, já começam a elevar o calor do corpo. ela fala, ri e olha para ele, mas sua atenção está voltada para os lábios e os olhos que brilham cada vez que se abre e fecha. está como num transe alucinado, imaginando estar somente ali, sem que houvesse mais nada para entender ou ser entendido do mundo. ou do seu mundo.
- hei. você está me ouvindo?
- não.
- estou te entendiando?
- não.
- você quer alguma coisa?
- hum, acho que sim.
- o que?
- você.

domingo, 1 de agosto de 2010

essa gente.

essa gente sem dente que vive doente, com a mão calejada de tanto trabalhar.
esse povo sem graça, sem meio nem raça, que vive o dia inteiro a lamentar.
que chega em casa, depois do trabalho e liga a tv para a novela palpitar.
que deixa fiado a conta do mercado e no final do mês as dívidas pagar.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

entre a comédia e a tragédia.

assisti uma peça em um teatro na bela vista na noite de ontem onde um ator estreava no palco, com a montagem áudio visual que ilustrava as três crônicas contadas durante a peça. bom, eu odiei. mas odiei mesmo. denominada como peça de comédia, achei tudo rodeado de absurdos do texto: 1º porque o ator não faz muita coisa, senão utilizar de palavras de baixo calão o tempo todo. não que seja ruim palavras baixas em uma peça, mas ele só utilizou disso. usou a expressão corporal como artifício para ilustrar as barbaridades que disse. ah, e uma frase que fora repetida dezenas de vezes: "entre a comédia e a tragédia". e não satisfeito, fora dar exemplos: "o ser humano ri de tudo. ri da desgraça alheia. vamos citar o Haiti. aconteceu o terremoto e destruiu tudo. mas tudo já estava destruido. o que há lá? nada". eu entendo humor negro e adoro quando é bem feito. mas, existem algumas coisas que não há graça. eu não vejo graça na questão de que ainda existam milhares de pessoas mortas sobre os escombros daquele país. e, além disso, como a religião vodu é a predominante, a tradição é que não se abandone os mortos. então, existem pessoas que estão ao lado de escombros onde os seus estão. isso é graça?
o começo da peça, o ator A. R. gesticula, expõe um texto completo de ego e apelos desnecessários para que as pessoas aplaudam e dêem gargalhadas. eu não sou macaco de circo e muito menos marionete. não darei risada porque há outros fazendo o que o ator pede. e não sei bem se pede. mas ele acaba usando um tipo de assédio que inibe as pessoas a não expressar sua insatisfação. "vamos lá galera, todo mundo rindo". e lá vão os macacos de circo rirem.
acredito que, as pessoas ali sentadas, esperavam um ser que estivesse a frente de uma grande extrapolação da realidade. da realidade no sentido de você não sai na rua e, no auge do estresse, manda alguém aos findos do corpo. e isso era o que o ator fazia. despejava na platéia conotações verbais desse teor. mas era isso que os mesmos queriam e foi isso o que tiveram. "dêem ao povo os porcos". durante a uma hora e meia de peça, enquanto muitos viam a comédia, eu vi a tragédia entitulada de arte. não sei bem se, depois de tantos anos assistindo peças, comecei a ser mais seletiva em relação à tal. eu não quero engoliar aquilo, mas sim digerir cada fragmento e degustar de cada sabor ou desabor.
como a sétima arte, o teatro me emerge de um mundo cheio de fantasias e possibilidades ímpares. a peça de ontem não me apresentou em nada. somente uma irritabilidade profunda e imensa vontade de sair dali para fumar um cigarro.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

eu ficaria feliz se você morresse.

eu ficaria feliz se você morresse. mas, que fosse a morte como eu a vi, no dia em que estive no inferno, com um bilhete comprado por você. a morte que não é fria, mas não possui calor ou emoção alguma. não há lágrimas ou sentimentos com esse fim. apenas quem sabe sobre essa morte é quem já morreu, de alguma forma. não no sentido literal, levando ao pé da letra. eu não quero que você morra em matéria. quero que você morra em essência, como eu morri. eu morri por suas mãos. eu morri no dia em que te conheci. eu morri no dia em que senti que me apaixonaria por você. eu morri como aquele ser que outrora fora. agora, é a lembrança de outra vida que emerge no meio dessa confissão. você me apresentou a morte, como uma donzela vestida de vermelho no meio do salão. você me ensinou a dançar a valsa da dor, da solidão.
eu queria que você morresse tal como foi o último dia de minha vida e que fosse velada com as palavras "acabou". é, acabou. e eu não morri nesse dia. eu não morri quando você anunciou a barca para o inferno. eu estive lá e por lá fiquei por um tempo. mas de lá sai quando vi a face da morte que levou parte de quem era. você nunca saberá como o inferno foi acolhedor no dia em que lá estive, e de como me lembrei de ti também. para cada segundo daquele lugar, matei as lembranças que existiam dentro de meu ser. matei todos os beijos, todos os desejos, todas as declarações de amor que fiz. em nada desejei o mal para você. mas somente desejei que lá você estivesse, o quanto eu estive, e de lá você lembrasse os instantes que eu estive no inferno e lembrei de você.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sonic Youth - Superstar

Essa música faz parte da trilha sonora do filme "Juno"(2007), com as atrizes Ellen Page (MeninaMá.com) e Jennifer Garner (De repente 30), do diretor Jaison Reitman (Obrigada por fumar). O filme rendeu cerca de U$$ 231.411.584 em todo o mundo. No 80º Oscar -2008, ganhou o prêmio de Melhor roteiro original (Diablo Cody).

