Intuo muita luz e força para todos!
Abraços calorosos!!!
nunca gostou de sentir aquela sensação. parece que o chão lhe faltava, que o corpo cairia sem eira ou beira, que a cabeça giraria feito roda gigante em parque de diversão. seu corpo não tremia, mas parecia que iria ceder como um prédio em demolição. seus olhos lhe enganavam sobre aquilo que via e seus sentidos agiam conforme posição de defesa. queria seguir adiante, mas algo lhe impedia de dar o próximo passo ou virar-se para o lado. estava estática, sem movimento que lhe tirasse daquele lugar. esperava por alguém conhecido para lhe salvar daquela sensação, mas todos passavam despercebido e se faziam cegos sobre seu mal estar.
-> foto by Sam.
Para você que pagou os impostos, não atrasou um dia só seu carnê das Casas Bahia, pagou o dízimo da sua Igreja, a escola dos seus filhos, o aluguel da casa, o IPVA do carro e o seguro, fez sua inscrição na Nota Fiscal Paulista, colocou crédito ainda esse mês no bilhete único por conta do aumento do próximo ano. Você que obedeceu as leis e ainda levou alguma multa, quero lhe desejar um feliz natal! Que seu pernil não tenha sido tão caro e que ninguém vomite no seu tapete! Que as crianças não quebrem a árvore de natal antes da meia noite e que sua avó não fique recolhendo os papéis de embrulho para reaproveitar!
as palavras ficaram presas, de forma sufocante, na garganta que antes era caminho de uma ânsia por seus beijos. você se foi e só pude dizer “vai com luz nessa caminhada. espero que seja feliz independente de quem esteja ao seu lado”. o café esfriou. o tempo passou. tudo ficou sem cor.
acordou com a maior enxaqueca que poderia ter após uma noite em festa. não tinha ideia de quanto havia bebido, só lembrava que sempre estava com um copo na mão e dos risos que era estampado na face.
no dia em que ele adentrou o expediente, e ela o vira pela primeira vez, sentiu seu corpo tremer por aquele outro corpo de um tom de pele moreno claro, olhos verdes, sorriso gracioso e jeito "Jece Valadão" de ser. usava sapatos pretos, calça azul marinho e uma camisa branca, de manda curta, com os três primeiros botões abertos, deixando a penugem do peito florar para fora daquela camisa. no instante que vira aquele corpo, sabia que teria de ter um pedaço, instante ou prazer dele.
já perdera a noção de quantas vezes havia tirado aquele gancho do telefone e discado os primeiros números... eram números conhecidos de anos, que nunca conseguiu esquecer. por vezes, sem querer mesmo, discava aqueles números e só depois do primeiro toque, se dava conta de que estava equivocada.
pousou o telefone na mesa novamente. acendeu um cigarro e começou a andar pelo apartamento. de um lado para o outro, deixando o tapete fora de lugar, enquanto deixava seus pensamentos correrem sobre aquela ligação. "alô, oi, sou eu. liguei pra saber como você está. é que sonhei contigo ontem a noite e dizem que quando você sonha com alguém, é sinal de que a pessoa está querendo falar contigo...". putz, se eu disser isso, vou ouvir uma risada amarga. melhor não. melhor não dizer nada. e se eu ligar e só ouvir a voz? ou se colocar uma música de fundo, aquela música que logo irá sacar que sou eu, mas sem dizer que sou eu? mas e se tiver bina no telefone? logo vai saber que sou eu...
o medo poderia ser maior do que a saudade de escutar aquela voz. tinha receio de receber chacóta ou apenas educação, sem alegria alguma. pensou em mandar um e-mail, mas sabia que demoraria para ser respondido e que seria tão ríspido, que nem arriscava. pensou em comprar um cd´s no aniversário e deixar na portaria do prédio, mas imaginou que não receberia nem um telefonema de agradecimento pela lembrança. acabou resolvendo não mandar nada. apenas lembrou da data.
sentou no sofá, com o telefone na mão. acendeu outro cigarro, tentando manter a tranquilidade e torcendo para a voz não lhe falhar naquele momento. pensou sobre a ligação. mas e se eu ligar e não tiver nada mais do que "estou bem obrigada e espero que você também. tchau." certamente morreria de vergonha. mas vergonha consigo mesma, por ter ligado e recebido isso. ficou imaginando o mal estar que seria caso encontrasse na rua. seria aquele sorriso sem graça, que tem gosto de coisa morna, e cabeça baixa, com os pés acelerados, a fim de não ter uma conversa. essa imagem fez pensar nas vezes que se encontraram sem querer. quando os rostos foram virados para não se entreolharem. até quando seria assim? e por quê seria assim? haveria um contrato social pré-concebido dizendo que ex-amantes não devem se falar mais? que devem evitar qualquer contato visual? ficou pensando nisso enquanto o gato brincava com as pontas do tapete levantado. olhou para o gato e viu a mandala desenhada em suas costas. o felino lhe era a melhor companhia para aquela dúvida.
depois de três lambidas do gato, pensou em por quê ligar. quis lembrar quando foi a última conversa e sobre o que prosearam. nesse instante, onde quase perdeu a sanidade, pensou em qual o motivo maior desse seu passo. ou por quê esse passo deveria ser seu. hesitou. respirou. acendeu outro cigarro. pegou o telefone e discou... "alô, Malu? sou eu! tô meio de bode aqui em casa e queria sair um pouco. bora?". se levantou e foi se arrumar para sair.
resolveu que ligar seria rebaixar o orgulho que, por mais desumano que seja esse sentimento, ele acabara de lhe tornar mais humana...
resolveu mandar para o inferno aquele número, juntamente com quem diria alô.
Acontece até 11 de julho, no espaço da OCA, no parque do Ibirapuera, a exposição "Mulheres do Planeta".Realizado pelo do artista francês Titouan Lamazou que, durante sete anos, viajou por 40 países fotografando,entrevistando, pintando e ouvindo sobre a vida de mais de 200 mulheres, que resultou na exposição.Futuramente será lançado um dvd e um livro contando as histórias de vida dessas mulheres.
já ouvimos por certo que, o amor, é o caminho da racionalidade emocional (se é que emoção possui razão). que o amor tudo supera, que o amor tudo conforta, que o amor tudo recupera. besteira. não acredito nisso. como Vinicius diria: "a vida é a arte do encontro mesmo que exista tanto desencontro". acho que a vida é feita de encontros furtivos, entre pessoas que estão interessadas em paixões e só.
cabeça que pensa.