O filme é apaixonante. E a música também.

zélia.

essa mocinha de três meses, chegou dia 09 de julho
e já está tomando posse da casa e de nossas noites de sono.
ainda tímida, sempre que ouve um barulho, corre para debaixo da cama.
mas sempre volta para pedir carinho.
bem vinda zélia (gattai).

quarta-feira, 30 de junho de 2010

divagações.

primeira divagação do dia:
___
"o relógio toca. os corpos, ainda preguiçosos, se remexem na cama, como se procurassem tempo para divagar pensamentos. estão lá. dois corpos femininos que se acham no emaranhado de cobertores e lençóis. estão lá. no sublime amor que cumpre o dia de euforias".
___
para minha Evoé.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Antônia e o Santo Casamenteiro.

Antônia era moça do interior. nasceu, cresceu e se educou como antigamente. era moça de respeito e de boa família. passava os dias em casa com sua mãe ou estava sempre na paróquia da cidade ajudando o padre e as outras mulheres com os preparativos das festas. era moça zelosa, cuidava dos irmãos e dos sobrinhos. pois é, Antônia era tia de três meninos: Zeca, João e o Toninho. mais arteiros na cidade não tinha. mas ela era uma tia protetora. já eram tantos os curativos e remédios nos ralos da pele deles, que nem sabia mais quantos fizera.
Antônia era moça nova. não tinha mais que 20 anos e já pensava em casamento. naquela cidade, moça com 25 anos que não casou, já era cargo de titia. e isso era o que ela mais temia. era, de praxe, que todo começo do mês de junho, lá iria Antônia para a igreja com o Santo Antônio nas mãos, feito ouro. ajoelhava-se e rezava durante horas. sem contas as inúmeras promessas feitas, mas sem retorno do santo. os joelhos haviam feito cicatriz das tantas vezes que ali estivera, em fé ao santo, para um marido. e não era só à Santo Antônio que ela apelava, já tinha feito até promessa para Santo Expedito, chamado de santo das causas impossivéis. em seu quarto, ela construiu um pequeno oratório, onde os santos de missões mais dramáticas, encontravam-se em uma reunião de tantos santos. e ela conversava com todos, todos os dias. mas Santo Antônio era especial. tinha um mesmo nome que o dela, só mudava a vogal final. era devota daquele santo e não desistiria de seu pedido.
para a festa junina daquele ano, Antônia mandou fazer um vestido novo. de tecido leve e com renda nas bordas. colocou um sapato de salto baixo, porque queria dançar e mostrar seus dotes artisticos. penteou o cabelo e deixou os fios brilhantes e soltos ao vento. e dentro de sua bolsinha, Santo Antônia também iria. e lá se foi com a família para a praça matriz.
a festa reuniou toda a cidade e até moradores da cidade vizinha. era tios e tias, parentes que há tempos não via. começou a dançar com seus irmãos, depois com os primos, depois com os amigos dos primos. afinal, havia homens solteiros ali, mas será que algum pretendente para casar? dançou a noite inteira. bebou e comeu pouco. seu objetivo era ficar perto da pista, para dançar com a maior quantidade de homens que pudesse. um deles teria de se interessar por ela!
mas nada. já no final da noite, nenhum rapaz, além da dança, havia se aproximado dela. e sua aflição já crescia. ela tirava Santo Antônio da bolsa e vendava seus olhos, tirava a criança do colo, o colocava de ponta cabeça e até o ameaçou de descrença. e a festa seguia para o fim. os brinquedos da barraca de pesca já haviam sido pescados. o padre já estava sentado com as pernas esticada e com a boca aberta. as comadres encostavam-se de sono. e a noite chegava ao fim.
Antônia começava a ficar com tanta raiva que, em um segundo, tirou Santo Antônio e, dizendo-lhe injúrias, arremessou-o para trás de si, sem perceber que, aquele gesto de raiva, acertara alguém. quando ouviu o barulho, olhou para trás e viu que um homem caira no chão. correu em sua direção e, ajoelhando-se, pediu mil desculpas e começou a chorar de vergonha. o rapaz, ainda zonzo, levantou o corpo do chão e olhou para Antônia e para o Santo em suas mãos. perguntou porque ela arremessará o Santo e, ainda em prantos, explicou sobre sua aflição. o rapaz riu e disse que aquilo seria coincidência, porque a olhou durante toda a noite, mas não teve coragem de lhe dizer um olá.
Antônia sorriu e foi dançar a última música com o rapaz e ainda com Santo Antônio em mãos.
___
*imagem de mariana massarani.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

para um flor.

- sam, meu pai foi embora.
você me diz isso e o que digo é o silêncio. as palavras me fogem e o que sinto é uma imensa vontade de te abraçar e dizer "força amiga".
eu sei que não há nada que irá te confortar nessa hora, mas quero dizer que intuo força nessa caminhada que teu pai irá realizar. ele irá para o lado do desconhecido, onde a vida se resume a essência da alma, onde os mistérios são ditos, onde o tempo não é contado pelas horas, onde tudo é refletido.
flor, ele teve uma vida intensa e bem vivida. viajou para os lugares que quis, casou com uma mulher que amava e que o amou também. teve dois filhos e nunca deu limite para essa vida. ele te amava e se orgulhava de ti. sabia que a sua filha moleca era louca por futebol como ele, que não levava bronca para casa e que era por si, de uma personalidade fantástica. você é resultado dele. desbravadora de rumos, sem síntese. somente por completo.
agora o que ficará é a ausência. mas pense sempre na presença dele e que o mesmo estará contigo. você veio com a missão de continuar o lema de vida dele: viver e somente e tanto.
abraços e imensa força para continuar.
Sam.


ps: para Thaís Fincatti, companheira de tantas coisas.

sábado, 12 de junho de 2010

sexta-feira, 11 de junho de 2010

alguns jás - II

por Aislan Munin.
Já perdi um amor por medo de amar,
Já amei demais por medo de perder.
Já achei que amava, mas só dependia.
Já tive ciúmes, já reclamei de saudade.
Já confundi amor com amizade.
Já dormi muito tempo só.
Já passei noites acordado pensando em amor.
Já chorei demais,
Já quis demais.
Já me doei demais,
Já vi amores nascerem de paixões,
Já vi paixões acabarem com amores.
Vi a tristeza nos olhos de uns,
Via a beleza nos sorridos dos outros.
Já amei quem não deveria, quem não retribuia.
Já amei de muitas formas e cores.
Já me esqueci de muitas dessas dores.
Já pensei em sumir,
Já pensei em voltar e ficar.
Mas a única certeza que tenho hoje
É de que ainda tenho muito amor para amar.
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Aislan, grata por ser tão presente em meu cotidiano!
Meu abraço manda beijos de saudades!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

o ego de Lena.

ela já não era jovem. tinha mais de meio século de idade, três filhos grandes, um marido falecido e um ego maior que ela. sua estatura era mediana e a aparência de uma senhora moderna, sem jeito de avó. aliás, avó ela não era. seus filhos, apesar de grandes, não tinha filhos. assim, ela ainda vivia para mimá-los. nasceu em uma cidade de interior, daquelas pacatas, onde poderia se andar de bicicleta e conhecer a cidade em 20 minutos. era filha mais velha, de três moças, de um ferroviário e de uma costureira. fez o primário em escola de freira e saiu de casa quando alcançou a maioridade. casou-se pouco depois, com o pai de seus três filhos.
por mais que Lena parecesse de extrema confiança, havia algo no sorriso simpático que deixava alguns com o pé para fora. seu maior passatempo? falar mal dos outros ou inflamar seu ego. para tudo havia uma reclamação: se o motorista estacionava o carro errado, se o restaurante estava cheio, se fulana usava roupa que ela não aprovava, se a atendente da papelaria sentava à porta para tomar uma brecha de sol, se as pessoas liam dentro do ônibus... para tudo havia uma reclamação. ou sempre que conversava com alguém, gostava de contar algum detalhe de sua vida, mas sempre ressaltando que era diferente: sempre foi a mais inteligente das irmãs, sempre foi uma mãe despojada, uma vizinha atenciosa, uma funcionária exemplar, uma mulher culta.
o que Lena não percebia era como se tornara uma presença desagradável. a moça que trabalhava com ela, e que lhe fazia companhia durante o almoço, já não aguentava mais aquela ladainha. quando Lena olhava algo com mais atenção, a moça já percebia e direcionava o pensamento para outro lugar. talvez Lena não percebesse, mas era evidente que já não havia interesse algum.
numa tarde de agosto, enquanto voltava do almoço para o escritório, Lena observou uma moça caminhar em sua direção. a moça era de porte grande, no linguajar gentil "fofa". usava uma roupa justa ao corpo e deixava a marca de seus excessos transparecerem. quando Lena viu aquilo, fixou o olhar e sua língua afiada começou a resmungar. só que, com a atenção voltada para a moça que passara, ela não viu o carro que vinha, em alta velocidade, em sua direção.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

alguns jás.

eu amei entre um homem e mulheres.
declamei amores, em diferentes intensidades.
já disse "eu te amo" só para levar para a cama.
já tomei porre e porre de amor.
já trepei na rua, dentro do carro,
na casa de outras pessoas e com pessoas na sala.
já tomei alguns aditivos proibidos.
já pensei que estava grávida.
já pensei que não quero ter filhos.
já pensei em largar tudo e sair pelo mundo,
mas descobri que meu mundo é aqui.
hoje estou como estou.
e sei que amanhã será melhor.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

triste fim de um pim.

fim de maio e se perguntava o que havia acontecido com seu calendário. os seus dias se tornaram corredores de maratoras e só o que poderia fazer era sentar e olhar para aquele desperdício. numa esperou nada, não esperava nada e não esperaria nada mais do que era o nada de ontem. tudo se reduzira ao zero, ao ponto onde ela olhava para o relógio e contava os minutos para chegar em casa. e não era somente o calendário ou o relógio que já não experimiam conjuntura alguma com seu tempo bio-psico-moral. havia deixado os chinelos em algum canto e não mais os achou. talvez tenha deixado na casa de alguém ou o cão tenha feito festa de sua desatenção.
tudo já não passava de um efeito cômico da "obra divina" ou do marasmo do autor que escreveu essa vida. parece que esse enredo não enrola nem desenrola, mas que fica fazendo firulas sem sair do lugar. não se chega ao fim, mesmo porque não se deixou o ponto de largada. está lá. sentanda em uma mesa de madeira, com um olhar vago e o cigarro que queima sozinho. vivia disso. de espasmos de vida que insulavam os pulmões e faz o coração pulsar, no tempo de um arpoador.
o ápice de sua melancolia era vivida quando a porta do apartamento era aberta e o ranger do piso de madeira ecoava pelo lugar, denunciando que não havia ninguém mais lá, do que ela e sua solidão nostálgica. tudo era uno: cadeira, sofá, talher, copo, prato. tudo se reduzia em quantidade de um só objeto, na afirmação de que não haveria esperanças ou tentativa descompassadas de ampliação daquele lugar.

terça-feira, 25 de maio de 2010

pelas reticências.

cara, eu não estou aqui dizendo que te amo e que, provavelmente, você é o amor da minha vida. não estou te pedindo em casamento e nem sonhando com um vestido branco, igreja com a família e uma criança depois de nove meses. estou aqui, pura e simplesmente, para te dizer que o beijo que te dei, foi o maior fôlego que já senti. que os teus lábios, quando se juntaram aos meus, me ergueram para um céu que nunca fora descritos nos meus, teus e dos outros tantos poemas escritos nesse mundo. que o toque de suas mãos em minhas costas foi mais que fogo queimando em palha. que os olhos teus, quando cruzados com os meus, fizeram com que meu mundo se tornasse estático, onde somente havia caminho para os olhos teus.
não, não basta dizer para você isso. você se retrai, vive em um mundo abstrato, onde as palavras bem adocicadas são mais que diabetes (e quantas betes!). não, eu não quero só fazer amor com você. estou sentindo um puta tesão e, simplesmente transar, seria de bom grado. seria bem bacaninha passarmos uma noite juntos. você, eu, nossos corpos nus. nossa pele acalorando a outra pele, beijos e carícias para finalizar o ato. ok, isso seria mais que perfeito. mas já me contento com um pouco disso. quero te ver nu, com os pêlos expostos, com o sexo a mostra. quero te ver com os olhos arregalados quando me ver. quero sentir tua respiração quando meu corpo tocar o teu, quando meu beijo tocar tua nuca.
não sei se está tão difícil assim para você entender, mas já deu para sacar. gostas de mim como gosto de ti. mas tens medo dessa afinidade que brota de onde não sabemos. você tem medo de me ter, de me desejar intensamente e de me amar. é isso? se for isso querido, me diga que é um covarde e que não é merecedor da minha sede de afeição. diga que quando teu amigo falou que eu era bonita, você quis morrer por dentro, porque sentiu de um ciúme desconhecido e temido. diz, assume de uma vez e pronto.
para que toda essa frescura? apaga a luz e vem me beijar logo.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

olha pra mim e diz.

olha pra mim. olha pra mim e diz que me ama. olha pra mim e diz que eu não estou aqui de bandeira, de bobeira. diz que tudo irá valer a pena e que essa crise vai passar. diz que me ama e que tens marca no corpo que ainda são minhas. diz que essa distância está doendo e que não vê a hora de fazer amor comigo. diz que nunca fez amor com outra do jeito que faz comigo. aliás, diz que as outras foram apenas sexo e que amor é só comigo. diz que essas noites na mesma cama, mas com um mundo entre nós, está doendo. que o teu sexo solitário já não faz mais efeito. diz que, enquanto durmo, você olha meu corpo e me deseja. que tenta me tocar, mas fraqueja.
olha pra mim e diz que só poderei ser feliz ao teu lado e que sou tua e só tua. diz que a nossa casa, o nosso espaço, está calado, está sentido pela falta da felicidade que exalávamos. diz que ainda tenho tempo de te fazer feliz e que todos os dias ao meu lado, mesmo os não falados, são os teus melhores dias. diz que quando saio de casa pela manhã, você encosta a cabeça em meu travesseiro e tenta inalar o cheiro de meu cabelo. diz que meu copo dágua é o mesmo que o teu, na tentativa do contato de um beijo.
olha pra mim e diz que isso tudo não faz sentido. que somos duas crianças tolas brigando por atenção. diz que você não suporta imaginar que eu converse com outro ou que, mesmo em sonho, eu deite com outro. diz que esse teu ciúme te faz cego e não deixa você perceber o amor que tenho por você. diz que minhas peças íntimas são degustadas por tua boca na busca pelo gosto do meu sexo. diz que não há nada maior no mundo do que a saudade do meu abraço. diz que você me quer como tua namorada, tua mulher, tua amante, tua meretriz.
olha pra mim e diz que não há nada mais nesse mundo que você queira do que fazer amor comigo.

sábado, 8 de maio de 2010

segura minha vida.

e ela disse:

- segura minha vida, porque é a única coisa que tenho e que me tem valor. segura minha vida porque darei para ti o segredo de todos os caminhos que já percorri e todas as chaves para as trancas do corpo. segura minha vida porque dela podes fazer uso como bem entenderes. darei para ti, não somente a vida, mas todo o conjunto que acompanha esse sentido de ser. quero te dar minha alegria, meu amor, meu companheirismo, meu desejo. se guardares bem minha vida, de forma que não deslize pelos dedos, será tua por tempo não determinado e sem prazo de validade, mas sempre com garantia de existir. não estou pedindo que você segure minha vida porque tens o sorriso bonito ou os olhos de um preto profundo. quero que segures minha vida porque sei que cuidará dela como tens cuidado de meu amor. então, não há motivo para duvidar. segura minha vida e sejamos felizes.
***
foto por Samira Nagib.

domingo, 2 de maio de 2010

canção do exílio moderno.

minha terra tem arranha-céus,
onde o sol vive entrelaçado.
de tantas aves que aqui gorjearam,
restou somente poucas para cantar.
*
nosso céu é empalidecido pela fumaça dos carros,
nossos campos estão secos e há estiagem no sertão,
nossos bosques estão queimados,
pela ganância de outros irmãos.
*
em indignar, me pergunto todas as noites,
onde estará o Sabiá que gorjeara por cá?
minha terra já não tem estrada de terra,
onde o chão batido ainda se faz miragem.
*
minha terra tem morenas,
donas de enúmeros amores.
são netas dos negros escravos,
que desse pátria fizeram canção.
minha terra tem muitas histórias,
e nem sei por onde começar.
*
não quero partir dessa vida sem retornar,
para minha saudosa terra, que tanto amargo em saudade.
quero provar dos vislumbres e das graças que aquela gente
carrega em seu peito marcado pelo suor do trabalho.
sem que deixe de cair água de chuva
nessa terra seca pela dor e pelo cansaço.
***
ps: inspirado no poema "canção do exílio", de gonçalves dias.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

agora não Zé.

Zé, eu queria te dizer para não fazer isso agora. eu sei que as coisas estão complicadas e não é só para ti não. está tudo muito conturbado e não há nada que possamos fazer agora, a não ser esperar. você quer largar tudo e deixar as coisas para trás. mas não dá cara. não dá para desaparecer de um dia para o outro e esquecer o que somos e os que estão conosco. não tem como fugir. e seria demais covarde em fazer isso. você não é assim.

não Zé, eu não vou segurar a corda para ti e nem apertar o gatilho. sou seu amigo, mas quero que você persista e continue. e por mais que a maré esteja difícil e o barco esteja velho e furado, não pare de remar, logo mais você vai chegar na praia ou vão te achar. ou você se acha.

porra, lembra de todos os dias em que brincamos quando criança? lembra daquele dia em que a bola quebrou a vidraça do seu Elias e sabia que iria levar uma surra por conta disso? você assumiu a culpa e aguentou firme. e a vez, na escola, em que a diretora perguntou quem havia jogado o apagador da professora fora e eu assumi a bronca? cara, somos isso. um segura a mão do outro. não dá para você querer desistir. o que farei? quem estava ao meu lado quando a Malu entrou na igreja com aquele vestido lindo de noiva e eu quase chorei? você se aproximou e disse: "cara, aguenta. sua vida agora é outra. é ela". não esqueço disso. e quem estará comigo quando meu filho nascer em alguns meses? não dá para ficar sem você.

Zé, me diz o que posso fazer por você. segura minha mão e não olha para baixo. sai desse beiral porque tenho vertigem. e você também tem. se olhar para baixo, nem vai dar tempo de te segurar. desce dai cara. vem para cá e vamos tomar uma cerveja na casa do João. nossa, grande brother nosso, né?! já passou poucas e boas conosco. lembra do dia em que ele transou com a Marina e veio até minha casa para contar para nós? e rimos tanto dele porque minha mãe estava atrás da porta ouvindo. lembra do dia em que fumamos um baseado e ficamos tão chapados, que mal conseguimos voltar para casa. se não fosse a ajuda do João... é isso cara, olha quantas pessoas você tem ao lado e que te amam. não dá para virar e falar que não quer mais saber. não é assim.

Zé, o que aconteceu? ontem você estava tão bem e hoje pensando em morrer? ela te ligou? e o que aconteceu? ah, não me diga que você está pensando em fazer isso só porque ela disse que não quer mais levar esse lance de vocês adiante? poxa cara, quantas mulheres eu já te vi ficar e por quantas você declarou amor e depois dava um pé? não me venha com essa de que ela era a mulher da tua vida. e o que foi a Bene, a Drica, a Nanda, ... , o que todas foram? Não foram o amor da tua vida? ela não é a primeira e muito menos será a última. vamos embora porque de amor ninguém morre. mas não dá mais para ficar aqui te bajulando.

você quer pular? então pula. pula agora porque eu quero ver. eu quero ser aquele que viu o melhor amigo pular do prédio porque a namorada o deixou. vai, pula. estamos no 30º andar e é certeza que do chão você não passa e será fatal. ué, não era você que queria pular? vai, pula.

não, eu não estou duvidando de que você não tem coragem para pular. mas eu nunca tive um amigo que tenha se jogado e quero lembrar disso depois. e contar para os meus filhos que meu melhor amigo se jogou e eu estava lá para ver. será que eles gostarão disso? tenho certeza de que perguntarão: "pai, mas você não foi ajudar ele? não tentou fazê-lo descer?". e o que direi? direi que fui fraco por não fazer meu amigo ver como a vida é maravilhosa ou por não saber como conversar com ele naquela hora? é isso que você quer? então, vá duma vez. pula logo.

agora que você parou com essa frescura, podemos ir tomar uma cerveja?

domingo, 11 de abril de 2010

amor non improbatur*

apego. palavra que evoca a sentimentalidade da posse, do MEU, do que me pertence, do que se manifesta em minhas mãos. o inverso desse sentido de possessão é o desapego, que traduz a liberdade de deixar que as coisas se vão, sem que haja grande problemática ou confronto de interesses diversos.
o término de um relacionamento pode ser de maior tranquilidade para um. mas, quando o outro ainda insiste em algo que já não há mais clamor e permanece em um vínculo visto somente por ele, cria-se um desasossego. pensar no outro, mesmo estando longe, é normal. e diria que até saudável. mas, quando você vive ou depende dessa memória, se torna um entrave para os dias futuros, onde nada será decidido por conta da lembrança enraizada. é complicado chegar a tomar a decisão de que um afeto chegou aos seus dias finais mas, o tempo é o melhor remédio para as dores do coração. precisamos de um tempo para nós. tirar o pó dos móveis, dar um jeito na casa (corpo) e pensar sobre as plantas que irão brotar amanhã. ficar pensando nas folhas que cairam do vaso ontem, não ajudará em nada. ficará somente o amargo gosto na boca. é melhor preparar o vaso para as novas flores que irão nascer.
chorar não irá ajudar em muita coisa. alivia os olhos, mas deixa uma secura na face que causa ardor. mas cada lágrima compõe a maturidade desses sentimentos. os amores passados são amores passados, deixados em uma caixinha no quarto.
afeto. essas são as coisas. as pessoas possuem afetos e se pegam pensando se doam ou não. porque você ama porque ama. e não precisa ser amado de volta. ter esse sentimento completa tudo.
não devemos arriscar dias felizes porque estamos presas ao passado.
*não se desaprova o amor. - Sto Agostinho.

domingo, 4 de abril de 2010

novos ares.

ela se pega fazendo coisas que nunca havia pensado em fazer ou praguejava atitudes muito demodés. agora, vivia envolta em fotos no celular, pasta na caixa de e-mails, papo com os amigos, modos de pensar que achava ser de uma moral que abominava. agora, está imersa em um ciclo de ações que a deixa extasiada com um tipo de felicidade uno.
parecia diferente, aliás, 'essa moça tá diferente'. não queria arriscar tudo o que estava construindo. não deixaria desmoronar como um castelo de peças de Lego da infância já longíqua. estava madura, mais séria, mais comprometida, mas não perdia seu jeito de moleca. se perguntava porque não havia acontecido algo parecido antes. talvez, tudo tivesse seu tempo mesmo. queria gritar ao mundo que isso é possível e que é só se deixar levar pelo enredo do carnaval.
queria dizer aos amores livres que uma hora o amor é livre mesmo. livre de uma demagogia barata, onde o EU é mais forte que o NÓS. não que isso fosse ruim, mas descobriu que existe uma forma de não estar só em meio a multidão. poderia ser mais forte. mais completa.
gritar? descobria que não era preciso. mas deixar em silêncio é inútil. para que serve a sentimentalidade se é guardada do mundo? preferia agora, da forma discreta, onde o ESTAR FELIZ se encontra explícito nos olhos, a janela da alma. deixaria que os pássaros voassem em uma imensidão de sentidos e teria a certeza que tudo estaria bem no final. porque tudo acaba bem, quando tudo está bem.
claro que sabia que o caminho nem sempre é de gramas verdes, mas prepara os pés para caminhar, em que chão for. sempre com os pés no chão, mas com os sentidos livres para sorrir.

segunda-feira, 29 de março de 2010

se...

se for para sofrer, que seja de cócegas. que te tire o ar e faça meus ouvidos se encherem de sua sonoridade e que encha meus olhos com os brilhos dos teus olhos.
se for para odiar, que odeie a saudade quando estamos longe e a fome de beijar; que se sacie todas as gulas carnais e físicas por nossa companhia.
se for para temer que seja a hora da partida, da despedida. quando os dias são contados pelo relógio e o sol brilha em nossos caminhos que só se encontram ao entardecer.
se for para cegar, que seja de prazer. enquanto faço amor contigo, que meus olhos sejam cegados pela líbido e que tua face seja a primeira imagem a ver quando abrir os olhos.
se for para sentir frio que seja na ausência de outro (meu) corpo em sua cama. quando a noite não estiver ao teu lado, que meu espaço não seja tomado por outra e que mantenha o calor do meu corpo.
se for para tolerar, que seja o tempo. quando o atraso for maior ou o tempo for mais longo até a chegada do beijo. e quando for para esperar, que seja recompensando com calor.
se for para amar que sejam todos os dias ao teu lado; todas as noites em tua cama; todos os beijos dados e roubados, discretos ou explícitos; todos os cheiros exalados do corpo, do sexo, dos cabelos; todo o gosto de teus lábios, língua e teu céu sem estrelas.
se for para permanecer, que seja ao teu lado.

domingo, 28 de março de 2010

no palco.

não me leve a mal, mas os dias passados foram deixados de lado muito tempo antes do que já se imaginava. sem lamúrias, lástimas ou dúvidas sobre o futuro, os caminhos da vida se formam com nossas decisões do agora. eu tomei a minha decisão e sigo firme com ela. com o passar dos dias, se apresenta mais forte e não há indagações sobre o que fiz poderia ter sido errado. foi o meu certo. o meu.
claro que sinto por ter uma outra pessoa na história. mas acabamos encenando os personagens que queremos. eu vesti meu figurino, encenei minhas falas e fiz as lógicas corpóreas. recebi flores, aplausos, lágrimas, me emocionei. mas quando meu personagem sai de cena, ele deixa um pensamento de que cumpriu o que veio fazer. não deixou nada para trás e não esqueceu uma só fala. mas seu texto acabou e era hora deixar o palco para outros personagens. não adiantaria permanecer ali, estático, como enfeite. era necessário deixar o palco ainda no clamor do público que me adorava.
isso é a vida. é saber quando entrar em palco no momento exato e quando sair dele também. é saber deixar seu personagem com um gosto de quero mais para o público e, esses sabendo que não haverá mais apresentação, irão guardar os melhores momentos na memória. isso é a vida. é saber aproveitar o palco enquanto é teu, porque isso acaba.

quinta-feira, 25 de março de 2010

peça que fique e ficarei.

ela diz para que eu fique e é impossível negar o convite. ela me olha nos olhos e diz que eu poderia ficar. de forma astuta me convence a permanecer. e fico entre seus braços, aconchegadas no descanso da noite. em sua boca, encontro a fonte para saciar os infindáveis desejos que antes pensava ser utópia. ela ri de forma larga e toma posse da sonoridade de meus ouvidos. faz de meus olhos folia e entre mil firulas, diz que me adora e posso sentir o gosto doce desse sentido.
acorda com o toque cómico do celular e deixa com que eu permaneça preguiçosa ainda embaixo do edredom. quando sai do banho, debruça-se sobre a cama e diz: "bom dia delícia". e só posso sorrir e agradecer por esse dia.

segunda-feira, 22 de março de 2010

coisa chamada tcc.

pois bem. esse será meu primeiro polst que não haverá poemas, contos ou facetas. digo que terá desespero, antecipação e medo do fracasso. terá minhas lástimas, minhas perdições, meus perigos, meus restritos. e não será o único! sei que virão dias onde o blog será o meu maior vínculo com a sanidade ou com a elucidação de problemas que estão tão explícitos, que minha cegueira inibe essa manifestação.
estamos no terceiro mês de 2010 ou, de uma forma simbólica, no meu último ano de faculdade. me graduo no final do ano, com possibilidade de apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (ou vulgo mais usado TCC) e serei uma antropóloga. mas, até lá, terei de galgar esses próximos meses com minha pesquisa, com provas, leituras diárias, trabalho durante a semana e sem contar com o trabalho de fim de semana. e assim é minha agenda. quando irei parar para respirar? talvez ano que vem. talvez, ano que vem.
como grande parte dos meus colegas, que também se encontram quase em beira de desespero, estou confusa sobre como pesquisar o meu objeto. até sei o que quero estudar, mas elaborar a pergunta da pesquisa sem colocar afirmações ou hipóteses é mais complicado do que imaginei. e minha orientadora que está na Bolívia... ai ai. como ela faz falta aqui! mas não posso ser egoísta. lá está ela, terminando sua pesquisa do doutorado. e que tudo esteja dando certo, porque ela é incrível e sei que escolhi a melhor para me orientar. ela lá e eu cá. tentando me virar da forma que posso, da melhor forma que intuo e com a ajuda de alguns mestres e com a paciência de amigos.
oh, grandes amigos. o que seria de minha vida sem vocês?
ps: acho que vou precisar fazer terapia...

sexta-feira, 19 de março de 2010

minha mãe.

ela me gestou durante 09 meses, suportando o peso em sua barriga sem nunca reclamar e, quando me viu pela primeira vez, me recebeu com um largo sorriso e o calor de seu abraço.
me embalou em seus braços enquanto chorei, dizendo ao meu ouvido que nada poderia me assustar e que iria sempre me proteger. sabia o que eu queria só em abrir a boca e expandir a sonoridade do meu choro. fora as tantas vezes em que ela expôs minhas nádegas e, de certo, achava graça nas fraldas trocadas.
ela passou noites em claro comigo quando tive febre. ela cantou e suavizou meu sono por vezes infinitas. me disse para ser sempre forte e ter coragem para fazer o que gostasse e que fosse por vias serenas, eu poderia ser o que eu quisesse.
chorou quando chorei e riu quando ri. me deu a mão tantas vezes que cai e fez com que me erguesse para aprender que a vida é assim. me ensinou, desde pequena, que eu deveria tomar conta de minha própria pessoa, sem mimos de ninguém. sempre foi meu exemplo de independência, força, sabedoria, calma e amor. mesmo em dias onde seus olhos eram tomados pela ira e eu corria para não sentir o peso de sua mão, sabia que ela fazia o que era certo. afinal, ela é mãe e mãe é mãe e sempre está com a razão.
sou o que sou graças a ela. e agradeço por ter genes dessa pessoa incrível.

ela possui os braços mais quentes, a pele mais cheirosa, a face mais doce e as palavras mais perfeitas para o meu dia. ela faz com que eu seja a princesa de um castelo que nunca vi, de uma terra que nunca ouvi falar.

terça-feira, 16 de março de 2010

diálogo II.

olha para o vapor que sai da xícara de café pousada na mesa.

- nada mais pode ser perfeito como antes e, se fosse perfeito, não teria tido seu fim. talvez, tenha sido perfeito enquanto durou. mas tudo tem o dia do fim. tudo tem sua cota de existir.

- você deixou de me amar... quando isso aconteceu?

- eu não sei te dizer se deixei de te amar ou se cultivei um sentimento mais fraterno do que de amor-amante. só sei que, no dia em que percebi que já não sentia a mesma coisa, achei melhor colocar um ponto final nisso.

- eu te amo e sei que meu amor supri por nós.

- mas não posso permanecer com você enquanto faço amor com outra. você tem de entender que o que estou fazendo pode ser o melhor, por ora. e acredito que assim o seja. podemos continuar nos falando para saber como andam as coisas.

- eu não quero. se você não quer continuar comigo, não quero mais ver tua cara. como você pode me dizer que está fazendo amor com outra mulher?!

- estou. sempre lhe disse que daria minha sinceridade e não minha fidelidade. e a última vez em que dormi contigo, estava pensando nela.

- como você pode fazer isso comigo? e tudo o que vivemos? e os dias em que te fiz feliz? não significou nada?

- não seja tola. significou muito sim. minha gratidão será eterna pelos dias em que passamos, mas isso acabou. veja o passado como algo simples e não tentem complicar as coisas.

- eu não estou complicando as coisas. você simplesmente está me dizendo que está fazendo amor com outra mulher. como posso levar isso numa boa? dois meses atrás, você dizia que me amava e que queria passar anos da sua vida comigo. fizemos planos, compramos coisas para a casa... agora você me diz que não quer mais.

- eu lamento fazer você sofrer para ser feliz. mas não posso ser responsável pelo sentimento de alguém. eu preciso fazer isso, terminar com você, para continuar minha vida.

- eu sou um empecilho para você?

- não.

- então, por quê tem que terminar comigo para seguir sua vida?

- porque já não te amo mais.